A volta para casa foi feita sob um silêncio espesso.
Aurora dormia no banco de trás, a cabeça levemente caída para o lado, os cabelos loiros emoldurando o rostinho sereno. A menina sorria até mesmo dormindo, e aquele pequeno gesto bastava para encher Isabella de uma ternura imensa… e, ao mesmo tempo, de uma angústia que não conseguia explicar.
Lorenzo dirigia em silêncio.
O maxilar travado, os olhos fixos na estrada. Não havia sequer um resquício da expressão que ele usava com a filha. Era como se uma muralha tivesse se erguido entre ele e o resto do mundo e Isabella estava do outro lado, tentando entender o que havia feito para ser mantida fora.
Naquela noite, ao chegar, Lorenzo apenas carregou a filha no colo até o quarto. Depositou-a com cuidado sobre a cama, cobriu-a com um cobertor leve e saiu sem sequer olhar para trás. Passou por Isabella no corredor, e tudo o que ela recebeu foi o barulho das passadas firmes dele escada acima.
Ela ficou parada ali por alguns segundos. Um nó se formava na garganta. Não havia motivo concreto, nenhuma palavra dura, mas o afastamento falava alto o suficiente para machucar. E doía. Mais do que deveria.
Você precisa parar com isso, sussurrou para si mesma ao entrar no quarto. Ele é seu patrão. Ele está sofrendo. Você é só a babá…
Mas as palavras soavam ocas. Como frases repetidas por obrigação, não por convicção.
✦ ✦ ✦
A manhã seguinte amanheceu com o perfume fresco das flores recém-abertas.
Isabella, já desperta antes do sol, havia optado por não permanecer na cama. O sono fora leve, fragmentado, cheio de imagens confusas e da voz de Aurora sussurrando o nome da mãe no sonho. Precisava de ar.
Vestiu um vestido lilás simples, prendeu os cabelos em uma trança solta e calçou sandálias leves antes de sair rumo ao jardim.
Estava abaixada, entre as lavandas e as margaridas, com as mãos sujas de terra, quando Aurora apareceu com um sorriso ainda sonolento.
— Está acordada, minha florzinha?
— Aham… ouvi passarinhos cantando. E você não estava na cama.
Isabella sorriu, limpando as mãos na barra do vestido e abrindo os braços. Aurora correu para um abraço apertado e familiar.
— Hoje vamos plantar mais flores, Isa?
— Se você me ajudar, vamos transformar esse jardim em um pedacinho do céu.
Aurora assentiu, animada, e logo se sentaram juntas à beira do canteiro, replantando mudas, retirando folhas secas, conversando sobre nomes de flores e imaginando histórias sobre cada uma delas.
O sol do fim de tarde tingia o céu com tons dourados e cor-de-rosa, como se o próprio céu quisesse acariciar a terra com sua doçura. O jardim da mansão estava particularmente bonito naquele dia, as hortênsias estufadas, os girassóis acompanhando o sol e as borboletas colorindo o ar como se fossem sorrisos alados.
Aurora corria pelo gramado com os cabelos loiros voando atrás dela, os pezinhos ligeiros, as bochechas rosadas de tanto rir. Isabella a seguia, fingindo estar cansada, mas na verdade encantada com a vitalidade da menina.


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