Mansão Velardi, 05:36 da manhã
O céu ainda estava tingido de tons azulados e alaranjados quando Lorenzo abriu os olhos. A luz do amanhecer invadia o quarto timidamente, desenhando linhas douradas sobre o piso de madeira escura e os lençóis revoltos de sua cama. Ele não havia dormido direito. Na verdade, não dormiu quase nada.
Sentou-se na beira da cama, passou as mãos pelos cabelos e inspirou fundo, como se o ar daquela manhã pudesse aliviar o nó em seu peito. Mas não aliviou. Nada aliviava. Desde a noite passada, desde o beijo proibido, desde o gemido suave de Isabella sussurrado contra sua boca… desde o susto no quarto de Aurora.
A menina havia voltado a dormir, serena, após ser consolada. Mas ele? Ele ficou com a alma virada do avesso.
Levantou-se devagar, vestiu uma camisa de algodão e calças de moletom escuras. Os pés descalços tocavam o chão frio enquanto ele caminhava em silêncio pelo longo corredor. A casa inteira dormia, exceto o peito dele, que ardia.
Parou diante da porta cor de lavanda do quarto da filha e apoiou a mão na maçaneta. Respirou fundo antes de girá-la devagar.
O quarto estava envolto em penumbra suave, iluminado apenas pela luz suave que atravessava as cortinas esvoaçantes. O abajur em formato de unicórnio ainda estava aceso, projetando sombras doces nas paredes. As pelúcias estavam espalhadas aos pés da cama. Ela estava deitada com a cabeça no travesseiro de bichinhos, os cabelos loiros estavam espalhados sobre o lençol cor de creme, e os dedos pequenos agarravam suas duas bonecas de pano, Cacau e Lila com força.
Lorenzo passou a mão devagar pela testa da filha, como quem pede desculpas em silêncio. Depois se inclinou e a beijou com delicadeza.
— Meu pequeno girassol… — murmurou, ajoelhando-se ao lado da cama.
A menina se mexeu, os cílios tremularam. Aos poucos, os olhinhos castanhos se abriram, encontrando os dele com um brilho sonolento e doce.
— Papai tá aqui, minha princesa. — sussurrou, sua voz mais suave do que qualquer outra coisa que ele havia dito nos últimos dias.
Aurora respirou fundo, os olhinhos se movendo devagar até encontrarem os dele.
— Eu… eu sonhei com a mamãe — disse baixinho, como se tivesse medo de que aquilo se perdesse no ar.
Lorenzo sentiu o coração falhar uma batida.
— Com a mamãe? — repetiu ele, surpreso, com a voz embargando.
Ela assentiu.
— Ela estava de branco… parecia uma estrela. E me abraçava bem apertado. — Fez uma pausa e tocou o peito com a mãozinha. — Eu senti o cheirinho dela. Igualzinho.
Lorenzo fechou os olhos por um instante, tentando não desmoronar. O cheiro de Letícia. A filha ainda lembrava.
— E o que ela disse, meu amor?

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