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A Babá Virgem e o Viúvo que Não Sabia Amar romance Capítulo 95

O som do motor foi o primeiro a alertá-la.

Isabella tinha retornado para o quarto de Aurora, e agora arrumava os brinquedos que a menina havia deixado no tapete colorido quando ouviu o ronco suave de um dos carros da casa sendo ligado. Seus olhos se voltaram instintivamente para a janela. Puxou as cortinas delicadamente, apenas o suficiente para ver sem ser vista.

E lá estava ele.

Alto, impecável como sempre, trajando um terno azul-marinho perfeitamente ajustado ao corpo. Os cabelos loiros penteados com cuidado, o relógio de couro justo no pulso. A camisa branca, os sapatos polidos. Um homem que carregava o mundo nas costas, mas mesmo assim exalava força, controle e uma beleza que doía.

Mas não foi apenas ele que Isabella viu.

Do outro lado do carro, caminhando em direção à porta do passageiro, a mesma mulher morena que Isabella tinha visto a pouco na sala. A mesma mulher que conversava com ele e o tocava com intimidade. A mulher ideal para o mundo dele.

Ele abriu a porta para a mulher com uma gentileza discreta. Sorrindo de volta. Um sorriso leve, cortês, mas que bastou para que Isabella sentisse uma fisgada no peito.

Ela desviou os olhos, sentindo o coração bater apressado, quase doendo.

— O que você esperava, Isabella? — pensou, mordendo os lábios. — Que ele fosse se apaixonar por uma garota como você? Uma babá, uma menina sem experiência e sem apetrechos? A noite passada foi apenas um momento intenso, apenas desejo… nada mais do que isso!

Passou a mão pela testa, sentindo o suor frio que escorria. Queria apagar a imagem do toque dele, da boca dele entre suas pernas, da forma como ele a fez perder o fôlego e a razão. Mas não conseguia. A lembrança queimava por dentro, viva demais, recente demais.

Sentiu os olhos se encherem de lágrimas, mas respirou fundo e virou-se de costas para a janela.

Foi nesse momento que Aurora entrou no quarto, segurando Cacau e Lila em um dos braços e no outro o seu livro de colorir.

— Tia Isa? — chamou com a voz doce. — O que houve?

Isabella se recompôs rapidamente, forçando um sorriso. Caminhou até a menina e se ajoelhou diante dela, alisando seus cabelos.

— Nada, meu amor. Só estava pensando. — Ela beijou sua testa. — O que você acha de sairmos um pouco? Um passeio no parque, depois um sorvete?

Aurora arregalou os olhos, animada.

— Sério? Sorvete de verdade?

— De verdade! — Isabella respondeu com um sorriso mais sincero agora. — Você escolhe o sabor, mas só se prometer que vai me contar mais dos seus sonhos mágicos.

A menina riu, batendo palminhas, e correu para calçar seus tênis cor-de-rosa. Isabella a observou com ternura. Era aquilo que importava. Cuidar de Aurora. O afeto sincero de uma criança que a via com olhos puros, sem julgamentos.

Pouco depois, as duas saíram caminhando pela rua tranquila em direção ao parque. O céu estava claro, algumas nuvens brancas flutuando no azul. O ar fresco da manhã ajudava a limpar os pensamentos, a trazer um pouco de leveza ao que ainda latejava no peito de Isabella.

Na sorveteria da esquina, escolheram uma mesinha ao ar livre. Aurora, encantada, se sujava toda com seu sorvete de morango e chocolate. Isabella observava a cena com um sorriso, absorvendo cada instante com um carinho silencioso.

Foi então que uma voz conhecida a fez erguer os olhos.

— Que coincidência agradável.

Dr. Stephano sorria ao vê-las.

Trajava jeans escuros e uma camisa bege casual, com os óculos escuros repousando sobre a cabeça. Tinha um jeito leve de existir, como se o mundo fosse sempre mais fácil ao seu redor.

— Doutor! — Aurora sorriu. — Tio Stephano!

Ele se abaixou para cumprimentá-la e beijou o topo de sua cabeça com naturalidade. Depois, olhou para Isabella com gentileza.

— Ainda vai me acompanhar no concerto? Ou vai me dar o maior bolo da minha vida?

Isabella riu, sem pensar.

— Claro que vou. Eu adoraria.

— Então, posso me sentar e tomar um sorvete com duas damas encantadoras?

Aurora deu risada, batendo palmas novamente.

— Sim! Você pode!

Stephano puxou uma cadeira e logo estava ao lado delas, pedindo um sorvete de pistache enquanto conversavam sobre música, cores, e até dinossauros, um assunto que Aurora dominava com entusiasmo surpreendente.

Isabella se permitiu relaxar. Stephano era divertido, elegante e respeitoso. Fazia piadas leves, escutava com atenção, e sua presença era reconfortante. Mas havia algo nos olhos dele, um interesse discreto, contido, mas evidente. Um jeito de olhar para ela como se quisesse decifrá-la.

Aurora continuou andando por mais alguns passos, pensativa, com os olhos voltados para o chão.

— Ah…

Isabella franziu a testa. Havia algo diferente no tom da menina.

— O que houve, minha flor? Você ficou triste?

Aurora parou e a olhou nos olhos, com aquele jeito doce que só as crianças têm quando falam verdades desarmadas.

— Eu queria que você e o papai namorassem.

Isabella ficou sem ar por um instante. Seus olhos se arregalaram, o rosto corou profundamente e um nó se formou na garganta. Antes que pudesse responder, ouviram a voz de Antonela chamando da porta da casa.

— Aurora, querida! Sua tia Giulia está quase chegando!

Aurora gritou de alegria, esquecendo-se momentaneamente da conversa, e saiu correndo em direção à porta.

Isabella ficou parada na calçada, com o coração apertado no peito.

"Eu queria que você e o papai namorassem…"

A frase ecoava em sua mente como uma onda que não recuava. A menina tinha dito com tanta sinceridade, tanta esperança... E aquilo a desmontava mais do que qualquer coisa.

Mas a realidade estava ali, clara e fria, como o vidro da janela em que ela havia visto Lorenzo e aquela mulher entrarem juntos no carro.

O que quer que tivesse acontecido entre eles… foi apenas um momento. Um instante roubado. Uma ilusão.

Respirou fundo. E, com o coração pesado, seguiu para dentro.

A tarde tinha sido doce, mas o gosto que permanecia em seus lábios era amargo.

E ela não sabia por quanto tempo conseguiria fingir que aquilo não a machucava.

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