Cap.10
Os dias seguiram assim, ela na cadeira de trás, ele na da frente. Silêncio. Proximidade. Segurança.
Brenda nem sabia quando aquilo se tornara rotina, só sabia que, agora, aquela meia hora dividindo o mesmo ônibus era o único momento do dia em que conseguia respirar com alguma tranquilidade. Gabriel não falava, não olhava para trás, mas sua presença bastava. Era como uma muralha invisível que Jonas não ousava atravessar.
E Jonas estava sempre por perto.
Ela o via à distância, perto das esquinas, fingindo atender o telefone ou cruzar a rua sem destino. Algumas vezes, apenas encostado em algum carro velho, de braços cruzados. Brenda já não tinha mais o que pensar a não ser que pudesse ser o destino — mal sabia ela.
Gabriel a observava furtivamente, e sempre notava e anotava rotinas, gostos, como se estivesse a estudando.
Esperava o ônibus no mesmo ponto todos os dias, e Brenda sempre estranhava o fato de ele não pegar nenhum dos ônibus que o levariam para casa, já que, a partir dali, eles seguiriam por caminhos diferentes.
Os horários não batiam com o dela. Brenda percebeu isso. Começou a estranhar quando, dia após dia, ele parecia perder o próprio ônibus. Ela pensava ser algum padrão, ou imaginava que ele ia encontrar alguém especial no quarto ônibus. Mas ela não sabia que, assim que subia no dela, ele seguia no próximo, que o levava para seu bairro.
No início, achou coincidência. Depois, ficou intrigada. Mas agora… agora havia algo de reconfortante nisso, ter alguém por perto em quem podia se apoiar — mesmo que silenciosamente.
O fato de saber que ele estava ali, e que ficaria até ela partir, era o suficiente para que o medo se dissipasse por alguns instantes.
E Gabriel? Gabriel só partia quando o ônibus dela sumia na esquina — silencioso, mas atento. E quase sempre, nesses dias em que o ônibus partia com Brenda sentada na última fileira, ele sentia o olhar de Jonas do outro lado da rua. Ele parecia insistente em perseguir Brenda silenciosamente, assim como ela fazia com Gabriel — só que com propósitos diferentes.
Mesmo que Jonas o encarasse de forma intimidadora, ele não desviava o olhar.
Apenas o encarava de volta, com a frieza de quem sabe exatamente do que é capaz — e do que não tem medo.
Jonas afastou-se como um vulto incomodado, sumindo entre os prédios. E Gabriel, pela primeira vez, ficou parado ali por alguns segundos a mais, com os olhos ainda fixos na direção por onde o carro dele desapareceu.
Naquela tarde, ele voltou a encontrá-la no mesmo horário de sempre. A essa altura, ele já sabia que ela saía da empresa por volta das cinco e meia, e chegava à academia pouco depois das seis. Ele se adiantava, fingia estar terminando um treino ou apenas aquecendo. Mas, na verdade, esperava. Esperava por ela e ficava ali sempre mais tempo que a maioria dos clientes.
E ela sabia.
Não precisava de palavras. O jeito como seus olhos procuravam por ele ao chegar, o modo como os ombros relaxavam ao vê-lo no canto da sala — como se tudo estivesse, enfim, no lugar.
Ela se debruçava no balcão de atendimento, com o queixo apoiado nas mãos, observando Gabriel no espelho da parede à frente.
Ele estava fazendo exercícios de força, a camisa cinza colada ao corpo, as veias do antebraço marcadas, o foco inteiro voltado para o treino. Fones nos ouvidos. Rosto impassível. Mas ela via mais — o cuidado nos movimentos, a disciplina contida em cada série, a presença silenciosa que ocupava tudo. Nada de espetacular — se não fosse pelos olhos dela.
Foi então que Talyta se aproximou, sorrateira por trás, encostando o corpo de leve no dela e cochichando com um tom debochado:
— Já contou pro seu namorado que você é a namorada dele?
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Os comentários dos leitores sobre o romance: Esposa impostora e o Magnata Sombrio.