Cap. 60 : Segredos e Dívidas
— Não é nada importante.
— É difícil responder isso?
— São coisas de família, não tem importância. — Ela suspirou, abaixando a cabeça com um sorriso fraco.
— Sei que nem eu e nem você gostamos da ideia de estar presos nisso por causa de outro alguém que trapaceou, mas, querendo ou não, isso também tem a ver comigo.
— Não, não tem. Você não vai precisar se preocupar com nada disso, porque esse casamento é só uma fachada. Então pode ficar tranquilo. — Ela asseverou, e Andrews sorriu de forma rígida, cerrando os punhos.
— Se você não me contar, eu posso apenas ir lá e comprar informações. Sua tia parece gostar de dinheiro, parece ser do tipo que faz tudo por alguns dólares. — Ele comentou com um olhar maldoso fixo ao de Aurora, que travou.
— Não precisa fazer isso... — Ela suspirou, com a voz falhando.
— Então me diga qual o problema. Por que sua tia acha que você se vende? Isso é mesmo verdade?
— Antes, qual a sua opinião sobre isso? Levando em conta a forma como você chegou na minha vida... — Ele parou de falar, encarando o teto, mas Aurora entendeu o que ele queria dizer e sorriu de forma amarga.
— Meia palavra sempre basta, mas você está certo. Eu me vendi para conseguir dinheiro.
— Isso não é novidade, e, pela sua cara, você nem se importava com tudo que ela dizia.
— Claro que não. A verdade é que... eu não fui bem criada. Na verdade, nem fui. Minha mãe me mandou para um internato quando eu tinha três anos, porque não podia me criar, e meu pai a abandonou sem nada. Aos dezesseis anos, ela foi me buscar. Foi uma bênção ver minha mãe depois de tantos anos... Eu nem mesmo lembrava como ela era, mas, quando a vi, meu coração a reconheceu. Fiquei tão feliz... Ela me levou de volta para casa, me deu uma escola, comida... uma vida. — Ela contava com uma tristeza involuntária que tentava disfarçar com um sorriso. — Mas eu não fui bem criada quando voltei. Eu era o pior tipo. Por isso minha tia disse aquelas palavras.
Ela parou para respirar, enquanto Andrews estava paralisado, ouvindo.
— Minha tia sempre achou que minha mãe deveria ter me vendido quando eu era criança. — Ela soltou a frase como se fosse um fato qualquer. — Ela costumava dizer que crianças bonitas valiam dinheiro e que, se minha mãe fosse esperta, teria feito isso, em vez de me jogar em um internato e depois me trazer de volta só para lhe dar trabalho. Mas ela estava certa... Eu sempre fui muito folgada. Eu era desprezível aos olhos da minha tia.
O maxilar de Andrews se contraiu.
— Parece que ela também é uma mulher desprezível, já que você só tinha dezesseis anos.
Aurora deu de ombros.
— Ela acha que minha mãe me desperdiçou... Então, agora que sabe que eu estou me vendendo, quer a parte dela. Simples assim. — Disse com indiferença, como se fosse algo tão rotineiro e normal que fez Andrews sentir um incômodo estranho no peito.
— Ela não sabe que estamos casados, certo? — Andrews perguntou, desconfiado, mudando de assunto. — Afinal, como ela poderia achar que uma mulher casada pode se vender?
— Na verdade, nenhum deles sabe. Mesmo que saia no jornal, eu estou tão diferente que nem vão acreditar que sou eu. — Ela contou, mas em um tom de alívio que Andrews percebeu.
— Acha que vai esconder isso a vida inteira? Nosso casamento, por mais que eu desgoste, não é algo tão fácil de ser quebrado. Alguém tem que estar disposto a perder, e nenhum de nós dois quer isso, certo? Por isso, eles podem saber muito em breve. Eu estou sempre nas notícias, mesmo que tente evitar, e, consequentemente, você também.
— Andrews... você não se importa com o fato de estar amarrado a alguém que não ama?
— Apesar de me enfrentar às vezes, ela é completamente submissa e faz tudo que eu mando. Mas isso não está condizendo com nada do que vejo aqui fora.
— Eu vou sair primeiro, senhor Andrews. — Ela avisou ao sair do banheiro, usando um vestido de alça justo na cintura e uma saia godê curta, acima dos joelhos.
— Ah... Tudo bem. Falando nisso, você acabou perdendo o dinheiro por minha causa, certo? — Ele perguntou, pegando a carteira e tirando algumas notas para entregar a ela.
Aurora sorriu, cética.
— Pode esquecer. Quantas vezes vou falar? Seu dinheiro não me interessa. Se eu quiser, eu trabalho e posso ganhar...
— Falando nisso! — Donovan interrompeu os dois ao perceber a tensão se formando entre eles. Então, tirou um envelope do bolso. — Eu achei o dinheiro no banco dos fundos onde você estava escondida.
Ele disse, entregando o envelope. Aurora o recolheu e saiu dali sem dizer mais nada, enquanto Andrews guardava as notas novamente, sentindo um gosto amargo na boca.
— O senhor está bem? — Donovan perguntou ao ver o olhar de Andrews petrificado na porta por onde Aurora saiu.
— Quem é ela de verdade? Aurora me deixa extremamente exausto. É difícil prever o que ela é. — Andrews suspirou, inquieto.
— Da mesma forma que ela não prevê quem é você. Mas, neste momento, você tem outro problema. Pode ser que a tia de Aurora descubra em breve que vocês, na verdade, são casados. — Donovan avisou, mostrando o celular a Andrews, que arqueou a sobrancelha, confuso.
— Eu estava com uma amante? — Andrews perguntou para Donovan e, em seguida, riu de forma cética ao ler as notícias.

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