A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar romance Capítulo 81

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Dois dias depois…

A mansão estava tomada por um silêncio que feria. Um silêncio denso, saturado, que se espalhava pelos corredores como uma sombra indesejada. Não era paz, era ausência, peso. Era aquilo que restava quando palavras deixavam de ser ditas e olhares deixavam de ser trocados.

Isabella caminhava pela casa como quem evitava pisar nas próprias emoções. A cada manhã, colocava o sorriso no rosto como se vestisse um uniforme. Cuidava de Aurora com dedicação, ajudava nas lições com paciência e contava histórias com a voz doce. Mas quando ficava sozinha, sentia o vazio crescer dentro do peito como um grito silencioso.

Lorenzo, por sua vez, estava cada vez mais impaciente. No trabalho, perdia o foco. Em casa, perdia a paz. Dormia pouco, comia mal e bebia mais do que deveria. Caminhava pelos corredores procurando por ela mesmo sem admitir. Observava-a de longe, faminto por um olhar, por um gesto… por qualquer coisa que o tirasse daquela inércia desesperadora.

Mas Isabella não cedia.

E aquilo estava acabando com ele.

✦ ✦ ✦

Na manhã do terceiro dia, o inevitável aconteceu.

Ela vinha do andar superior com um livro de fábulas nas mãos. Os cabelos estavam presos num coque displicente, algumas mechas soltas moldavam seu rosto cansado. A blusa branca estava ligeiramente amarrotada, e a calça jeans apertava suavemente suas curvas.

Ela estava linda, real, intocável.

E então, no corredor, o encontro.

Lorenzo surgia da ala oposta, a passos largos, o paletó jogado no antebraço, o rosto ainda sombreado pela barba que ele se esquecera de raspar. Quando a viu, parou.

Ela também parou.

Por um segundo, o mundo silenciou ainda mais.

— Isabella. — A voz dele saiu baixa, grave.

Ela ergueu os olhos lentamente. E mesmo sem palavras, ele soube.

Ela estava ferida.

— Senhor Velardi. — respondeu, sem emoção, como se estivesse se referindo a um estranho. O uso do título foi como uma facada no meio do peito dele.

Ele franziu o cenho, deu um passo à frente.

— Podemos conversar?

Ela manteve a postura. Os olhos firmes, a voz contida.

— Acho que não temos nada a conversar.

— Isabella, por favor… — insistiu. — Não vamos fingir que nada aconteceu.

— Você quer falar sobre o que exatamente? — ela rebateu, os olhos reluzindo dor. — Sobre o momento em que me deixou sozinha, com o corpo em chamas e a alma em ruínas?

Ele hesitou. O peso da culpa caiu sobre os ombros largos.

— Eu me perdi. Não devia ter ido tão longe com você. Mas também não consigo ficar longe…

— Pois deveria aprender. — cortou ela, amarga. — Porque, ao contrário do que pensa Lorenzo, eu não sou um brinquedo que você usa e depois guardar na gaveta.

— Eu nunca te tratei assim!

— Tratou sim! — a voz dela se elevou. — Me beijou, me tocou, me despiu com os olhos por semanas… E depois, quando finalmente cedi, quando me entreguei pra você, me largou no meio do furacão!