Entrar Via

A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar romance Capítulo 87

A manhã na mansão Velardi se desenrolava com uma tranquilidade enganosa, como se o mundo tivesse sido cuidadosamente embalado em algodão e silêncio. O aroma de café fresco e pão assado já preenchia a cozinha com uma ternura caseira, enquanto a luz do sol passava preguiçosa pelas cortinas rendadas.

Isabella já estava acordada havia horas, apesar da noite mal dormida. Usava um vestido leve, azul claro, e os cabelos estavam presos em um coque simples, com algumas mechas teimosas escapando e emoldurando seu rosto. Sentada à mesa com uma xícara de chá entre as mãos, ela tentava se concentrar no vapor que subia da porcelana, mas o pensamento insistia em vagar.

A lembrança da madrugada ainda era vívida. O modo como encontrou Lorenzo adormecido na poltrona do escritório, o peito parcialmente exposto, a respiração pesada… e os olhos. A forma como ele a olhou quando ela o tocou, uma mistura de dor, desejo e algo mais profundo. Algo que ela ainda não ousava nomear. Aquela imagem, junto ao calor de suas palavras roucas ao agradecer, estava gravada em sua memória.

Ela estava ali, mergulhada nesses pensamentos, quando ouviu passos suaves no piso de madeira polida.

Lorenzo.

Ele entrou na cozinha sem dizer uma palavra, os cabelos úmidos e desalinhados pelo banho recente, a barba por fazer lhe dava um ar mais selvagem, e os olhos… Ah, os olhos. Carregavam o mesmo azul tempestuoso da noite anterior. Um olhar direto, sem escudo, cru.

Isabella levantou os olhos lentamente e o encarou. Por segundos longos, o mundo parou. Era como se estivessem presos em um fio invisível, uma tensão elétrica sustentando cada centímetro de ar entre os dois. A intensidade daquele olhar era impossível de ignorar.

Mas Isabella desviou. Baixou os olhos para sua xícara e tentou retomar o controle da respiração. Seus dedos estavam tremendo levemente. Marta, que terminava de arrumar a mesa com discrição, notou o silêncio e o jeito como o ambiente parecia diferente com os dois ali.

Lorenzo serviu-se de café, e o som do líquido caindo na porcelana foi o único ruído na cozinha durante alguns instantes. Ele se sentou na cadeira à cabeceira da mesa, sem tirar os olhos de Isabella. Queria dizer algo, mas não o fez. E ela sabia disso.

O momento foi interrompido de forma súbita e doce.

Aurora surgiu correndo, os cachinhos dourados balançando, com um vestido cor-de-rosa que ela mesma escolheu no dia anterior. Pulou no colo de Isabella, rindo alto e aninhando-se no pescoço da babá com entusiasmo.

— Isa! Eu tive um sonho maravilhoso!

Isabella sorriu e afagou os cabelos da menina.

— É mesmo, meu amor? Me conta.

Aurora fez que sim com a cabeça, os olhos brilhando.

— Eu sonhei com uma moça de vestido azul… ela tinha cheiro de flor e disse que me ama muito. Ela disse que está feliz porque eu estou bem. E também disse que gosta de você, Isa. Que você cuida bem de mim… e do meu papai. Eu acho que era a mamãe.

Isabella congelou por um instante e Lorenzo também.

Os olhos dele se fixaram na filha, depois em Isabella. O silêncio que se seguiu foi espesso, como um véu que pairava no ar. Isabella sorriu com ternura, apesar da lágrima que ameaçava escapar. Abraçou Aurora com mais firmeza e beijou sua cabeça.

— Que sonho mais bonito, minha flor. Eu acho que essa moça era um anjo — sussurrou, emocionada.

Lorenzo desviou o olhar, respirando fundo, visivelmente tocado, mas sem saber como reagir. O rosto sério escondia a bagunça emocional que se formava por dentro. Aurora desviou o olhar do pai e com um sorriso largo, desceu do colo da babá e correu para os braços do mais velho se jogando.

— Papai, bom dia!

Lorenzo sorriu e carregou a filha nos braços. Fechou os olhos por uns segundos, aspirando o perfume infantil que tanto amava. Aurora depois se afastou e encarou os olhos azuis do pai e disse:

— Papai podemos ir ao parque no final de semana?

Lorenzo encarou a filha nos olhos e sorriu dizendo:

— Claro minha princesa.

Foi então que Marta e Antonela entraram juntas na cozinha. Marta trazia uma tigela com frutas cortadas. Antonella, com o celular na mão e um sorriso animado no rosto, parecia totalmente alheia à tensão que acabava de acontecer.

— Buongiorno! — disse a matriarca, animada. — Lorenzo, querido… quase me esqueci de te avisar: a Giulia está chegando amanhã!

Isabella ergueu os olhos, surpresa com a menção repentina a um novo nome.

Antonela continuou:

— Acabei de falar com ela. O voo está confirmado, chega pela manhã. Ela está animadíssima para rever a Aurora. Faz mais de um ano que não nos visita, ela vai ficar animada em ver a Aurora falando novamente.

Giulia.

Capítulo 87 - Está difícil esconder 1

Verify captcha to read the content.VERIFYCAPTCHA_LABEL

Histórico de leitura

No history.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar