Benjamin
Nunca pensei que acordar fosse doer tanto.
Minha cabeça latejava, o corpo pesava…
Mas nada se comparava ao buraco dentro do peito.
Era como se algo tivesse sido arrancado de mim com violência.
E o pior?
Fui eu quem entregou.
A confiança.
A lealdade.
O amor.
Tudo entregue de bandeja…
Pra mulher errada.
Abri os olhos devagar, ainda com a mente embaralhada.
As lembranças da noite anterior vinham em flashes — whisky, a solidão, a mensagem...
Aquela maldita mensagem.
“Papéis assinados. Já consegui o que eu queria.
Você só era um peão no meu tabuleiro.”
As palavras queimavam na minha memória como ácido.
Emily.
A mulher com quem eu me casei.
Com quem fiz planos.
A única com quem baixei a guarda depois de Rachel.
Sim… Rachel.
O amor que guardei por tantos anos.
Que Brandon roubou. Destruiu.
E Emily sabia disso.
Me abri com ela, deixei a dor passar.
Achei que a Emily… fosse minha cura.
Fechei os olhos com força.
Tentar esquecer só fazia doer mais.
— Finalmente acordou, ogro — a voz da Rosario cortou o silêncio.
Abri os olhos de novo e a vi sentada ali, ao meu lado, com os braços cruzados e aquele olhar afiado que parece atravessar até aço.
— Que porra você tá fazendo aqui? — minha voz saiu rouca.
— Evitando que você cometa mais burradas. — disse ela.
— E enchendo o saco, como sempre — retruquei.
Ela deu de ombros.
— Melhor que te deixar morrer de desgosto.
Suspirei.
— Eu não pedi sua ajuda, Rosario.
— Mas precisava.
Fiquei em silêncio. Porque ela estava certa.
Eu precisava.
Mesmo que não tivesse coragem de admitir.
Me virei de lado e encarei o teto.
As palavras da Emily ecoavam na minha cabeça como um veneno lento.
Fui enganado.
Manipulado.
E o pior: ainda não fazia ideia do quanto.
Mas uma coisa eu sabia:
eu não ia cair sozinho.
— Sabe que ficar se lamentando não vai te ajudar.
A voz da Rosario me chamou de novo à realidade.
— Você fala como se soubesse… como se me conhecesse.
— Conheço a dor da traição. Da perda.
Ela se aproximou um pouco mais.
— E isso, hombre... está exalando de você.
Rosario prendeu os olhos nos meus.
E, por alguns instantes, eu não consegui desviar.
Ela era o oposto das mulheres que amei.
Rachel. Linda, doce… uma menina no corpo de mulher.
Com um sorriso que iluminava o mundo.
Emily. Extravagante, sem filtro, com olhos cativantes.
Rosario. Ela chama atenção sem esforço.
Forte, sangue quente.
Sobrevivente — isso está estampado nela.
Olhos marcantes, traços firmes como ela, e um corpo escultural como o de muitas latinas.
Quebrei o contato visual e me virei.
Mas senti suas mãos no meu rosto, me obrigando a encará-la novamente.
— Já que não te conheço… então se apresente, ogro.
— O que quer dizer com isso? — perguntei, confuso.
Ela cruzou as pernas, jogou os braços sobre elas e entrelaçou os dedos.
— Vamos começar por Rachel?
Sentei num pulo.
— O que disse? — meu tom saiu ríspido.
— Calma, hombre.
Você sussurrou o nome dela enquanto dormia.
Suspirei, me ajeitei na cama.
Nunca confessei meus sentimentos a ninguém — muito menos a Rachel.
Ela era apaixonada pelo Brandon.
Mas Alex e Jack sempre desconfiaram.
— Ela era irmã do Alexander.
Foi namorada do Brandon.
A menção ao nome dele a irritou…
Mas havia mais nos olhos dela além de raiva.
Parecia dor.
— Onde ela está?
— Morta — respondi, sem hesitar.
E aquilo a atingiu.
— Como aconteceu?
— Ela tirou a própria vida, após uma discussão com Brandon.
Senti minha voz embargar, doía lembrar disso.
— Atirou em si mesma. Na frente do Alex, Jack e do maldito que acabou com a vida dela.
Ela abaixou os olhos por alguns segundos.
Mas foi só por segundos.
Quando voltou a me encarar…
Havia algo ali.
Raiva contida. Dor reprimida.
— Ele também matou partes de mim.
O Brandon.
Não perguntei o que ela queria dizer com aquilo.
Porque eu sabia.
Brandon não precisava de uma arma pra matar.
Ele fazia isso com palavras.
Com manipulação.
Com o veneno da sua presença.
— Eu sei o que é entregar sua vida a alguém que nunca te enxergou como ser humano — ela continuou, a voz baixa, firme.
— Eu sei como é viver ao lado de alguém que só sabe arrancar pedaços.
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