Entrar Via

A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar romance Capítulo 77

Lorenzo empurrou a porta principal com cuidado, como se temesse acordar as paredes. A mansão Velardi, que de dia vibrava com passos, vozes e o tilintar da rotina, agora respirava num quase abandono. Nenhum ruído além do suave tique-taque do enorme relógio austríaco no vestíbulo. Um contraste intenso com o bar onde ele passou as últimas horas, cercado de executivos em busca de mais um drink para afogar pequenas frustrações, ou, no seu caso, espantar fantasmas de desejo que teimavam em acompanhá-lo até ali.

Subiu a escadaria.

O corredor do andar superior dormia sob uma penumbra cálida, iluminado apenas pelos focos de luz embutidos no rodapé. Ao passar pela primeira porta à direita, deteve-se. Girou a maçaneta devagar e espiou. Aurora dormia profundamente, abraçada às duas bonecas de pano que Isabella a tinha presenteado. Os cachinhos dourados espalhavam-se sobre a fronha rosa, e o peito infantil subia e descia num ritmo sereno.

Lorenzo aproximou-se na ponta dos pés. O rosto, que tantas vezes ostentava dureza de mármore nas salas de reunião, suavizou-se num instante. Baixou-se, afastou um fio de cabelo da testa da menina e depositou ali um beijo leve, deixando que a respiração dela lhe roçasse a pele.

— Te amo, meu girassol — murmurou, com voz rouca de ternura contida.

Aurora remexeu-se só o bastante para apertar ainda mais a boneca, e Lorenzo recuou, afundando o peso de um amor inexplicável no peito. Ao fechar a porta, já afrouxava a gravata, deslizando o nó até libertar o pescoço. Os primeiros botões da camisa seguiram o mesmo destino e, de repente, o terno caro parecia uma armadura sufocante demais para a hora avançada.

Passou diante do quarto de sua mãe e viu, pela fresta, a luz do abajur acesa. Imaginou-a lendo algum romance histórico antes de dormir. Sorriu de canto: mesmo depois de dias cansativos, ela ainda encontrava refúgio nas páginas de um livro. Consultou o relógio no pulso eram 22h45.

— Não imaginei que seria tão tarde — falou para si, lembrando-se dos copos de whisky cuidadosamente alinhados no balcão do bar, dos assuntos vazios que giravam em torno de cotações, fusões, viagens de esqui. Só ele sabia que, a cada gole, tentava afogar uma única imagem: Isabella sorrindo para Aurora na mesa do café da manhã, a luz escondida que aquilo acendia, de maneira perigosa e reconfortante.

Seguiu pelo corredor, rumo ao próprio quarto. Ao passar pela porta do quarto dela, notou a folha de madeira entreaberta. Um filete de claridade amarelada escapava, desenhando um risco sobre o tapete persa. O coração dele bateu mais rápido, num compasso que não obedecia à lógica.

Sem escutar sequer um passo, deslizou a mão sobre a madeira polida e empurrou a porta o suficiente para espiar. Foi o reflexo no grande espelho de canto que primeiro capturou seu olhar. Isabella, de costas para a porta, envolta apenas numa toalha branca que lhe chegava à metade das coxas. A pele ainda úmida parecia reluzir sob a luz morna do abajur. Com movimentos calmos, ela espalhava creme nas pernas, deslizando as palmas devagar pela curva dos joelhos até o início das coxas.

Lorenzo sentiu o ar faltar de seus pulmões, como se o quarto tivesse encolhido à metade. Um calor súbito invadiu-lhe a nuca, parte desejo, parte vergonha por estar ali, espionando. Quis afastar-se, mas os pés enraizaram-se no piso, incapazes de recuar.

Então, Isabella inclinou a cabeça para frente, removendo a toalha que cobria seus cabelos. Os fios dourados desceram em cascata pelas costas nuas, colando-se à pele e delineando-lhe a silhueta. A imagem, refletida no espelho, pareceu uma pintura feita só para torturá-lo. A linha suave da coluna, a curva tímida do quadril, a toalha prestes a ceder a qualquer movimento mais brusco.

Um arrepio percorreu cada músculo de Lorenzo. A mão, ainda apoiada na porta, fechou-se num punho; os nós dos dedos ficaram brancos. Ele mordeu o lábio inferior até sentir o leve gosto metálico do próprio sangue numa tentativa falha de conter o incêndio que subia do ventre ao peito.

Isabella, alheia, passou o creme pelo tornozelo, levantando por segundos a perna sobre um banquinho. A toalha escorregou um pouco, revelando um seio. O coração dele tamborilou contra as costelas, tão alto que temeu ser descoberto pelo próprio som. Um gemido frustrado ficou preso na sua garganta.

— Basta. — pensou, irritado consigo mesmo. Mas o corpo não obedecia.

Segundos se alongaram até parecerem minutos. Foi a consciência e não o desejo que venceu por fim. Ele recuou um passo, soltando a porta com cuidado, agradecendo pela porta não ter rangido.

Entrou no próprio quarto e fechou a porta com um estalo seco. Respirou fundo, encostando as costas na madeira, com os olhos fechados e os punhos ainda trêmulos. O eco daquela visão dançava nos cantos da mente: a toalha, o creme, o cabelo em cascata, o seio exposto…

— Maldição. — sussurrou, sentindo o desejo tomar conta de seu corpo.

Capítulo 77 - Ecos do Desejo 1

Capítulo 77 - Ecos do Desejo 2

Capítulo 77 - Ecos do Desejo 3

Verify captcha to read the content.VERIFYCAPTCHA_LABEL

Histórico de leitura

No history.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar