O beijo explodiu como um trovão silencioso. Um beijo urgente, molhado, arrebatador. Um beijo que não pedia permissão, porque já havia sido prometido há muito tempo, mesmo sem palavras. Um beijo que dizia tudo aquilo que o silêncio escondia.
Lorenzo a tomou com fúria e fome, as mãos cravadas na cintura dela, como se estivesse ancorando-se em algo para não afundar. A boca encontrou a dela com brutalidade doce, com desespero contido demais para ser delicado. E Isabella, ao invés de recuar, se entregou.
Ela gemeu contra a boca dele, os dedos deslizando pelas costas encharcadas, agarrando-se ao tecido da camisa. O beijo foi uma colisão de sentimentos represados. A língua dele buscava a dela com precisão, como se cada movimento carregasse tudo o que nunca foi dito. Ela o acompanhava com ardor, os corpos colados, o calor atravessando o tecido molhado.
As mãos de Lorenzo subiram pelas costas dela até emaranharem-se nos cabelos molhados. Ele a puxou mais para si, colando-a ao peito, sentindo os seios se moldarem contra seu tórax. O robe escorregou completamente pelos braços dela, caindo na grama. A camisola quase transparente era um convite cruel aos olhos dele, que lutavam contra a razão e falharam miseravelmente.
Quando ele a soltou, foi apenas por um segundo, os lábios ainda tocando os dela, suas testas coladas, as respirações misturadas no espaço de um sussurro.
— Você é uma maldição — ele disse, rouco.
Isabella sorriu. Um sorriso pequeno, triste. Porque sabia que ele não estava pronto. Mas também sabia… que ele estava se perdendo, exatamente como ela.
O beijo continuou. E parecia que o mundo inteiro havia parado para assisti-lo.
A chuva despencava impiedosa, ensurdecedora, mas para eles, tudo estava em silêncio. Só havia o som das respirações entrecortadas, dos lábios se encontrando, do coração batendo como um tambor em seus peitos colados.
As mãos de Lorenzo, grandes, fortes, deslizaram das laterais do rosto de Isabella para sua nuca, puxando-a ainda mais para si. Sentia a pele molhada dela sob seus dedos, o corpo macio contra o seu.
Isabella tremia, mas não de frio e sim de desejo.
Seu corpo se entregava, mesmo que sua mente gritasse que era errado. Que ele era o patrão, que ele era um homem quebrado. Que amanhã tudo seria silêncio e desprezo de novo.
Mas agora… agora era só desejo, fome,sede de algo que os dois tentavam negar há tempo demais.
— Lorenzo… — sussurrou ela, quando seus lábios se separaram por milímetros, e Lorenzo deslizou os lábios pelos ombros nus de Isabella. A alça da camisola escorregou expondo um dos seus seios, Lorenzo desceu os lábios até o mamilo rosado, passando a lingua devagar fazendo Isabella arfar de desejo.
— Lorenzo… Ann…
A chuva ainda caía, pesada, insistente, como se quisesse lavar o mundo inteiro ou talvez, apenas as culpas que se agarravam aos ombros de quem tentava fugir de si mesmo.
Ao ouvir o gemido de Isabella, Lorenzo deu um passo para trás.
Seus olhos encaravam Isabella como se ela fosse algo que o ameaçava e, ao mesmo tempo, o salvasse. O peito subia e descia, arfando sob a camisa encharcada, e por um instante ele não disse nada. Apenas permaneceu ali, parado, com as mãos trêmulas ao lado do corpo e os olhos confusos fixos no rosto dela.
— Eu não posso… — murmurou, mais para si mesmo do que para ela. — Isso… foi um erro. Me desculpe.
O sussurro saiu como um soco. Cru, rasgado, entre dentes. As palavras se chocaram com a tempestade, se perderam no meio dos pingos que estalavam contra a grama.
Isabella o olhou sem se mover.
Ela sentia o gosto dele ainda nos lábios. O gosto do medo, da culpa. Mas também o gosto do desejo que ele tentava calar há tempo demais. Não disse nada. Só o olhou. Como se estivesse tentando entender onde terminava o homem e começava o muro que ele mesmo havia construído ao redor do próprio coração.
Lorenzo desviou o olhar.
— Não devia ter feito isso… — disse, rouco, com a mão passando pelos cabelos molhados com violência. — Eu não devia…
E então ele se virou e saiu sem dizer nada, nem olhar para trás.
As palavras saíram como um segredo. Um lembrete. Um pedido.
Virou-se e caminhou de volta para dentro da casa. Os pés descalços deixando pegadas molhadas no chão de mármore. Cada passo ecoava no silêncio da mansão como um sussurro de saudade.
Quando chegou ao corredor, parou diante do espelho da entrada e se olhou.
Os cabelos molhados colados à testa, os olhos marejados, os lábios ainda vermelhos. Estava linda. Mas não daquele jeito que se vê em vitrines ou revistas. Estava linda como uma mulher ferida, viva, sentindo. Como uma mulher que amava sem permissão.
Subiu as escadas devagar. Cada degrau parecia mais pesado que o anterior. Ao chegar ao quarto, olhou uma última vez para o jardim pela janela.
E lá estava a flor.
Sozinha. Firme. Testemunha silenciosa do que havia acontecido.
Isabella sorriu com tristeza, e então sussurrou para si mesma:
— Ele sente. Mesmo que negue… ele sente.
Deitou-se na cama ainda úmida. Envolveu-se no próprio cheiro e no gosto de Lorenzo que ainda pairava em seus lábios.
O silêncio era seu único companheiro, mas, pela primeira vez, não era um silêncio vazio.
Era um silêncio que guardava um beijo e um começo.

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