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A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar romance Capítulo 68

Vereda Catani

As teclas do piano pareciam conversar comigo. Eram notas familiares, elegantes, densas. A sala estava mergulhada numa penumbra suave, o sol ainda filtrado pelas cortinas pesadas de linho. A música que eu tocava não era por acaso. Nada em mim era. Escolhi cada nota como se estivesse tecendo um feitiço. Uma rede, um convite disfarçado de harmonia.

E então, eu a senti.

Não precisei virar o rosto. O silêncio mudou, ficou mais denso, como se tivesse engolido o ar. A pele arrepiou antes mesmo de ouvir o som dos passos dela. Baixos, leves, quase hesitantes. Como de uma criança que entra onde não foi chamada. Eu sorri, sozinha, com os dedos ainda sobre as teclas.

Estava na hora.

Terminei a peça com uma calma estudada, arrastando os últimos acordes como quem encerra uma cerimônia. Só então girei o rosto em direção à porta. E lá estava ela, Isabella.

A babá de olhar doce e alma indecifrável. Usando um vestido florido ridículo, esse visual de pureza desconcertante. Os cabelos loiros estavam entrelaçados, uma menina de olhos inocentes. Tudo tão... calculadamente despretensioso.

Ela ficou parada ali, como uma aluna esperando permissão para entrar.

— Que música linda… — ela disse, com a voz baixa e a postura meio tímida. Ah, Isabella, você é boa… mas eu sou melhor.

Sorri com o canto da boca. Um sorriso que ela entenderia, mesmo sem estar pronta para isso.

— Gostou? Tenho certeza que não sabe de quem se trata, afinal de onde você vem não deve ter o costume de ouvir melodias tão refinadas como essa.

Vi a maneira como ela engoliu em seco. Ela tentou disfarçar o desconforto, mas eu percebi e isso me fez sorrir ainda mais.

Levantei-me do banco do piano com um movimento lento, felino. Cada passo meu até ela era um anúncio. E ela… continuava parada. Orgulhosa, mas insegura. Quando parei bem diante dela, senti seu perfume, leve, floral, banal. Uma escolha segura, que dizia muito sobre ela. Eu, por outro lado, exalava algo quente, doce, dominador.

— Vestido delicado, cabelos trançados, olhar de cordeirinha assustada… — murmurei, sorrindo. — Tão inocente. Quase... convincente.

Ela não respondeu. Sabia que qualquer reação me alimentaria, mas eu estava faminta.

— Funciona, sabia? — disse, me aproximando mais, invadindo o espaço que ela achava ser dela. — Você se faz de ingênua. A babá perfeita. Recatada, doce, silenciosa. Mas por trás dessa fachada existe uma jogadora. E, pior... uma jogadora amadora.

Percebi seus olhos verdes me encararem furiosos.

— Eu não estou jogando nada — ela sussurrou. A voz dela soou firme, mas eu vi. Vi a tensão na mandíbula. Vi o modo como os olhos brilharam com algo entre medo e indignação.

— Ah, Isabella... — ri, suave, como quem segura uma taça de veneno entre os dedos. — Você acha que ninguém percebe o modo como você o olha? Como fica sem ar quando ele entra numa sala? Como treme só de ouvir a voz dele?

Vi o sangue subir às bochechas dela. Que delícia. Um rubor sincero, incontrolável, humano. Ela era mais vulnerável do que fingia ser.

Aproximei-me mais, o rosto perto demais. A respiração dela vacilou.

Capítulo 68 - O Confronto 1

Capítulo 68 - O Confronto 2

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