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A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar romance Capítulo 82

A manhã ainda pairava com uma delicadeza rara sobre a mansão Velardi, como se o tempo houvesse desacelerado de propósito para que tudo respirasse com calma, com intenção. A luz do sol entrava em filetes dourados pelas janelas imensas, atravessando a cortina branca de linho como um véu translúcido, banhando o chão de mármore em uma tonalidade morna e confortável. Do lado de fora, os jardins começavam a florescer em sua plenitude, exalando aromas que se misturavam ao café recém-passado e ao leve perfume de lavanda que Marta espalhara pelos corredores mais cedo.

A casa estava em silêncio, mas não era um silêncio frio. Era um silêncio vivo, expectante. Um silêncio que sussurrava que algo especial estava prestes a acontecer.

Na sala de estar, Isabella movia-se com delicadeza quase coreografada, empilhando lentamente os livros de contos que havia lido para Aurora na noite anterior. Seus dedos deslizavam pelas capas ilustradas com carinho, como se cada história fosse um fio invisível de ternura entre ela e a pequena. O vestido azul claro que usava realçava a palidez suave de sua pele, contrastando com a sobriedade do cenário. Era um tecido leve, de mangas curtas, que caía suavemente sobre seu corpo, e os cabelos estavam presos em um coque solto, algumas mechas soltas contornando seu rosto como pinceladas espontâneas de uma pintura inacabada.

Apesar da expressão tranquila, havia uma tristeza discreta em seus olhos. Um resquício da noite anterior ainda pesava no peito. O que acontecera entre ela e Lorenzo tinha deixado marcas, mesmo que ela não quisesse admitir nem para si mesma. Havia ali mágoa, sim, mas também havia decisão. Isabella havia feito uma escolha: não se permitiria mais ter esperanças onde não havia reciprocidade. Era hora de seguir em frente, mesmo que isso doesse.

Foi então que os passos apressados e descompassados soaram pelo corredor como uma chuva de alegria. Isabella mal teve tempo de se virar quando Aurora apareceu saltitando, as bochechas rosadas, os olhos brilhando, e os cachinhos dançando em desordem enquanto ela corria até a sala.

— Tia Isa! Isaaa! — gritou a menina, com a voz aguda e alegre. — A Marta disse que meus padrinhos vêm me ver hoje!

Isabella sentiu o peito se aquecer. Apesar de tudo, Aurora sempre tinha o poder de derreter qualquer dureza, de transformar qualquer dor em algo suportável. Ela sorriu, abrindo os braços, e Aurora não hesitou antes de se jogar neles com força, abraçando-a com aquele afeto sincero que só as crianças sabem oferecer.

— Que notícia boa, minha flor! — disse Isabella, acariciando os cachos da menina. — Faz tempo que não os vê, não é?

— Muito tempo! — respondeu Aurora, com os olhos faiscando. Mas, de repente, como uma nuvem rápida que cobre o sol, o sorriso morreu em seus lábios. Os ombros dela caíram levemente, e os olhos perderam o brilho.

Isabella notou de imediato a mudança. Ajoelhou-se no tapete ao lado da pequena, pegando delicadamente seu rosto entre as mãos.

— O que foi, meu amor? — perguntou com suavidade.

Aurora hesitou, mordeu o lábio inferior e, por fim, murmurou:

— Tia Isa… será que a tia Cristina vai ficar feliz em me ouvir falando?

A pergunta, dita quase como um sussurro tímido, atingiu Isabella em cheio. Seus olhos marejaram por um instante, mas ela disfarçou com um sorriso gentil, e passou os dedos pelos cabelos da menina, afastando uma mecha do rosto.

— Mas é claro, minha princesa. — disse com ternura. — O tio Marco já deve ter contado a ela que você está começando a falar de novo, e eu aposto que o coração dela está batendo de tanta alegria só de pensar em ouvir sua voz.

Aurora soltou um suspiro aliviado, e um novo sorriso se formou, mais tímido, mas cheio de esperança.

— Eu quero que ela escute.

— E ela vai. Vai te ouvir e vai te abraçar bem apertado.

Aurora assentiu com a cabeça, e Isabella sentiu um nó se desfazer dentro de si.

— Então precisamos estar prontas para recebê-los como se fosse uma festa, não acha?

— Uma festa! — repetiu a menina, girando sobre si mesma, os braços abertos como quem deseja abraçar o mundo inteiro. — Uma noite mágica!

— Uma noite com visita especial merece um vestido lindo, não acha?

Aurora arregalou os olhos, empolgada de novo.

— Acha que posso usar aquele com brilho dourado? O da barra que balança quando eu pulo?

Isabella sorriu.

Capítulo 82 - O Encontro com os Padrinhos 1

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