O despertar foi abrupto.
Isabella sentou-se na cama, ofegante, com o coração disparado dentro do peito. A respiração curta e irregular denunciava o peso do sonho que ainda pairava em sua mente. Letícia, o jardim, as palavras doces e o abraço impossível. Passou as mãos pelo rosto úmido de suor e lágrimas secas, tentando distinguir o que era lembrança, o que era sonho… e o que já se tornava uma estranha saudade.
A casa estava mergulhada no silêncio da madrugada, envolta pela penumbra azulada do céu antes do amanhecer. Isabella se levantou da cama lentamente, os pés descalços tocando o chão frio.
Olhou ao redor e tudo estava em seu lugar, exceto seu coração.
Passou a mão pelo rosto, sentindo as lágrimas secas em sua pele. E então, num impulso, levantou-se. Abriu a janela e deixou o ar frio da madrugada invadir o quarto.
Lá fora, no jardim, a mesma Delphinium que vira no sonho florescia silenciosamente sob a luz tímida do luar.
Isabella sorriu em meio às lágrimas.
— Eu prometo — sussurrou. — Eu não vou desistir dele.
Vestindo apenas uma camisola de algodão clara, simples, mas que delineava suavemente sua silhueta Isabella caminhou até a porta. Decidiu ir até a cozinha. Um copo de água talvez acalmasse a pulsação ainda acelerada.
Ao atravessar o corredor, seus passos eram suaves, respeitosos com o sono da casa. Passou pela escada, atravessou o grande hall de entrada, mas quando se aproximou da cozinha, um ruído abafado desviou sua atenção.
Vinha do escritório.
Isabella parou. O coração deu um salto no peito. Um estalo? Um objeto caído? Talvez apenas o vento... Mas o som se repetiu. Algo... ou alguém estava lá.
Hesitou por um momento. A lógica dizia para voltar, mas algo dentro dela, talvez uma intuição teimosa, a impulsionou a seguir. Com passos contidos, aproximou-se da porta entreaberta do escritório. A luz interna estava fraca, um abajur aceso junto à poltrona de couro dava à sala um ar íntimo e acolhedor.
E foi então que o viu.
Lorenzo Velardi.
Sentado na poltrona, a cabeça reclinada para o lado, os cabelos ligeiramente bagunçados, como se tivesse adormecido ali há muito tempo. Usava calça escura, mas a camisa branca estava completamente aberta, revelando o peitoral bem definido e o contorno sutil da musculatura de seu abdome. Os botões estavam soltos como se ele tivesse desistido no meio do caminho. Uma garrafa de uísque semi vazia repousava sobre a mesinha de canto. Ao lado, o copo ainda com líquido âmbar.
Isabella ficou parada por um momento, apenas observando. Aquele homem, sempre tão composto, tão rígido… parecia frágil. Exausto. Quebrado por dentro.
O peito dele subia e descia devagar, e sua expressão carregava traços de dor mesmo dormindo, como se sonhasse com algo que doía demais.
Ela se aproximou em silêncio. Com os olhos atentos e os passos lentos, quase reverentes. Quando estava ao lado da poltrona, estendeu a mão com hesitação, e pousou os dedos suavemente em seu ombro.
— Senhor Velardi… — sussurrou com cuidado. — Acho melhor o senhor ir para o seu quarto.
Os cílios dele tremeram. A respiração se alterou por um segundo. E então os olhos se abriram, devagar, mergulhados em um azul turvo pela bebida, mas ainda intensos como fogo vivo. A pupila estava dilatada, o olhar estava fixo nela. Não parecia acordar confuso, muito pelo contrário, parecia ter certeza de quem era.
— Molto Bella… — murmurou, em italiano, com a voz rouca, grave, embargada.
Isabella prendeu a respiração. O calor subiu pelas bochechas como fogo líquido, fazendo-a corar profundamente. Aquilo não foi um elogio casual. Havia um peso, uma verdade crua naquela declaração. Um homem em ruínas, bêbado talvez, mas lúcido o suficiente para deixá-la desconcertada.

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