Cap. 29
Talita hesitou. Depois, com um sussurro quase inaudível:
— Estou. Peguei dinheiro emprestado... e agora tem uns caras vindo me cobrar, e eles são bem da pesada. Pelo menos, no seu caso, se resolvia com a polícia. — Talita comentou com desânimo e medo.
O peito de Brenda apertou.
— E os meninos? Eles estão bem?
Talita tentou sorrir, mas falhou.
— Estão com a minha mãe. Achei melhor tirar eles de perto por uns dias... até eu resolver isso. Lá em casa não tem condições de eles ficarem de jeito nenhum.
Brenda se aproximou um pouco mais.
— Por favor, me diz que você não pegou uma quantia tão alta?
Talita abaixou a cabeça. O silêncio respondeu por ela.
Brenda fechou os olhos e respirou fundo.
— Thali... você precisa denunciar. Vai na polícia. Isso é perigoso demais, e os juros só aumentam a cada dia.
— Amiga... — a voz de Talita agora era só um fiapo — eles são literalmente uma ameaça de morte. Eu denuncio, e quem paga o pato sou eu. E meus filhos. Não posso arriscar. Além disso... eu tinha pegado esse dinheiro porque estava desesperada. Era para o tratamento do Leone. Você sabe que meu mais novo tem leucemia, e alguns tratamentos só consegui se fossem pagos.
O silêncio voltou a reinar, mas agora estava mais carregado. Brenda passou a mão no rosto.
— Eu finalmente me livrei de um problema... e agora você tá entrando em outro. Eu vou tentar te ajudar, e vamos sair desse problema juntas, está bem?
— Você não se livrou de tudo ainda. — Talita respondeu, erguendo os olhos. — Pelo que vi hoje, você e o Gabriel nem se falam mais. E vocês eram grudados, mesmo que indiretamente. Ele foi até embora sem falar com você.
Brenda olhou para o chão por um tempo. Depois suspirou.
— Eu não sei o que aconteceu. Um dia a gente tava conversando no quarto de hospital... e agora ele me olha como se eu não existisse.
— Você devia conversar com ele. De verdade. Insistir. Vocês eram amigos de verdade. Isso não desaparece assim. Afinal, ele levou uma facada por você.
Brenda assentiu, cansada.
— Amanhã eu tento. No trabalho. Lá a gente vai estar preso na mesma sala... não tem como fugir.
No dia seguinte, o céu parecia cinza até no verão.
Brenda chegou cedo à faculdade. Caminhou pelos corredores com o estômago apertado, repassando mentalmente mil formas de puxar assunto com Gabriel. Pensou em algo casual, algo leve, algo direto. Mas nenhuma opção parecia boa o bastante. Mesmo que parecesse que ela estava se humilhando, ela não queria desistir antes de saber o que estava acontecendo de verdade.
Ele já estava lá, como sempre. Fones no ouvido. Camisa social preta com um pingente de cruz que se destacava por cima da camisa. A expressão fechada.
Ela se aproximou devagar.
— Bom dia, Gabriel.
Nada.
Brenda ficou sentada, o cursor piscando no monitor. O silêncio pesava como nunca. E o vazio que Gabriel deixara para trás doía como se carregasse todas as palavras que ela queria ouvir, e não vieram.
A noite estava quente, abafada, com cheiro de rua molhada mesmo sem chuva.
Gabriel saía do prédio da empresa com os fones no ouvido e a postura encolhida, do jeito que andava quando não queria que ninguém se aproximasse. Olhou a mensagem no celular: Donovan avisou que ele não treinaria hoje, pois Gabriel não poderia ir todos os dias à academia até estar cem por cento recuperado.
Mas Brenda, a poucos metros dali, o seguia sorrateiramente, como quem faz parte de uma missão secreta. Tinha até prendido o cabelo num coque improvisado e vestia uma jaqueta velha, como se isso disfarçasse algo.
— Se ele não quer falar comigo, problema dele — sussurrou para si mesma. — Mas eu vou seguir mesmo assim. Ele que lute, e me aguente até decidir falar comigo como uma pessoa civilizada.
Disfarçando, caminhava no mesmo ritmo, como quem, coincidentemente, também estava indo naquela direção.
Quando Gabriel entrou no ônibus, ela deu meia-volta, esperou cinco segundos e entrou pela porta de trás. Sentou longe dele, abriu o celular como se estivesse superocupada e fingiu bocejar de tédio.
Mas estava de olho. Totalmente de olho.
No ponto final, os dois desceram. Gabriel seguiu seu caminho... Brenda também.
Quando ele dobrou uma esquina, ela fingiu que ia entrar em casa. Encostou no portão, mexeu na bolsa e, quando ele se afastou, saiu trotando atrás, se esgueirando atrás de postes e carros estacionados. De vez em quando, Gabriel olhava pra trás, e ela se jogava contra o muro como se estivesse numa missão da CIA.
Num momento particularmente suspeito, ela chegou a esconder metade do rosto com uma sacola plástica que achou jogada na calçada.
“Digna de Oscar”, pensou, enquanto se agachava atrás de uma árvore quase sem folhas.
Foi então que, ao virar a esquina da rua onde ele morava, ela parou. Lá estava ele, andando como sempre, de ombros curvados. E uma figura familiar apareceu — a mulher que fez Brenda travar no mesmo lugar.

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Os comentários dos leitores sobre o romance: Esposa impostora e o Magnata Sombrio.