Evelyn
Jackson e eu chegamos ao parque, mas ele não me deixou sair do carro.
Eu estava tão perdida entre meus medos e pensamentos que não percebi Brandon se aproximando.
Ele abriu a porta e me puxou. Tentei me soltar, chutei, me debati.
— Que isso, princesa... sou eu — ele sussurrou no meu ouvido.
Tapou minha boca enquanto eu ainda lutava para escapar. As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, arranhei o braço dele com força.
— Amor, suas unhadas não me machucam — ele desceu os lábios até meu ouvido. — Pelo contrário, me excitam.
Aquelas palavras me reviraram por dentro.
Eu amei Brandon um dia. Achei que sem ele eu não conseguiria viver.
Mas hoje... o que sinto é repulsa.
E excitá-lo?
É o último tipo de reação que quero provocar.
Eu não o venceria. Ele era maior, mais forte.
E eu poderia machucar a mim e ao bebê.
E meu bebê é minha prioridade.
Brandon me arrastou até o fundo de uma van e entrou junto comigo.
Naquele instante, a imagem da Jordan me atingiu como uma facada.
Ela estava ali.
Desacordada.
Jogada no chão do automóvel.
— Jo! — gritei, me arrastando até ela. Senti sua respiração, fraca, mas presente.
O carro começou a andar.
Brandon também se aproximou dela. Pegou o rosto da Jo com cuidado.
— O que você fez, Dimitri? — ele perguntou, irritado com o homem no banco do passageiro.
— Ela começou a gritar. Dei uma injeção pra acalmá-la. A dose foi pequena em poucos minutos, vai despertar.
Brandon se sentou, colocou a cabeça dela em seu colo e começou a acariciá-la.
A cena mexeu comigo mais do que deveria.
Um turbilhão de sentimentos me atravessou: pena... medo... confusão.
Como pode o mesmo homem que fez o que fez com ela, comigo, com a Rachel...
Ter escrito aquelas cartas?
E agora estar ali, acariciando a Jordan como se realmente se importasse?
Como se a amasse?
— Sinto seus olhos em mim, princesa — Brandon disse, sem me olhar. Mas havia um sorriso nos lábios.
— Qual a sua história com ela? — fui direta.
— Você já deve conhecer. Prometi cuidar dela quando a mãe morreu.
— Tirando-a do irmão. Maltratando. Marcando… — bufei. — Belo jeito o seu de proteger. Sendo um monstro.
Brandon me lançou um daqueles olhares que eu conhecia bem, o tipo que, antes, me faria baixar os olhos, ceder.
Mas eu não era mais a Evelyn que ele conheceu.
— Você fala como se soubesse do que está dizendo… Mas não faz ideia, Evelyn.
O olhar dele endureceu. Frio. Letal.
Mas quando se voltou para Jordan, suavizou. Passou os dedos pelos cabelos dela com um cuidado que me embrulhou o estômago.
— Tudo o que fiz... foi pra protegê-la.
Reconheço que minha falta de controle pode ter distorcido as coisas para vocês…
Mas eu a amo. Ela é minha pequena.
E não me importo com o que pensam ou digam. Pra mim, protegê-la está acima de tudo isso.
Ele inclinou o corpo na minha direção.
— Se me acha um monstro, Evelyn Parker… é porque ainda não sabe do que ele é capaz.
Ele se aproximou mais, os dedos roçando meu queixo.
O arrepio percorreu minha espinha. Não era desejo. Era nojo e medo.
— Garotas como você não estão preparadas para ele.
Porque ele não é o bicho-papão que se esconde no armário.
Ele é a mão que te puxa de dentro dele… e te mostra o inferno.
Fiquei em silêncio.
Absorvendo. Tentando entender o que tudo aquilo significava.
Meus olhos deslizaram até Jordan.
Ela estava acordada.
As pálpebras meio abertas, disfarçando.
A respiração lenta.
E sua mão…
Com cuidado, se movia até o bolso.
Meu coração acelerou.
Ela estava com o celular.
Engoli em seco, mantive minha atenção em Brandon.
— Talvez você tenha razão… — sussurrei. — Talvez eu realmente não esteja preparada. Assim como não estava para tudo o que descobri sobre você.
Afastei os dedos dele do meu rosto com calma.
Recostei-me na parede da van, cruzei os braços e o encarei.
Jordan agora digitava.
Devagar, com precisão.
O polegar deslizava com habilidade, como se cada segundo valesse uma vida.
E valia.
Eu precisava manter o teatro.
Dar a ela os minutos que ela precisava.
— Mas… — murmurei. — Aqui estou eu…
— Se eu suportei tudo isso, consigo suportar ele também.
Descruzei os braços. Inclinei levemente para frente.
Prendi o olhar dele no meu.
— Então me diz, Brady… Quem é ele? Quem é esse homem que você tanto teme?
Brandon piscou devagar, sorriu de canto.
— Ele está mais perto do que imagina, Evie.
E para minha sorte, ele ainda não sabe quem eu sou.
Ele afastou uma mecha do meu cabelo e a colocou atrás da orelha.
— Como assim? — perguntei, realmente curiosa agora.
Precisava entender tudo isso. Precisava saber quem era esse maldito.
— Ele desconfia — disse Brandon, recuando. — Por isso colocou um rastreador na caixa que deixei com você.
Mas ele ainda acredita que eu esteja morto.
Foi por isso que contratou os Snakes. Foram atrás de vocês a mando dele.
— Um deles disse que “ele” me queria. Achei que esse “ele” era você.
— Também te quero. — Ele sorriu.
Um daqueles sorrisos que antes me desmontavam de amor.
Em minutos, acabou com os dois seguranças de Alessa.
Agarrou Jordan pelos braços.
— Há quanto tempo, Mancini — disse ele, debochado.
Alessa sacou algo do bolso e borrifou nos olhos de Brandon, que gritou de dor.
— Sua maldita!
Dois homens de Brandon se aproximaram.
Ele não enxergava, estava atordoado.
As meninas me alcançaram e corremos de volta.
— Peguem a garota! — berrou ele, apontando para Jordan e Alessa.
Um deles avançou, Alessa o atingiu com o spray.
Mas era o último frasco.
O outro homem conseguiu pegá-la.
— Me solta, seu cretino! — ela gritava.
Jordan e eu tentamos ajudá-la, mas ele era forte.
Nos empurrou com facilidade.
Caímos juntas no chão.
Alessa ainda se debatia.
Ele a golpeou na nuca. Ela desmaiou.
Vimos Brandon ir embora levando Alessa.
Tentei me levantar… mas algo escorria pelas minhas pernas.
O desespero me tomou.
— Isso é sangue? — Jordan arregalou os olhos.
— Preciso ir pro hospital, Jo…
Ela apenas assentiu, me ajudando a levantar.
Foi aí que o vimos.
Alexander.
Os olhos dele me encontraram como se só existisse eu no mundo.
Foi como respirar depois de afogar.
Foi como ter o coração costurado às pressas, só para logo depois rasgá-lo de novo.
Ele vinha correndo…
E por um segundo, eu acreditei que tudo ia ficar bem.
Que nos braços dele, tudo voltaria pro lugar.
Mas então…
Olhei para baixo.
O sangramento se intensificou.
Minhas pernas... estavam cobertas.
O chão, manchado.
E naquele instante, não era mais o meu corpo, era um aviso cruel do destino.
— Alex… — minha voz saiu em um fio, quebrada. — Nosso bebê…
Senti o calor sumir das mãos.
A força me deixar.
O medo me engolir.
E antes da escuridão me tomar, só uma coisa pulsava dentro de mim:
"Salva nosso bebê."

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