A tarde caía suavemente sobre a casa dos Vellardi, tingindo de dourado as cortinas de linho e as paredes claras da sala principal. Os passos leves de Isabella ecoavam discretos pelo corredor quando ela entrou na sala de estar, encontrando Antonella sentada no sofá junto à janela, com um livro aberto sobre o colo e os óculos descansando na ponta do nariz. Ao lado, uma xícara de chá soltava vapor perfumado, preenchendo o ambiente com o aroma delicado de camomila e lavanda.
Isabella caminhava pelos corredores com passos leves e contidos, quase hesitantes. Seus dedos deslizavam pelas costuras do vestido azul claro que usava, um gesto inconsciente de nervosismo, como se o tecido pudesse acalmar o leve tremor que sentia. O coração batia rápido, em um ritmo ansioso e doce, provocado não apenas pelo que estava prestes a dizer, mas por tudo o que aquele convite simbolizava. Era mais do que um simples pedido para sair. Era uma fresta, uma pequena janela para o mundo fora daqueles muros. Um possível começo.
Ao se aproximar da sala de estar, seus olhos encontraram a figura elegante de Antonella Vellardi, sentada no sofá de veludo claro junto à grande janela envidraçada. A matriarca estava envolta em uma aura serena, como se pertencesse a um tempo que já não existia. Um livro repousava aberto em seu colo, e os óculos deslizavam lentamente pela ponta do nariz. Seus cabelos loiros estavam presos com delicadeza em um coque baixo, e ao lado, uma xícara de porcelana fumegava sobre a mesinha de apoio, espalhando no ar o cheiro reconfortante de chá com lavanda.
Isabella hesitou por um instante à entrada, ajeitando a barra do vestido simples que usava. Respirou fundo, criando coragem para dizer o que já vinha ensaiando desde o café da manhã. Quando finalmente deu o primeiro passo em direção à senhora Montanari, seu coração batia ligeiramente mais rápido, como se antecipasse uma resposta que ela nem sabia bem como formular.
— Senhora Antonella? — chamou com doçura, os olhos baixos e a voz cuidadosamente polida.
Antonella ergueu os olhos imediatamente e sorriu, tirando os óculos com um gesto calmo e atento.
— Isabella, querida. Entre. Está tudo bem com Aurora?
— Sim, perfeitamente — respondeu a jovem, aproximando-se com as mãos entrelaçadas diante do corpo. — Ela adormeceu há pouco, com a Maria. E eu… eu gostaria de lhe pedir algo, se me permite.
Antonella fechou o livro e o colocou ao lado, dando total atenção à jovem babá. Havia algo em sua postura — talvez a rigidez dos ombros ou a forma como seus olhos evitavam encará-la diretamente — que denunciava certo nervosismo.
— Claro, diga. — O sorriso da senhora era caloroso, gentil, como um cobertor macio estendido sobre os ombros de Isabella.
Isabella mordeu o lábio inferior por um breve momento antes de soltar o ar e falar de uma vez:
— Eu... — começou, mas a voz falhou. Mordeu o lábio inferior, reunindo coragem. — Gostaria de pedir algo, se não for incômodo...
— Claro, meu bem. Pode dizer.
Isabella inspirou fundo mais uma vez e soltou o ar devagar.
— Eu queria saber se... na próxima sexta, eu poderia sair por algumas horas, apenas no fim da tarde. Não seria por muito tempo, eu prometo. Maria, é claro, pode ficar com Aurora. Mas eu só queria me certificar de que a senhora não se importaria.
Antonella arqueou uma sobrancelha com leveza e se inclinou um pouco para frente, os olhos brilhando com uma pitada de curiosidade.
— Hm... Posso saber para onde você pretende ir, minha querida? — perguntou com um sorriso maroto, como quem fareja uma confidência prestes a se revelar. — E com quem?
Isabella ficou imediatamente vermelha, desviando o olhar para a janela por um instante. Um leve riso escapou de seus lábios, entre constrangimento e timidez. Ela respirou fundo novamente, procurando as palavras certas.
— O doutor Steffano... ele me convidou para assistir a um concerto. Com a Filarmônica de Florença. É... é um programa cultural. Só isso. — As palavras saíram apressadas, como se quisesse diminuir a importância do convite, embora fosse óbvio que não se tratava de um simples programa.
Antonella a observou por um momento, sem perder o sorriso. Seus olhos se estreitaram levemente, e havia algo de ternura e encantamento em sua expressão — como uma avó cúmplice que adivinha antes mesmo de ouvir a resposta inteira.
— Ora... mas é claro, Isabella. Você deve ir, sim. Maria e eu ficaremos com Aurora com o maior prazer. — Ela fez uma pausa, como se saboreasse o pensamento. — Um convite para a Filarmônica? Isso é uma ocasião especial, minha querida.
— Prometo.
Ela sairia, aceitaria o convite, usaria o vestido bonito... mas o nome que ecoava em seu peito era outro. O rosto que invadia seus sonhos, a boca que ainda sentia nos lábios, as mãos que marcaram sua pele... eram de Lorenzo.
E isso doía.
Doía mais do que queria admitir. Porque ela sabia que aquele concerto seria uma tentativa desesperada de distrair-se. Uma forma de provar a si mesma que era capaz de seguir em frente, que podia ser desejada por outro homem. Um que lhe sorria sem sombras nos olhos. Que a tratava com respeito e doçura, e que talvez, se o destino quisesse, pudesse amá-la.
Mas não era Lorenzo.
E Lorenzo... era o motivo por trás de cada suspiro inquieto.
Ela saiu da sala com o estojo de vestido nas mãos, agradecendo baixinho mais uma vez. E conforme atravessava o corredor, com as palavras doces de Antonella ainda pairando no ar, sentia uma parte de si se alegrar pela oportunidade, mas outra, mais profunda, se despedaçar.
Porque amar em silêncio era como carregar um segredo que queima por dentro.
E por mais que a música do concerto a encantasse, por mais que Steffano lhe oferecesse um sorriso gentil e um lugar seguro ao seu lado, o coração de Isabella já tinha dono.
Um dono que talvez jamais soubesse o que fazer com ele.

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