A manhã na empresa Velardi começou com a precisão de sempre. O som das teclas, das vozes contidas entre as baias executivas e o tilintar do café recém-passado era quase uma trilha sonora rotineira. No décimo terceiro andar, Lorenzo Velardi liderava mais uma reunião de negócios, cercado de executivos atentos, gráficos projetados e contratos espessos sobre a mesa de carvalho escuro.
Vestido com um terno cinza grafite, camisa branca e gravata azul-marinho, Lorenzo parecia esculpido em pedra, imponente, concentrado, impassível. Seus olhos examinavam os documentos à frente, mas sua mente, por um instante, vagava por outro lugar.
Marco, deslizou uma pasta em sua direção com um ar de expectativa:
— Os russos querem fechar pessoalmente. É um acordo grande, Lorenzo. Eles fazem questão da sua presença.
Lorenzo ergueu os olhos devagar, pousando o olhar no amigo como quem pondera mais do que palavras poderiam explicar.
— E se eu mandar você?
— Eles recusaram de forma educada, mas firme. Disseram que, para um contrato desse porte, esperam negociar diretamente com o dono do império.
Lorenzo reclinou-se na cadeira, tamborilando os dedos contra a mesa. Ele pensou em Isabella, em Aurora, na sensação estranha de lar que começava a se formar debaixo do seu próprio teto, algo que evitou por tanto tempo. Mas o mundo dos negócios não esperava por emoções.
— Prepare tudo — disse, finalmente. — Quero o jato pronto em 48 horas, documentos revisados e o jurídico alinhado.
Marco assentiu.
— Alguma dúvida? — perguntou.
— Só uma. — Lorenzo ergueu o canto dos lábios com ironia contida. — O que é pior: o frio russo ou o calor das perguntas de minha mãe quando descobrir que estou saindo do país sem avisá-la?
Ambos riram. A tensão se dissolveu por um instante. Marco deixou a sala com sua pasta em mãos e um suspiro contido nos lábios.
A reunião encerrou-se com rapidez e precisão. Os executivos deixaram a sala um a um, deixando para trás um perfume misturado de colônia cara e expectativa. Lorenzo permaneceu por um momento sozinho, os dedos ainda repousando sobre a pasta, mas sem olhar para ela. A cabeça levemente inclinada. Os olhos perdidos em algo que não estava ali.
Foi então que a batida na porta o tirou do devaneio.
— Entre — murmurou, voltando ao presente.
A porta se abriu, revelando a figura elegante e contida de Elisa, sua secretária há mais de uma década. Ela trazia uma postura impecável, os cabelos presos num coque e os óculos presos à corrente dourada pendendo no colo.
— Senhor Velardi, chegou uma ligação internacional. Não está identificada, mas a origem é da Espanha.
Lorenzo ergueu o olhar, franzindo o cenho. Apenas uma pessoa ligava daquele número. Sua irmã mais nova.
— Pode transferir — respondeu com um suspiro cansado, já imaginando o tom provocador que vinha pela linha.
O telefone fixo tocou. Ele atendeu com a voz firme e direta.
— Velardi.
Do outro lado, uma risada leve e afiada soou antes que qualquer resposta formal fosse dada.
— Nossa, irmãozinho… tão sério como sempre. Quase assustador.
Ele recostou-se na cadeira, com os olhos semicerrados. Não era uma surpresa, afinal. Ela sempre soube o momento exato de aparecer, como um trovão após o relâmpago.
.Lorenzo se recostou na cadeira, já sorrindo com o canto da boca.
— Giulia — disse, com um meio sorriso que só ela era capaz de arrancar — quanto tempo…

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