A campainha soou como um trovão suave na mansão silenciosa, reverberando pelas paredes com uma urgência inegável. O som fez Antonela sobressaltar-se no sofá, onde estava sentada com Aurora ainda aninhada em seu colo. Seu coração já estava acelerado desde o momento em que vira o estado do braço de Isabella, mas agora batia num compasso mais forte, com esperança e tensão misturadas.
Marta se levantou num salto, o pano de prato já esquecido sobre a mesinha de centro, e correu até a porta. Seus passos ecoaram apressados pelo mármore branco do hall.
Ao abrir, a imagem do doutor Stefanno surgiu com nitidez e imponência à sua frente.
— Graças a Deus. — exclamou Marta, com a respiração entrecortada. — Você veio rápido… é a babá. Ela foi atacada por um cão. Está ferida, está sangrando…
O médico, um homem jovem de pouco mais de trinta anos, elegante mesmo sob a pressão do momento, assentiu, já retirando a alça de couro da maleta do ombro. Usava um jaleco branco impecável por cima de uma camisa social cinza-clara perfeitamente passada. A gravata estreita combinava com o tom dos olhos castanhos escuros, que pareciam ver mais do que apenas ferimentos. Havia algo de observador e sereno naquele olhar, algo que inspirava calma.
— Onde ela está? — perguntou ele com seriedade, sua voz profunda preenchia o ar com uma firmeza reconfortante.
— Na sala. Por favor, venha.
Martha guiou-o rapidamente até o cômodo onde Isabella descansava no sofá, com uma toalha pressionada contra o braço ferido e os ombros levemente curvados. Estava pálida, os lábios ressecados, mas não reclamava. Sua atenção permanecia centrada na pequena Aurora, que agora dormia encolhidinha em um canto do sofá, com a cabeça repousando numa almofada de tricô azul-claro, ainda segurando com firmeza a ponta do vestido da babá.
Quando Stefanno entrou, algo dentro dele desacelerou. Foi um instante curto, contido, mas inegável.
Havia dor na sala, havia sangue… mas também havia beleza.
Isabella ergueu o olhar para ele, e os olhos dos dois se encontraram. Mesmo abatida, havia uma delicadeza crua em sua aparência. Os cabelos loiros caíam soltos ao redor do rosto, as bochechas levemente ruborizadas pela febre que ameaçava se instalar, os cílios longos sombreando os olhos grandes, verdes e cheios de ternura. Mesmo ferida, mesmo exausta, ela parecia mais preocupada com a criança dormindo ao seu lado do que consigo mesma.
Ela era linda.
Não só na aparência, mas no gesto silencioso de proteção.
Stefanno sentiu algo apertar no peito, e isso, para um médico treinado a manter distância emocional, era quase imperdoável.
— Isabella, certo? — perguntou, se aproximando, suavizando a voz. — Eu sou o doutor Stefanno. Posso ver o ferimento?
— Claro… — murmurou ela, com um leve aceno de cabeça.
Sua voz soava doce, embora enfraquecida. Os olhos permaneceram nos dele por um segundo a mais, um segundo que aqueceu algo dentro dele antes que ela desviasse, visivelmente sem saber onde colocar tanta atenção.
Stefanno ajoelhou-se ao lado do sofá, apoiando a maleta ao chão. Ao abrir os compartimentos, seus gestos eram seguros e rápidos. O jaleco branco abriu-se ligeiramente, revelando os contornos firmes dos braços sob a camisa bem ajustada. Ele retirou uma tesoura pequena, gaze, soro, e uma pinça fina.
Com muito cuidado, começou a remover a toalha ensanguentada.
— Está doendo muito? — perguntou, tentando ser gentil.
— Um pouco… — Isabella respondeu, com um sorriso que misturava dor e delicadeza.
Ao ver o ferimento, Stefanno franziu o cenho discretamente. A mordida era feia. Os dentes haviam atravessado a pele com violência, deixando lacerações profundas e inchaço visível.
— Foram dentes grandes… mas você teve sorte. Não atingiu nenhum tendão, nem houve fratura. — Ele levantou os olhos para ela, com um leve sorriso no canto da boca. — Vai precisar de pontos, antibiótico e repouso. Mas vai ficar bem.
Isabella assentiu com a cabeça. Enquanto ele preparava o material para a limpeza, ela voltou o olhar para a menina adormecida ao seu lado, os cílios longos repousando contra a pele rosada.
Mas então, ao ouvir o tilintar dos instrumentos de metal sendo posicionados sobre a bandeja, Aurora se remexeu. Soltou um leve gemido, virou o rostinho contra a almofada e, lentamente, abriu os olhos.
— Isa? — murmurou, ainda sonolenta.
Isabella sorriu, mesmo com a dor.
— Estou aqui, meu amor.
Aurora ergueu o tronco, piscando com dificuldade, e então viu o homem agachado ao lado de Isabella, segurando um frasco e um rolo de ataduras. Seus olhos se arregalaram ao perceber que era um médico.
Aurora sorriu tímida e escondeu o rosto no braço da babá, mas não sem antes soltar mais uma frase que fez o coração de todos na sala bater mais forte:
— A Isa é a minha melhor amiga.
Antonela desabou em lágrimas contidas, abraçando a neta e sussurrando palavras de gratidão. Marta apareceu à porta com um copo de água para Isabella e os olhos vermelhos de emoção.
Stefanno se levantou, recolheu os instrumentos com cuidado e pegou a maleta. Mas antes de sair, parou por um instante, olhando de novo para Isabella.
Seu olhar era diferente agora. Mais doce, mais humano.
— Eu volto pra ver você. — disse. — Mas se precisar… mesmo antes disso… me peça. Por qualquer motivo. Está bem?
Isabella assentiu, surpresa pela oferta, e sorriu com doçura.
— Obrigada, doutor Stefanno.
Ele hesitou por um segundo, e então, com um último olhar, virou-se e caminhou para fora da sala, deixando para trás uma cena marcada pelo inesperado:
Dor, voz… e amor.
E do lado de dentro, Antonela ainda abraçada à neta, murmurou com os olhos cheios de brilho:
— Você deu voz a ela, Isa. Mas também deu coragem… e isso não tem preço.
Mas existia uma coisa que deixava Isabella ainda preocupada…
Como Lorenzo vai reagir ao souber de tudo?

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