Comprei um Gigolô e ele era um Bilionário romance Capítulo 26

A pergunta pairou entre nós, pesada e inevitável. Christian manteve o olhar fixo no meu por um longo momento, como se avaliasse quanto de verdade eu merecia ouvir. Então, surpreendentemente, ele sorriu – não aquele sorriso confiante que usava com o mundo, mas algo mais suave, quase resignado.

— Não é algo que se supere da noite para o dia. — Ele me devolveu minhas próprias palavras, e por algum motivo, isso doeu mais do que qualquer outra resposta teria doído.

Desviei o olhar, subitamente interessada no padrão do tapete sob nossos pés. Christian se aproximou, mantendo ainda uma distância respeitosa.

— Não da forma que você está pensando — ele esclareceu. — Não sinto amor por ela, não mais. Mas sinto a marca que ela deixou. — Passou a mão pelo cabelo, aquele gesto que eu já reconhecia como sinal de desconforto. — A traição dela não afetou apenas os negócios da minha família. Afetou minha capacidade de... confiar.

A vulnerabilidade em sua voz me pegou desprevenida. Este não era o CEO confiante ou o sedutor habilidoso. Era apenas um homem que, como eu, carregava cicatrizes de um amor que tinha dado errado.

— Entendo isso melhor do que você imagina — murmurei, a raiva anterior se dissipando aos poucos.

Christian se sentou na beirada da cama, os ombros ligeiramente curvados – uma postura que nunca tinha visto nele antes.

— Desculpe por como agi no jantar — ele disse, olhando para as próprias mãos. — Foi... inapropriado.

— Foi — concordei, mas sem hostilidade. — Mas entendo por quê.

Ele ergueu os olhos, surpreso.

— Entende?

— Ver Alex e Francesca na mesma noite não deve ter sido fácil — expliquei, sentando-me na poltrona em frente a ele. — E então... bem, você nos viu naquela situação na escada.

Christian assentiu lentamente.

— Não foi apenas isso. — Ele hesitou, como se escolhesse cuidadosamente as palavras. — Foi ver como ele olhava para você. Como se ainda tivesse direitos sobre você.

— Ele não tem — afirmei com mais convicção do que sentia. — Não importa que sentimentos confusos eu ainda tenha, Alex perdeu qualquer direito sobre mim no momento em que escolheu Elise.

Um silêncio confortável se estabeleceu entre nós. Era estranho como, em meio a tantas mentiras e acordos, conseguíamos encontrar momentos de honestidade quase brutal um com o outro.

— Amanhã será um longo dia — Christian comentou após algum tempo, mudando de assunto. — O evento com os influenciadores.

Revirei os olhos involuntariamente.

— Não parece muito animado com isso.

Ele soltou um suspiro exasperado.

— É uma ideia da Elite RP. Aparentemente, precisamos de jovens com milhões de seguidores postando fotos de taças de vinho para "revitalizar nossa imagem".

Havia um desdém evidente em seu tom que me fez sorrir.

— Não concorda?

— Não me entenda mal — Christian levantou-se, caminhando até a janela. — Entendo a importância das redes sociais. Mas a Bellucci tem quatro gerações de tradição. Queria algo que transmitisse nossa história, nossa autenticidade. Não apenas um cenário genérico para selfies com hashtags.

— Como assim, genérico?

Ele gesticulou vagamente.

— Um "piquenique instagramável" entre os vinhedos. Balões, almofadas coloridas, luzinhas. Poderia ser qualquer marca, qualquer produto. Nada daquilo diz "Bellucci". — Ele balançou a cabeça. — Mas Marco insistiu que precisávamos de uma presença mais forte nas redes sociais, e a Elite RP é "a melhor do mercado atual".

— A melhor? — deixei escapar um som de desdém. — Por favor. É pateticamente genérica, você mesmo disse.

Christian me olhou com curiosidade.

— E quem você sugeriria? Se não a agência mais badalada do momento?

— Eu.

A palavra escapou antes que eu pudesse pensar direito. Christian virou-se completamente para mim, sobrancelhas erguidas.

— Você?

— Você continua me surpreendendo, Zoey Aguilar.

Algo na forma como ele disse meu nome fez meu coração acelerar. Havia uma intimidade naquele momento que não tinha nada a ver com nossos corpos e tudo a ver com as partes de nós que raramente mostrávamos ao mundo.

— Bom, não importa — falei, quebrando o momento. — Amanhã teremos que sorrir e posar para dezenas de influenciadores. Melhor descansarmos.

Christian assentiu, levantando-se.

— Vou preparar o sofá.

Como nas noites anteriores, ele pegou um travesseiro e um lençol para improvisar sua cama no sofá. Enquanto me dirigia ao banheiro para me trocar, não pude deixar de pensar no quanto as coisas tinham mudado em tão poucos dias. Não apenas entre Christian e eu, mas dentro de mim mesma.

Quando voltei, já usando uma camisola mais discreta que as anteriores, Christian estava sentado no sofá, olhando para o celular.

— Tudo certo para amanhã? — perguntei.

Ele ergueu os olhos, e por um instante, algo passou por seu rosto – algo que não consegui identificar.

— Tudo certo.

Entrei na cama, puxando as cobertas até o queixo.

— Boa noite, Christian.

— Boa noite, Zoey.

No escuro, ouvi-o se acomodar no sofá. Por algum motivo, a distância entre nós parecia maior do que nunca, apesar da conversa íntima que tínhamos acabado de ter. Ou talvez exatamente por causa dela.

O sono demorou a chegar, minha mente repassando nossas palavras. "Não é algo que se supere da noite para o dia". Ele ainda tinha sentimentos por Francesca. E eu por Alex. Duas pessoas feridas, fingindo algo que não existia, enquanto escondiam verdades que doíam demais para serem completamente reveladas.

Que par estranho formávamos.