Entrar Via

A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar romance Capítulo 61

O céu daquele sábado era de um azul límpido, com nuvens finas e brancas desenhando caminhos no alto, como se a própria natureza resolvesse suavizar o caos de dentro com serenidade por fora.

Aurora pulava entre as folhas secas espalhadas pelo chão do parque. A cada passo, ria alto, encantada com os tons amarelos e alaranjados que caíam das árvores e dançavam no vento. Isabella caminhava logo atrás, com um sorriso tranquilo no rosto. Estava com os cabelos soltos, presos apenas por uma presilha discreta atrás da cabeça. O vestido branco de algodão balançava leve ao redor das pernas, e seus olhos acompanhavam cada movimento da menina como quem vigia um pequeno tesouro.

Era uma manhã comum. Mas tudo, em Isabella, transbordava delicadeza, o andar sereno, o jeito de ajeitar o cabelo de Aurora, o modo como abaixava para falar com ela. A suavidade de alguém que, mesmo carregando um mundo nos ombros, escolhia continuar leve.

Ela não sabia, mas estava sendo observada.

De longe, Lorenzo Velardi permanecia parado sob a sombra de uma figueira, com as mãos nos bolsos da calça escura. Vestia uma camisa de linho azul-marinho, os punhos dobrados até o antebraço, e os cabelos ainda úmidos de manhã.

Tinha dito que iria encontrá-las no parque, mas chegará bem antes da hora marcada. Não para fazer surpresa. Para se preparar. Para tentar entender, ou controlar, o que estava acontecendo dentro dele.

Mas bastou vê-la, mesmo de longe, para tudo ruir novamente.

Ela estava ali. Simples, linda, inalcançável. E ainda assim… próxima demais.

Aurora correu até o escorregador e pediu ajuda. Isabella se abaixou, amarrando o tênis da menina. O gesto, que deveria ser comum, aos olhos de Lorenzo, parecia parte de uma cena que ele não merecia. Porque, por mais que se recusasse a admitir, havia algo perigoso naquela imagem: uma mulher e uma criança, juntas, sob a luz suave do outono. Como se formassem uma pequena família.

E esse era o problema. Não eram.

Ela era só a babá. Só a babá. E repetir isso internamente parecia apenas acentuar o quanto aquela frase não era mais suficiente.

Aurora notou o pai e gritou:

— Papai!

Correu até ele com os braços abertos. Lorenzo a ergueu no colo com facilidade, sentindo o cheiro doce do cabelo da filha. Beijou seu rosto com ternura, mas os olhos… estavam fixos na mulher que agora se aproximava devagar.

Isabella caminhava até eles com um sorriso tímido nos lábios. O vestido balançava com a brisa, e seus olhos procuraram os dele, hesitantes. Lorenzo, no entanto, desviou o olhar assim que ela chegou.

— Não pensei que viria tão cedo — ela disse com suavidade.

— Tive um tempo livre — respondeu, seco.

— Quer sentar conosco?

Ele hesitou por um instante, mas acabou assentindo. Foram até um dos bancos de madeira próximos às árvores e se sentaram lado a lado. Aurora correu de volta aos brinquedos.

Isabella ajeitou a barra do vestido sobre as pernas. Ficou com as mãos sobre o colo, olhando para o parque, para as outras crianças, evitando fixar os olhos nele. Mas o silêncio entre eles dizia tanto… e talvez fosse esse o problema. As palavras que não diziam ecoavam mais alto do que qualquer conversa.

— Como ela está? — ele perguntou, enfim, referindo-se à filha.

— Bem. Está mais tranquila. Mais sorridente.

— Ótimo.

Mais silêncio.

Isabella virou o rosto devagar, encarando-o por um instante. Ele estava com o maxilar tenso, os olhos fixos em um ponto qualquer no chão. Ela não disse nada. Mas Lorenzo sentiu o peso daquele olhar. Um olhar que dizia que ela percebia. Que sabia. Que sentia.

— Ela gosta de vir aqui — Isabella murmurou. — Diz que é o lugar onde o mundo é bonito.

Lorenzo apenas assentiu com um leve movimento de cabeça. Mas algo dentro dele se apertou.

Porque havia beleza ali. E isso o assustava.

Capítulo 61 - Sob a Luz do Outono 1

Capítulo 61 - Sob a Luz do Outono 2

Capítulo 61 - Sob a Luz do Outono 3

Verify captcha to read the content.VERIFYCAPTCHA_LABEL

Histórico de leitura

No history.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar