Cap. 71: ou é do meu jeito, ou não.
Andrews ficou em silêncio, ainda digerindo todas aquelas informações que Donovan conseguiu.
As peças começavam a se encaixar. As informações que acabara de receber ecoavam em sua mente como um trovão distante, crescendo, se intensificando, até se tornarem impossíveis de ignorar.
— Claro que elas não falariam disso com tanta facilidade. Aurora deve sentir uma culpa terrível pelo que aconteceu — Rodrigo comentou, demonstrando remorso. — O que acha disso, Andrews?
Ele observou a expressão séria e o olhar perdido de Andrews, então sorriu. Um sorriso carregado de algo sombrio.
— Então, isso significa que aquela tia dela, além de explorá-la financeiramente, ainda tem a audácia de acusá-la desse ato desgraçado? — Sua voz era calma. Perigosamente calma.
Rodrigo e Donovan se entreolharam. Conheciam Andrews bem o suficiente para saber que, quando ele ficava assim, alguém iria pagar caro.
— E todos esses anos? — Andrews continuou. — Como diabos Aurora tem vivido? Por que voltou a ter contato com a mãe?
— Na verdade, Aurora nunca deixou de entrar em contato com a mãe. Depois que o padrasto foi preso, ela sempre mandou dinheiro para a mulher. Suspeito que a mãe tenha a acusado de ser a culpada pela situação ruim em que ficou — Donovan explicou.
— Ela começou a trabalhar quando tudo isso aconteceu?
Donovan inspirou fundo antes de responder.
— Desde que voltou para a casa da mãe, Aurora trabalha. Sempre trabalhou, só que as coisas ficaram ainda mais pesadas depois de tudo isso.
Andrews franziu o cenho.
— Mas o padrasto dela trabalhava, não? Ele sustentava a casa.
— Ela deve ter se sentido culpada. Como se fosse o motivo de sua mãe ter ficado desamparada — Rodrigo sugeriu.
— O que mais você descobriu? — Andrews perguntou, a voz baixa, mas carregada de tensão.
Donovan estreitou os olhos.
— Quando descobri onde ficava a antiga casa da mãe dela, fui atrás. Algumas pessoas do bairro relataram que já havia agressões domésticas antes mesmo de Aurora chegar.
Andrews pressionou os dentes.
— O homem que essa mulher ainda defende a espancava.
O silêncio pesou na sala.
Rodrigo se ajeitou na cadeira, passando uma mão pelo rosto.
— Então, basicamente, Aurora foi jogada no meio desse inferno e teve que se virar sozinha.
A mandíbula de Andrews travou. Tudo o que achava que entendia sobre Aurora estava desmoronando diante de seus olhos.
Ele queria perguntar mais, queria entender melhor.
— Enfim… que tal mudarmos de assunto e pensarmos nisso depois? — Rodrigo sugeriu, ainda mais tenso, na intenção de acalmar Andrews.
— Adivinhem — ele disse, animado. — Aurora está procurando emprego.
Andrews piscou, voltando à realidade.
— O quê?
Rodrigo sorriu, triunfante.
— E eu já resolvi isso. Vou indicá-la para sua empresa principal.
Andrews estreitou os olhos.
— Nem pense nisso.
Rodrigo ergueu uma sobrancelha.
— Ah, por favor. Agora você quer impedir que ela trabalhe?
Andrews se inclinou para frente, a expressão mais dura.
— Você acha que ela vai aceitar sabendo que estou lá?
— Eu não sei — Rodrigo deu de ombros. — Mas, considerando o que acabamos de descobrir, talvez seja a única chance de ela ter algo decente. Além disso, ela não vai saber que você é o dono de lá. Afinal, todos te chamam de Magnata A.
Andrews olhou para Donovan, como se buscasse alguma confirmação. Donovan apenas cruzou os braços.
— Você pode tentar impedir, mas eu acho que ela aceitaria. Até porque Aurora tem tanto interesse em você que nem mesmo sabe o que você faz da vida.
Andrews ficou em silêncio.
Rodrigo sorriu, percebendo que Andrews estava incomodado com o que Donovan disse.
Andrews fechou a expressão.
— Não.
Rodrigo suspirou.
— Ah, lá vem você sendo teimoso de novo…
— Vocês acham que dar um emprego para ela resolveria tudo? — Andrews rebateu, sua voz cortante. — Aurora ainda terá que lidar com aquela família exploradora. Acham que não vão explorá-la ainda mais, sabendo que está trabalhando?
Ele se inclinou para trás na cadeira, pensativo.
— Em vez disso, já avisei a diretora da universidade. Quero que concedam a ela uma bolsa de cem por cento. Como eu financio mais de setenta por cento daquele lugar, eles não questionaram.
Rodrigo piscou, surpreso.
— Isso não é muito exagero?
— Não me interessa se é exagero — Andrews disse friamente. — Eu decido o que é suficiente.
Donovan e Rodrigo não discutiram mais.
Mas, antes de sair do escritório, Rodrigo não conseguiu conter um último comentário.
— E o que você vai fazer agora, quanto a tudo que descobriu?
Andrews permaneceu em silêncio por um momento antes de finalmente responder:
— Nada.
Rodrigo e Donovan se entreolharam novamente, confusos.
— Você não vai intervir?
Andrews soltou um suspiro lento.
— Por enquanto, quero ver até onde Aurora vai com essa ideia de esconder as coisas.
Ele se recostou na cadeira, seus olhos assumindo um brilho frio.
— Vamos ver o que ela faz quando não houver mais saída. Tenho certeza de que os problemas irão na direção dela quando ela menos esperar.

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