O sol da manhã entrava pelas amplas janelas do quarto de Aurora, tingindo o ambiente com tons dourados e suaves. Cortinas brancas, esvoaçantes, dançavam levemente com a brisa que atravessava os jardins da mansão Velardi. O quarto infantil, decorado com toques delicados de rosa e bege, parecia uma pintura viva: bonecas sobre a poltrona, livros empilhados na prateleira baixa, e vestidos coloridos espalhados sobre a cama como se fossem pétalas de flores lançadas por mãos ansiosas.
Isabella estava de joelhos diante do guarda-roupa da menina, cuidadosamente retirando cabides com pequenos vestidos bordados. Escolhia com carinho o mais bonito para o dia especial. Cada cabide retirado era acompanhado de um sorriso nostálgico, como se relembrasse uma memória boa. Aurora observava, sentada na cama, balançando as pernas para frente e para trás, com os olhos brilhando de expectativa.
— E esse, tia Isa? — perguntou, apontando para um vestido lilás com babados e pequenas flores bordadas na barra.
— Esse é lindo, mas... — Isabella se levantou com outro cabide — olha esse aqui, meu amor. Tem brilhinhos dourados e essa faixa de cetim. Você vai parecer uma princesa.
Aurora soltou um "uau" encantado, seus olhos faiscando.
— Vai combinar com meu laço de cabelo novo! Posso usar meu sapatinho de verniz também?
— Claro que pode. Vamos colocar tudo e depois te levo para ver no espelho.
Enquanto Aurora tirava o pijama para experimentar o vestido, Isabella se virou por instinto para a janela. A cortina leve esvoaçou ao lado de seu rosto, e seus olhos se fixaram no jardim.
Lá embaixo, no pátio da frente, Lorenzo caminhava com passos firmes em direção ao carro que o aguardava. Vestia um terno cinza escuro perfeitamente ajustado, a gravata prateada destacando-se sob o colarinho branco. O cabelo estava penteado para trás, e seus ombros largos exalavam segurança. Cada gesto dele era elegante, controlado, como se o mundo girasse no ritmo de seus passos. A luz do sol tocava seus cabelos loiros com suavidade, conferindo-lhe um ar quase cinematográfico.
O coração de Isabella disparou.
Era inevitável. Por mais que tentasse fugir daquilo, havia algo nele que mexia com ela em um nível que ela não sabia explicar. A imagem do sonho com Letícia voltou à sua mente. A mulher de olhos azuis e cabelos castanhos, parada sob a luz suave do jardim, dizendo com doçura:
— Não desista dele. Cuide dele como cuida da nossa filha.
Isabella apertou as mãos contra o peito. Depois veio a lembrança da noite anterior: Lorenzo adormecido no escritório, a camisa aberta, o corpo vulnerável e os olhos azuis cravados nos dela quando o despertou. E, por fim, aquele olhar silencioso que ele lhe lançou na cozinha naquela manhã, tão intenso, tão cheio de algo que ela não ousava nomear.
Suspirou.
Era loucura. Era confuso. Era tudo o que ela não queria sentir.

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