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A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar romance Capítulo 57

Isabella Fernandes

Fechei a porta do quarto com pressa, quase tropeçando nos próprios pés.

Meus dedos tremiam ao girar a chave na fechadura, como se o simples som do trinco pudesse proteger meu coração de explodir. Encostei a testa na madeira fria por alguns segundos, tentando puxar o ar que parecia não chegar. A respiração estava falha, entrecortada, como se eu tivesse acabado de correr quilômetros, quando na verdade estava dessa maneira por causa do que tinha acabado de acontecer agora pouco.

Os olhos estavam marejados, cheios de lágrimas que queimavam por trás das pálpebras, e o peito… o peito parecia pegar fogo. Como se alguém tivesse riscado um fósforo bem no meio do meu coração e depois deixado as brasas consumirem o resto de mim.

Eu estava trêmula.

Por dentro e por fora. Era assim que ele me fazia sentir. Era isso que Lorenzo causava: um terremoto calado, um furacão onde tudo era confuso demais para entender, forte demais para controlar.

Afastei o corpo da porta com dificuldade, como se meus ossos tivessem perdido a rigidez. E, então, com um suspiro sufocado, escorreguei até o chão. As costas deslizaram pela madeira até que estivesse sentada ali, no escuro do quarto, com as pernas dobradas e os braços envolvendo os joelhos como uma criança assustada.

O silêncio da casa parecia absoluto, denso, pesado… mas dentro de mim, o caos ruía. Um caos quente, desorganizado, furioso. Eu queria gritar. Gritar até que ele ouvisse. Até que alguma parte dele me escutasse. Mas nem minha voz parecia obedecer. Estava muda. Bloqueada pela confusão que havia crescido dentro de mim.

Como tudo saiu do controle tão rápido?

Como ele podia ser tão cruel… e ao mesmo tempo tão humano?

Lorenzo era feito de sombras e calor. Era frio nas palavras e ardente nos gestos. Era silêncio carregado de significados e presença que incendiava o ar ao redor. E isso me matava. Me consumia de um jeito que eu nunca tinha sentido antes.

As costas ainda ardiam com o calor do toque dele. O ombro nu por onde seus lábios passaram estava sensível, latejante, como se a memória do toque tivesse se gravado em minha pele. Cada respiração minha fazia o lugar formigar. E o braço por onde ele me segurou, firme, desesperado, como se precisasse de mim mais do que do próprio ar, parecia queimar, mesmo agora, muito tempo depois.

Levei os dedos até lá, inconscientemente. Toquei onde ele me tocou. Onde me puxou. Como se tentasse descobrir se aquilo foi mesmo real ou só mais uma ilusão criada pela minha carência. Mas foi real. Deus, foi tão real que o corpo lembrava mais do que a mente conseguia processar.

Fechei os olhos com força. Como se isso fosse suficiente para apagar o que eu tinha visto.

O rosto dele tão perto do meu. A respiração quente que tocou minha pele. Os olhos dele… meu Deus, os olhos dele, azuis, dilacerados, quase suplicantes e ao mesmo tempo com tanta raiva. Raiva de mim, raiva de si mesmo. Raiva por não conseguir me afastar.

E o desejo… aquele maldito desejo.

Eu vi. Eu senti.

Me perdi naquele homem de olhos tristes, de ombros pesados, de silêncio cheio de dor. Me perdi naquela voz grave que dizia que não precisava de ninguém, mas cujos olhos suplicavam por alguém que ficasse.

E era tarde demais para voltar atrás.

A madrugada se estendia como um véu sobre o mundo. O relógio no criado-mudo marcava 3h12. E eu estava ali. Acordada. Quebrada. Queimando de amor, de raiva, de desejo, de tudo ao mesmo tempo.

Deitada na cama de um quarto que não era meu. Em uma casa que não me pertencia. Amando um homem que não queria ser amado.

E mesmo assim, mesmo depois de tudo… Eu sabia que, se ele me tocasse de novo, eu cairia.

Com os olhos fechados, eu ainda podia sentir os lábios dele no meu ombro. E me odiava por desejar que ele voltasse e fizesse aquilo outra vez.

Mas mais do que isso, me odiava por saber que, mesmo que ele nunca voltasse… eu já não era mais só minha.

Eu era dele. E isso… doía mais do que qualquer ausência.

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