Alguns dias se passaram depois que Vereda resolveu surgir na mansão. Isabella pediu para Marta não contar a Senhora Antonella o que havia acontecido e tudo permanecia igual. Lorenzo continuava ignorando Isabella, agindo como se aquele beijo no jardim tivesse sido um erro e cada dia que passava, Isabella se convencia que talvez realmente tenha sido.
Foi numa tarde de uma quinta-feira, que novos ares surgiram na mansão Velardi.
A prima de Isabella chegou à mansão Velardi numa tarde em que o ar trazia o perfume doce das madressilvas do jardim. Beatriz tinha ido até a cidade resolver umas coisas a pedido da avó e resolveu visitar a prima que já fazia uns meses que não via. Ela mantinha nos olhos castanhos curiosos um brilho quase infantil enquanto o motorista estacionava diante da imponente fachada de pedra clara. Quando desceu do carro, o coração acelerou: colunas ornamentais sustentavam varandas de ferro forjado, e vitrais coloridos faziam a luz dançar em mosaicos sobre o mármore do vestíbulo. Tudo parecia saído de um romance, luxuoso, mas vivo, cheio de memórias que murmuravam pelos corredores.
Isabella tinha recebido o telefonema dela e já a aguardava ansiosa. Quando viu o carro estacionar, veio recebê-la com Aurora aninhada no braço esquerdo. A menina, de bochechas rosadas e cabelos loiros, examinou a recém-chegada com um misto de reserva e expectativa. Beatriz sentiu o peito se apertar de ternura, havia algo na fragilidade decidida daquela garotinha que pedia cuidado, não piedade. Ela sorriu, abaixando-se na altura de Aurora.
— Oi, mocinha. Sou a prima da Isabella, mas se você quiser podemos inventar um apelido especial — disse, num tom conspiratório.
Aurora, agarrada à cintura da babá, franziu o cenho por um instante, depois encarou Isabella e, com a voz mansa de quem teme perder o ponto de referência, perguntou:
— Você não vai levar a minha Isa tia, vai?
Havia uma notinha de medo nos olhos de vidro azul da garota. Isabella passou o braço livre pelas costas da menina e a apertou, como quem sela uma promessa e sorriu para a prima.
— Beatriz, esta é a Aurora, meu pequeno raio de sol— apresentou, em voz suave.
Beatriz sustentou o olhar da criança, deixando que a doçura falasse mais alto do que qualquer formalidade:
— Jamais levaria sua Isa pra longe de você, princesa. Eu só vim visitá-las e, se você deixar, também ganhar um pouquinho do carinho de vocês duas.
O alívio transformou o rosto de Aurora. Ela soltou um “ah” pequenino e estendeu a mão, tocando o pulso de Beatriz com cuidado, como se confirmasse que a visitante era real e confiável. Isabella relaxou os ombros e um sorriso orgulhoso lhe entortou os lábios quando viu a conexão instantânea que se criava.
Logo depois chegaram Antonella, elegante em um vestido pérola, e Marta, a governanta, que trazia nos braços um arranjo de flores recém-colhidas. Ambas cumprimentaram Beatriz com delicadeza italiana: dois beijos na face e aquele modo caloroso de segurar as mãos por um segundo a mais.
— A prima da Isabella é sempre nossa convidada — disse Antonella, com seu timbre maternal. — Depois, preciso que me conte tudo sobre sua viagem.
Marta completou, em tom brincalhão:
— E não se assuste se eu a arrastar para a cozinha. Gosto de descobrir segredinhos gastronômicos de cada visita.
Entre risos, elas conversaram, nem perceberam o tempo passar, até Isabella sugerir um passeio ao parque que circundava a propriedade:
— O dia está tão bonito, Aurora adora alimentar os cisnes.
Beatriz assentiu, excitada como quem recebe ingresso para algo raro. Munidas de mantas, petiscos e uma pequena cesta, as três saíram pela alameda de magnólias. O vento leve agitava os ramos, criando sombras rendadas no caminho de cascalho. Aurora foi à frente, balançando a cestinha. Isabella a seguia, atenta a cada pedrinha que pudesse provocá-la um tropeço e Beatriz caminhava ao lado, colecionando detalhes da cena, a gargalhada da criança, o modo como Isabella, sem perceber, afastava um fio de cabelo do rosto da menina, a mansidão que parecia habitar ali.


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