O escritório estava silencioso após a reunião. Lorenzo Velardi apoiava as mãos na beirada da mesa de madeira escura, o olhar fixo nos papéis que já não fazia sentido ler. Os números, contratos e propostas pareciam irrelevantes diante do turbilhão que martelava dentro do peito.
Lorenzo não era homem de perder o controle. Exceto quando se tratava de Isabella.
A maçaneta girou devagar e Marco entrou com a mesma expressão prática de sempre, a pasta de couro em uma mão e o celular vibrando na outra.
— Acabei de sair da videoconferência com os russos — anunciou, caminhando até a mesa. — Eles querem você, Lorenzo. Nada de advogados ou diretores. Querem o presidente da Holding Vellardi & Renzi em Moscou. Pessoalmente.
Lorenzo não se moveu. Apenas murmurou:
— Você é o vice-presidente.
—Mas eles foram claros que queriam você!
Lorenzo suspirou fundo e passou as mãos pelos cabelos loiros e respondeu:
— Está bem, organize tudo. Pretendo ir até o fim da próxima semana.
Marco franziu a testa. Havia algo errado. Ele conhecia aquele tom. Baixo, ausente, quase alheio. Lorenzo não estava ali, estava perdido dentro da própria cabeça.
Marco largou a pasta sobre a mesa com mais força do que o necessário.
— Lorenzo.
Silencio.
— Lorenzo! — repetiu, mais firme.
O empresário ergueu os olhos devagar. Tinha um olhar cansado, profundo. Mas também carregado de algo que Marco reconheceu de imediato.
Culpa.
— O que houve?
Lorenzo recuou, soltando a gravata com um puxão mais impaciente do que o habitual. Passou as mãos pelos cabelos, encarou o nada por um segundo e então murmurou, quase como se confessasse a si mesmo:
— Eu toquei na Isabella.
Marco o encarou, sem entender.
— Como assim?
Lorenzo ergueu os olhos encarando o amigo e sua voz saiu rouca:
— Ontem à noite. Eu a beijei. Eu… a toquei.
— Seja mais claro, Lorenzo.
— Fiz sexo oral nela.
Marco congelou. Por um segundo, o silêncio pareceu engolir todo o andar executivo.
— Você... — Ele caminhou até o bar, pegou dois copos e uma garrafa de uísque sem dizer mais nada. Serviu as doses e empurrou uma em direção ao amigo. — Você tem noção do que está fazendo?
Lorenzo pegou o copo, mas não bebeu.
— Eu sei.
— Sabe? — Marco o interrompeu com frieza. — Tem certeza? Porque, com todo respeito, Lorenzo, você parece um adolescente descobrindo a porra da primeira paixão.
Lorenzo não respondeu.
Marco se aproximou e sentou-se na borda da mesa, e encarou o amigo com os olhos firmes.
— E ela? — perguntou, em um tom mais baixo. — A Isabella. O que aconteceu com ela?
Lorenzo suspirou fundo.
— Ela se entregou— respondeu, por fim. — Sem hesitar.
Marco ergue as sobrancelhas.
— E você? Está tentando fazer o mesmo?
Lorenzo suspirou, levando o copo aos lábios.
— Não sei o que estou tentando fazer.
— Eu não sei o que estou sentindo. Só sei que, desde que ela entrou naquela casa, tudo mudou. Minha rotina, meu sono, meu jeito de olhar para Aurora. Eu a vejo cuidando da minha filha com tanto carinho que às vezes penso… que tudo que tenho tentado manter de pé desde que Leticia se foi, só continua de pé porque Isabella está lá.
Marco cruzou os braços.
— Então por que diabos está agindo como um covarde?
— Porque eu não posso perder o controle! — Lorenzo explodiu, batendo o copo na mesa. — Porque tudo que me restou foi o controle. A razão, os contratos, os prazos, as decisões racionais. Se eu me entregar a isso, Marco, se eu deixar isso crescer… eu não sei quem vou me tornar. E ela… ela pode acabar me odiando por isso.
Marco não piscou.
— Isabella não é uma menina frágil, Lorenzo. Mas ela também não é uma prostituta de luxo. Ela é uma mulher inteira. Que sabe amar. Que tem valores. Que tem feridas. E se você não está pronto para dar a ela o que ela merece, então seja homem o suficiente para se afastar.
As palavras bateram como uma pancada no estômago.
— Você acha que eu não sei disso?
— Acho que você está fingindo que não sabe.
Lorenzo passou as mãos pelo rosto, exausto.
— E se eu não conseguir ser esse homem?
Marco se aproximou, parando de frente para ele.
— Então seja honesto e saia da vida dela. Não a confunda, não a machuque com promessas que você não pode cumprir. Porque, meu amigo, essa garota… ela não sobrevive a mais um abandono.
Lorenzo encarou o amigo, com o olhar tomado por uma vulnerabilidade que ele raramente mostrava.
— Eu toquei nela, Marco e agora... não sei como parar.
Marco apoiou uma mão no ombro do amigo.
— Então, por Deus, Lorenzo… não pare. Mas principalmente, pare de fugir.
Ficaram assim, em silêncio, dois homens em pé no centro de um império construído com disciplina e sacrifício e agora ameaçado por algo que nenhuma reunião de negócios podia controlar:
O amor.

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