Capítulo 6 – Antes de se recuperar.
A porta se abriu e ela suspirou aliviada.
Uma silhueta entrou, e Aurora piscou algumas vezes, tentando focar a visão desejando que fosse qualquer pessoa menos aquele homem louco.
— Meu Deus… o que ele fez com você? Aquele menino sem juízo! — A voz rouca da senhora invadia os ouvidos de Aurora, e então, um toque suave em seu rosto. — Céus, aguente firme. Vou cuidar da senhora agora. — ela avisou enquanto alguns empregados entravam trazendo bandejas.
A segunda governanta ajudou Aurora a se alimentar e em seguida cuidou dela como se fosse uma mãe, ela não conhecia aquela mulher, mas aquele terninho azul-marinho, indicava que ela poderia ser a governanta da casa, mas então quem era a outra mulher indiferente?
Aurora estava sentada sobre o tapete, o prato à sua frente agora vazio. Ela devorou a comida com uma fome insaciável, como se o simples ato de comer fosse um alívio do tormento em que se encontrava. Seu corpo, enfraquecido pelos dias de jejum forçado, absorvia cada mordida com uma gratidão silenciosa.
A governanta a observava de longe, sentada na ponta da cama, as mãos cruzadas no colo, enquanto seus olhos atentos estudavam Aurora. Ela parecia preocupada, mas também um tanto curiosa.
— Você está melhor? — a governanta perguntou sua voz suave, mas carregada de preocupação.
Aurora não respondeu imediatamente. Ela ainda estava concentrada na sensação de saciedade, mas o silêncio que pairava na sala a fez levantar os olhos para a mulher. Algo nela parecia acolhedor, mas também havia uma severidade oculta.
— Sim… estou melhor, obrigada. — Aurora falou com dificuldade, a garganta ainda arranhando.
A governanta deu um suspiro, observando Aurora por um momento antes de quebrar o silêncio novamente.
— Onde está Andrews, você sabe? — perguntou ela, de maneira direta, mas com um toque de hesitação.
Aurora não soube como responder de imediato. Seus pensamentos estavam confusos, turvos pela dor, pela raiva e pelo medo. Mas, depois de alguns segundos, ela não conseguiu mais se conter.
— Ele... ele me trancou no quarto... — Aurora engoliu em seco, as palavras saindo pesadas e amargas. — Ele não respondeu aos meus pedidos de ajuda. Fui deixada ali, sozinha, por dias. Ele é um monstro, uma pessoa cruel e... — Ela pausou, sentindo a raiva ferver em seu peito.
— Como duas pessoas recém-casadas se odiar tanto? — ela perguntou confusa. — Quando ele me disse que já tinha se casado fiquei até surpresa e mais surpresa ainda que não era quem eu esperava, por isso eu voltei novamente para essa casa, quando soube que a esposa dele era outra me senti até mais aliviada.
— Não crie expectativas, ele é incompatível comigo. Ele me trata como uma prisioneira.
O olhar da governanta suavizou, mas, em vez de ser compreensiva, ela apareceu em defesa de Andrews.
— Eu entendo que isso tenha sido doloroso para você, mas... você deve entender que Andrews não estava em casa durante esse tempo. — a governanta começou, sua voz baixa e firme. — Ele estava em uma missão importante. Ele ligou para mim, pedindo para eu vir e cuidar de você. Eu soube o que estava acontecendo, e... — Ela hesitou antes de continuar. — Ele não estava conseguindo vir para casa, significa que ele não queria que as coisas fossem tão longe.
Aurora a olhou, incrédula, suas sobrancelhas se franzindo.
— Ele estava em uma missão? — ela perguntou, quase sem acreditar. — Então ele me deixou aqui, trancada, porque estava em uma missão? Como pode justificar isso? Ele me trancou, me ignorou! E agora ele é o que para estar em uma missão? — perguntou cuspindo as palavras.
A governanta parecia sentir a tensão no ar, mas se manteve calma.
— Eu sei que não parece razoável, mas você precisa entender... — ela baixou a voz, ficando ainda mais séria. — Andrews... ele tem seus próprios demônios, suas próprias razões para agir assim, mas não estou dizendo que você mereça, afinal ele deveria aprender a separar as coisas.
— Razões? — Aurora cortou com amargor. — Razões para me tratar como se eu fosse nada? Razões para me deixar apodrecer sozinha em um quarto? Ele é um homem frio e insensível. Eu deveria ter ouvido as vozes na minha cabeça quando ela dizia para eu correr.
A governanta suspirou, cruzando os braços novamente.
— É difícil de compreender, mas tudo tem um bom motivo. — Ela falou com paciência, mas a compreensão em sua voz não parecia sincera. — Andrews passou por muito, muito mais do que você imagina. Ele perdeu alguém muito importante para ele, alguém que você nunca entenderia.
Aurora sentiu o estômago revirar. "Perdeu alguém importante"? Isso não justificava a forma como ele a tratava. Nada justificava aquilo.
— Mas não é mentira! Foi exatamente por causa disso que eu me casei, eu preciso de dinheiro, preciso de muito dinheiro, ele está certo, eu sou interesseira e sem escrúpulos, capaz de tudo por dinheiro! — ela asseverou com convicção.
- Tudo bem, vamos esquecer esse assunto, isso nao vai te ajudar a melhorar. - a gopvernanta suspirou tranquila.
Andrews chegou em casa em meio à fúria, e ele mal conseguia controlar os pensamentos que giravam em sua cabeça. Durante os últimos três dias, ele se afastou de tudo e de todos, imerso em sua obsessão por sua ex enquanto tentava a encontrar por conta própria, mesmo com tantos homens vasculhando a cidade, ela parecia ter virado fumaça.
Donovan já esperava ele na entrada da mansão, tão cansado quanto Andrews, ele não ousou descansar enquanto seu chefe esta fixado naquela missão.
— Ela estava em nenhum dos lugares que já conhecíamos, parece que já tinha tudo planejado, ela e os pais. — O assistente disse, com um tom hesitante. — Ela fugiu. Ela levou o dinheiro.
Andrews não disse nada de imediato. Seus olhos estavam fixos no chão, como se tentasse controlar a onda de raiva que ameaçava explodir.
— Fugiu? Fugiu só com aquele dinheiro? Mesmo que ela tenha me enganado e conseguido alguns milhões, para aquela família isso são como centavos, Ela vai aparecer em algum momento, mas não estou com paciência para esperar.
— Você deveria descansar agora, passou três dias acordados, mal se alimentou.
Andrews virou-se abruptamente, seu olhar fixo no assistente.
— Já que é assim, vamos mexer no que esta aqui então, envie homens atrás de informações sobre Aurora. Quero saber de onde ela veio, já que nunca ouvi falar dessa mulher antes, não acredito que possa ser a meia irmã da família Blonsoon. — Ele falou com uma frieza que congelou o ar ao seu redor.
— Sim, senhor... — seu assistente confirmou, observando-o subir as escadas.
— Eu vou conversar com ela agora, ela sabe onde os pais estão, se ela não souber, vou fazer ela saber. — Andrews disse, sua voz carregada de ameaça.
Andrews subiu as escadas em direção ao quarto de Aurora, mesmo sabendo que havia ido longe demais, não se importava, nem com o fato de ela estar mal, e nem que passaria dos limites mais uma vez.
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Os comentários dos leitores sobre o romance: Esposa impostora e o Magnata Sombrio.