Cap. 11
— Podemos conversar um minutinho antes? — perguntou Magda, com a voz baixa, quase como quem confidencia um segredo.
Andrews assentiu, e ela se certificou de que o sobrinho não estava por perto antes de se sentar à mesa. Serviu-lhe um café fresco, puxou a cadeira com calma e apoiou os cotovelos na mesa, entrelaçando os dedos.
— É sobre o Gabriel — ela começou, olhando nos olhos dele. — Não é nada ruim… pelo contrário. Ele está… diferente. Melhor. Mais animado.
Andrews sorriu, inclinando-se para ouvir melhor. Aquela era, sem dúvida, uma das notícias que mais gostaria de ouvir.
— Que bom — disse ele, sincero. — Eu tenho percebido isso também. Está mais engajado nas aulas, parece mais presente.
— Ele fala de uma moça — Magda continuou, com um brilho divertido nos olhos. — Todos os dias, depois da academia ou da faculdade… ele chega contando. Diz que ela está o seguindo. Que sempre está por perto. Primeiro achei que fosse algum tipo de alucinação. Mas ele fala com tanta empolgação, com tantos detalhes… que me pergunto se não seja real mesmo.
Andrews franziu as sobrancelhas, processando a informação.
— Uma moça? Ele fala o nome dela?
— Nunca — respondeu ela. — Mas ele a chama de “minha pequena joia”. Vê se pode? E descreve tudo: o horário em que ela sai de casa, o caminho que faz, o ônibus que pega… Ele memorizou os passos dela. E, curiosamente, agora são os mesmos passos dele. Estudam na mesma turma — ele confirmou isso há uns dias. E… — Magda deu uma risadinha — acho que ele mudou os próprios horários só pra coincidir com os dela. Nunca vi ele assim. Mas não sei se é ela que está seguindo ele ou ele que está seguindo ela… e isso me preocupa.
Andrews recostou-se na cadeira, pensativo. Subitamente, lembrou-se da garota peculiar que vira na escadaria da faculdade dias atrás. Aquela que, por um instante, achou que o estivesse encarando, mas que, na verdade, mantinha os olhos fixos em Gabriel. Aquela que desaparecera rápido demais, mas que ele achou familiar, de algum lugar que não conseguia se lembrar.
— Acho que eu a vi — comentou ele, mais para si mesmo. — Uma garota… com uma aparência diferente, um pouco desajeitada. Estava parada no alto da escada quando cheguei com ele. Fiquei com a impressão de que estava olhando diretamente pra mim, mas depois percebi que era pro Gabriel. E, antes que eu pudesse falar algo, ela desapareceu. Como se nunca tivesse estado lá.
Magda sorriu, cúmplice.
— Talvez seja ela. Só sei que, desde que tudo isso começou, o Gabriel parece mais vivo. Está mais disposto, mais presente. Até me chama pra conversar. Antes, ficava horas trancado no quarto, ou mergulhado nos próprios fones de ouvido. Agora… ele ri. Conta histórias. Ele está interagindo com o mundo, Andrews. Está se divertindo.
Andrews segurou o copo de café com ambas as mãos, absorvendo tudo em silêncio. Aquilo era grande. Muito grande. Gabriel, sempre tão introspectivo, tão isolado… agora estava saindo de casa, criando rotinas com outra pessoa. Talvez, pela primeira vez, conectando-se emocionalmente com alguém que não era da própria família. Respirou fundo e sorriu.
— Isso me deixa muito feliz, Magda. Muito mesmo. Vou investigar com cuidado. Mas, se for quem eu acho que é… talvez o destino esteja dando um empurrãozinho pra ele.
Nesse momento, a porta do corredor rangeu suavemente e Gabriel apareceu no vão, usando uma camiseta limpa e os cabelos ainda meio bagunçados após o banho. Ao ver Andrews, o rosto se iluminou, e ele caminhou até eles com a postura ereta e um brilho novo nos olhos.
— Você chegou! — disse com uma empolgação que Andrews raramente via. — Eu tava esperando por você.
— Que bom te ver assim, rapaz — respondeu Andrews, levantando-se para cumprimentá-lo com um leve toque no ombro. — Como você está?
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Os comentários dos leitores sobre o romance: Esposa impostora e o Magnata Sombrio.