O som ritmado das teclas e o leve burburinho de ligações sendo atendidas preenchiam o amplo escritório do último andar da empresa Holding Vellardi & Renzi. O vidro espelhado que cercava o andar refletia a cidade pulsante lá fora, mas dentro daquela sala de reuniões elegante e minimalista, o tempo parecia suspenso. Lorenzo estava sentado à cabeceira da mesa longa de madeira nobre, revisando relatórios enquanto seu assistente organizava os arquivos digitais no painel.
Vestia um terno cinza escuro sob medida, camisa branca sem gravata, e mantinha os primeiros dois botões abertos, revelando um fragmento do peito marcado por noites mal dormidas e pensamentos inquietos. Seus olhos azuis, penetrantes, alternavam entre as planilhas e a lembrança de Isabella, que insistia em voltar à sua mente com uma força desconcertante. A maneira como ela o olhou naquela madrugada. A forma como sua voz sussurrou "senhor Velardi". A suavidade com que ela o ajudou a subir as escadas... Como era possível que algo tão simples o tivesse transtornado por inteiro?
Um leve toque na porta de vidro interrompeu o fluxo dos pensamentos.
— Senhor Velardi, com licença... a senhora Vereda está aqui. Disse que não precisa de hora marcada.
Lorenzo levantou os olhos, um franzir sutil marcando a testa.
— Deixe-a entrar. — disse, seco.
A porta se abriu e Vereda entrou, desfilando com seu salto agulha, os cabelos lisos impecavelmente escovados e a postura de quem carregava o mundo nos ombros e achava que ele lhe pertencia. Usava um conjunto justo em azul-marinho que realçava sua figura esguia. Os lábios estavam pintados de vermelho intenso, e o sorriso... forçado.
— Lorenzo... estava próximo e resolvi fazer uma visita. Que bom que não está ocupado.
— Estou trabalhando. — respondeu sem erguer-se. — Seja breve.
Ela arqueou uma sobrancelha e se aproximou com a confiança de quem conhecia aquele espaço tão bem quanto ele.
— Nossa, o que aconteceu? Eu apenas vim como uma amiga…
— Duvido. — respondeu Lorenzo, finalmente levantando-se. — O que quer, Vereda?
Ela cruzou os braços e encostou-se à mesa, analisando-o com os olhos faiscando intenção.
— Você esta diferente… O que aconteceu? Foi grosseiro e mal educado comigo aquela manhã, não atende mais os meus telefonemas. Por acaso isso tem algo a ver com a babá?
A mudança no rosto de Lorenzo foi quase imperceptível, mas quem o conhecia bem saberia ler os sinais. A rigidez na mandíbula. O olhar mais sombrio.
— Não tenho a obrigação de justificar nada da minha vida pessoal a você.
— Claro que não. — ela respondeu, fingindo leveza. — Mas pensei que você estivesse apenas... confuso. Aquele tipo de confusão que homens viúvos cometem. Se deixar levar por uma garota boazinha. Tão serviçal, tão... fácil.
O estalo da mão de Lorenzo na mesa ecoou alto.
— Cuidado com o que diz. — disse ele, com a voz baixa, mas firme como uma faca cravada no ar.
Vereda deu um passo para trás, surpresa com a intensidade dele.
— Ah, Lorenzo... não me diga que você caiu na lábia dessa garota. Ela é apenas uma babá, Lorenzo. uma virgenzinha do interior que não sabe satisfazer um homem como você. Letícia teria vergonha de ver...
— NÃO FALE O NOME DELA. — rugiu ele, aproximando-se com o rosto transformado em fúria contida. — Você não tem o direito de falar Isabella, Vereda!
Vereda empalideceu.
O homem à sua frente não era mais o mesmo de anos atrás.
— Isabella é uma mulher de coragem. O que ela fez e faz por minha filha não tem preço. Ela conseguiu em semanas o que ninguém jamais conseguiu em anos. Ela é doce e tem mais dignidade do que você jamais entenderia. Não ouse voltar a falar dela com desdém, ou nunca mais atravessará essas portas.
Vereda soltou um riso amargo.
— Então é isso? Vai se apaixonar por ela agora? O poderoso senhor Velardi e a babá angelical?

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