Cap. 28
Gabriel apenas respirou fundo. O silêncio dele era como uma muralha irritante para Donovan, que estava começando a perder a paciência, mas respeitou. Apenas deu um tapinha leve no braço dele, como quem reconhece que, às vezes, é melhor não insistir.
Mais tarde, antes de a academia fechar, eles já tinham encerrado ali. Gabriel tirou a toalha do ombro e a jogou na mochila com mais pressa do que o habitual.
Donovan estranhou.
— Não vai esperar por ela hoje?
Gabriel fechou o zíper com força.
— Não. E parece que Andrews te deu toda a minha rotina, não é? — respondeu, sem dar explicações.
Donovan não comentou mais nada. Apenas o acompanhou até o carro esportivo, cujas linhas luxuosas chamavam a atenção de qualquer um que passasse. Gabriel olhou o veículo com interesse antes de entrar.
Já dentro do carro, enquanto o motor ronronava sob o capô, ele quebrou o silêncio.
— Que carro é esse mesmo?
Donovan sorriu, como quem sabia que a pergunta viria em algum momento.
— Um dos meus favoritos. Sabia que você ia curtir. — disse, enquanto trocava de marcha suavemente. — Tenho alguns outros... posso te mostrar um dia ou ir te buscar com um diferente a cada vez.
— Um assistente ganha tanto?
— Não... — Donovan suspirou. — Ganho bem até demais com Andrews, mas meu trabalho é outro. Eu sou um caçador de recompensas e caço cabeças por aí, então... digamos que sou alguém de quem as pessoas preferem manter distância.
— Até sua família e esposa?
— Não tenho! Pessoas como eu não devem ter relacionamentos nem se apegar a ninguém, nunca. Alguns rivais apenas esperam um ponto fraco para arrancar sua cabeça. Eu não tenho isso.
— Então você também não precisa do amor de ninguém. — ele comentou, se encostando no assento como se tivesse ouvido uma conversa agradável.
— Não é bem assim, mas escolhas são escolhas. Não posso colocar pessoas em risco pagando pelas minhas escolhas, só isso. Mas, se não fosse assim... — ele suspirou, pensativo.
— Eu gostaria de ter um desses. Um dia. — Gabriel murmurou, observando o painel iluminado do carro, ignorando o assunto de Donovan.
Donovan sorriu com mais sinceridade agora.
— E vai ter. Está trabalhando num projeto grande com a gente, e, quando esse sistema for lançado, você vai ganhar dinheiro suficiente pra escolher o modelo que quiser. Um carro desses será só o mínimo.
Gabriel assentiu em silêncio. A gratidão estava nos olhos, mas as palavras ainda estavam presas entre os dentes.
Quando chegaram, ele agradeceu com um aceno discreto e desceu do carro. Mal fechou a porta, ouviu passos acelerados.
A mesma mulher de antes, a que falara mal dele para Brenda tempos atrás, parou de repente na calçada. Os olhos alternavam entre o carro esportivo e Gabriel, visivelmente surpresa.
Ela ajeitou o cabelo, tentou recompor o sorriso e fez um aceno forçado com a mão.
Mas ele apenas a olhou por um segundo. Frio. Sem sombra de simpatia. Depois desviou o olhar e continuou andando, entrando em casa sem dizer uma palavra. Donovan olhou pelo vidro fumê, sem sair, e ficou boquiaberto com a situação e com a frustração da moça, ainda com a mão estendida.
— Olha lá... o cara arrasando corações. — Donovan brincou, com um ar sério, ligando o carro.
Ela ficou ali, sozinha na calçada, sentindo o calor no rosto subir junto com a vergonha. Fechou a cara, bufou e bateu o pé no chão, irritada.
Talita soltou um suspiro leve, mas não olhou.
— Hora extra. — respondeu, empilhando os recibos. — Estou devendo uma grana. Preciso compensar de alguma forma... tenho que conseguir alguns serviços. Você não tem algum contato?
Brenda largou o pano e se apoiou no balcão, os olhos preocupados.
— Quer pegar meus turnos também? Posso ceder a você se estiver precisando muito.
Talita balançou a cabeça, como se recusasse uma bondade que doía.
— Já peguei uns a mais. Não quero te prejudicar também. Além disso, você tem que economizar de novo para comprar sua casa e sair da casa dos seus pais conservadores e loucos.
Brenda ficou calada por um momento, observando a amiga dobrar com cuidado um recibo, como se aquilo fosse a coisa mais importante do mundo.
— Mas não é tão sério assim. Eu só tenho que sair antes que eles mesmos arrumem um casamento para mim.
— E... o caso do Jonas, eles descobriram? — Talita perguntou, e Brenda suspirou com alívio.
— Eu nem sei o que faria se eles descobrissem. Sei que me jogariam para fora.
— E você nem mesmo chegou a ir pra cama com ele. Você foi esperta em se preservar.
— Hum... e pensar que eu dizia que só queria depois do casamento, e ele me prometendo que nós casaríamos... que mulher burra eu era.
— Não, burro era ele. Aquele desgraçado sem alça.
— Mas e você? Tá com problema sério? — perguntou, finalmente.

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