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A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar romance Capítulo 69

Isabella Fernandez

A porta fechou atrás dela com um estalo suave, mas para mim o som soou como um tiro abafado. O tipo de som que reverbera por dentro. Que não sangra por fora, mas estilhaça tudo por dentro.

Fiquei ali parada sozinha. Com os olhos fixos no vão da porta por onde Vereda havia desaparecido, como se a própria sombra dela ainda estivesse ali, me observando. Me julgando, me ameaçando. Porque ela havia agido dessa maneira? O que ela viu que a fez ficar furiosa? Será que Lorenzo?

Para Isabella. Para com isso! Lorenzo deve estar confuso, ele apenas a beijou porque se sente carente, sozinho… é isso! Podendo ter uma mulher como Vereda, jamais olharia para uma garota como você.

O salão parecia maior de repente e mais frio. O silêncio, que antes era paz, agora era um vazio. Um eco da guerra silenciosa que havia acabado de acontecer ali, sem testemunhas, sem plateia. Apenas duas mulheres e uma tensão que poderia incendiar a casa inteira.

Respirei fundo. Uma, duas, três vezes. Mas o ar não parecia entrar direito.

Minha pele ainda ardia onde ela chegou perto demais. O perfume dela, quente, doce, quase vulgar, ainda pairava no ambiente. E com ele, as palavras. Aquelas frases afiadas, cravadas na minha memória como farpas sob a pele.

“Lorenzo Vellardi não é pra você. Ele não é um príncipe de conto de fadas. Ele é um homem quebrado, cheio de fantasmas. Um homem que precisa de uma mulher de verdade, uma que saiba lhe dar prazer, não uma garotinha virgem que ainda acredita que amor salva tudo.”

“ Cuidado menina. Vou mostrar para você quem sairá vitoriosa e você vai voltar para o seu interior chorando… ”

Ela me dissecou com o olhar. Me expôs com palavras. Tentou me encolher com desprezo. E por alguns segundos, quase conseguiu.

Quase.

Mas eu estava de pé. Ainda ali. Respirando. Tremendo por dentro, sim. Mas não de medo. Era raiva. Era algo novo, uma força que crescia, quase indomável. Uma força que dizia: chega.

Ela achou que me calaria. Que me diminuiria com aquele desfile de veneno e poder. Mas o que ela não sabe é que já passei por coisas que ela nem imaginaria. Que a pior dor não está em ser ameaçada, está em perder tudo e ter que continuar sorrindo.

Eu conheço o escuro. Só que aprendi a andar nele sem tropeçar.

Pisquei, tentando conter o ardor nos olhos. Não queria chorar, não ali, não por ela. Jamais daria esse gosto a Vereda Cattani.

Me virei lentamente, sentindo o chão sob meus pés como se voltasse ao corpo depois de um impacto. Toquei o piano com a ponta dos dedos. O mesmo instrumento que ela havia usado para anunciar sua presença. Aquele mesmo piano que, por um instante, se tornou um campo de batalha. Ela dominava os ambientes como quem marca território, mas eu não ia mais recuar. Eu não estava naquela casa por ele, estava por Aurora e apenas partiria se ele me mandasse embora.

A luz atravessava a cortina em feixes dourados, pousando sobre o assoalho antigo. Vi meu reflexo tênue no envernizado das teclas. O rosto ainda estava corado, os olhos intensos. Mas havia algo diferente. Uma dureza no queixo, uma firmeza no olhar.

Talvez ela tenha me dado o que faltava: Motivo.

Ouvi passos na escada. Eram vozes abafadas e risos infantis. A vida lá fora recomeçando como se nada tivesse acontecido aqui dentro. Me ajeitei inspirando o mais profundamente que pude e virei o rosto para o corredor.

— Tia Isa! — a voz aguda e alegre de Aurora ecoou. Ela vinha correndo, com os passinhos rápidos batendo nos degraus como pequenas marteladas. — Marta me ajudou a escolher um vestido novo e eu queria te mostrar! Olha tia Isa, não é lindo? Foi o papai que comprou!

Ela surgiu no vão da escada como um raio de sol atravessando nuvens carregadas. Usava um vestido cor de rosa com tule nas mangas, uma tiara brilhante e os olhos cheios de brilho. Atrás dela, com passos mais lentos e olhar atento, vinha Marta. Vestida com uma camisa azul-clara e jeans, ela analisava o ambiente com aquela expressão que só quem é mãe ou irmã mais velha desenvolve.

— Isabella? — disse, ao me ver parada no salão. O tom dela era leve, mas havia atenção nas entrelinhas. — Aconteceu alguma coisa?

Capítulo 69 - O que sinto. 1

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