Thomas
Eu nunca fui de fugir da guerra.
Mas também nunca imaginei que a mais difícil delas não seria no campo de batalha… e sim dentro do meu peito.
Quando Alexander me ligou, com seu jeito Sterling de ser, e disse:
“Ela está viva, Tom. A Sophia.”
…não lembro da última vez que minhas pernas fraquejaram daquele jeito.
Sophia.
Rachel.
Brandon.
E o pacto que juramos com sangue e que, no fim, não conseguimos manter.
Tudo veio à tona como se o passado tivesse sido desenterrado à força.
Ela… a nossa pequena.
A menina que carreguei no colo. Que jurei amar, cuidar, proteger. Que pensei ter perdido para sempre.
Estava viva.
Nossa pequena Sophia estava viva.
Talvez tenha sido a primeira vez em muitos anos que chorei. Sozinho. No escuro do meu quarto. Como um moleque.
Mas assim como veio a alegria, veio também a dor.
A dor de ter confiado cegamente na pessoa errada.
Por tanto tempo, eu quis acreditar que os erros do Brandon não o definiam.
Ele errou, sim. Todos erram. E foi nisso que me agarrei durante anos.
Até ouvir de Alexander toda a verdade.
Peguei o primeiro voo para Madri.
Quando cheguei na casa do Alex, nem tirei a mochila do ombro. Fui recebido por Amélia, com aquele sorriso acolhedor, o olhar que abraça. Um lar em forma de gente.
Ela me pôs a par dos acontecimentos:
A caixa.
A verdade revelada.
Sophia fugindo.
Brandon capturando-a outra vez.
E, por fim...
— Evelyn foi levada ao hospital, com risco de perder o bebê.
As palavras dela foram uma flecha certeira.
E o alvo era meu coração.
Amei Evelyn em silêncio por todos esses anos. Um sentimento que guardei só pra mim.
Quer dizer… quase só pra mim.
Alexander sempre enxergou tudo, até aquilo que a gente não diz. E notou isso no instante que me viu perto dela.
Mas mesmo sendo difícil, mesmo doendo, jamais ousaria interferir no que eles têm.
Alexander merece ser feliz. Evelyn merece paz.
O Thomas homem, está quebrado por isso. Mas o Thomas, amigo, irmão… está feliz por eles.
Esperei pelo retorno de todos. Não avisei que estava na cidade. Queria fazer surpresa. Principalmente à minha pequena.
Será que ela se lembraria de mim?
Nunca tive a chance de vê-la pessoalmente antes da verdade vir à tona.
Mas Evie, Jack e até Ben sempre falaram dela com tanto carinho nas nossas conversas...
Ouvi o barulho dos carros lá fora. Me levantei num pulo e fui até a porta.
E então… eu a vi.
Sophia.
Os traços de Rachel.
O olhar afiado de Alexander.
Mas com aquela presença única…
A mesma que sempre nos desmontou.
Notei, mesmo que suavizada, a marca em seu rosto. Aquela que meu melhor amigo deixou.
Me aproximei com cuidado. Não sabia se ela se lembraria de mim. Nem se me aceitaria, por saber da minha amizade com Brandon, e talvez pensar que eu compactuava com as loucuras dele.
Porque… pra fazer isso com a nossa menina… ele só podia estar louco.
— Oi, pequena… — sussurrei, tentando conter a emoção de vê-la ali, viva, bem diante de mim.
E então…
Ela veio.
Sem pensar.
E eu, sem esperar.
Sophia se jogou nos meus braços.
E eu a segurei como se carregasse o mundo inteiro.
O laço que uni eu e meus irmão de alma, foi a dor de lares destruídos.
E o que nos separou também foi a dor... de uma confiança quebrada.
Mas eu estava disposto a tudo para reconstruir essa ponte.
— Oi, Tom. — ela sussurrou, agarrada a mim.
Ficamos assim por um tempo, até Jackson Reynolds nos interromper para declarar que era namorado dela.
Namorado dela?!
Alex sabe disso?!
Trocamos algumas palavras e, claro, ainda vamos ter uma boa conversa sobre isso.
Logo conheci Rosario, a mulher que cuidou de Sophia nos anos afastada de nós.
Estava com Ben. E pelo visto, era exatamente o que ele precisava depois de tudo com Emily.
Rosario era o oposto da Emily. E isso, pra mim, já era um ponto a favor.
Se meu irmão está feliz… eu também estou.
Amélia apareceu, nos acolhendo do jeito que só ela sabe: com uma refeição feita com amor.
Os caras me atualizaram dos acontecimentos, mas muita coisa Amélia já havia me contado.
Quando todos se recolheram, Jackson e Sophia subiram juntos.
Me incomodou saber que já dividiam o mesmo quarto.
Mas engoli em seco. Ela não era mais a menininha de antes.
Ainda assim, eu não consegui dormir.
Desci até a piscina. O céu de Madri era escuro, mas as estrelas pareciam acesas só pra mim.
Precisava organizar meus pensamentos.
Benjamin foi o primeiro a aparecer, com aquele sorrisinho de canto de quem sabe que tem história acumulada pra contar.
— Não conseguiu dormir, capitão? — perguntou, entregando uma das cervejas que estava na sua mão.
— Só organizando as ideias.
— Então vamos juntos.
— Tudo bem. Eu realmente preciso entrar para visitar uma amiga — disse, entregando meu celular para ela. — Digita seu número. Vou pedir para alguém entrar em contato e resolver isso.
Ela pegou o celular da minha mão, digitou rapidamente e me devolveu. Mas não apenas com o número: já salvo, com o nome dela. Mulher ousada.
— Estamos combinados então, Aline — falei, estendendo a mão. Ela a pegou, mesmo com relutância. Virou-se para retornar ao carro... mas, de repente, um maluco surgiu do nada numa moto. Puxei-a com tudo. Seu corpo bateu no meu, e nossos rostos ficaram praticamente colados.
Eu podia sentir seu coração acelerado, sua respiração ofegante. Não sabia dizer se era pela adrenalina do quase acidente... ou por outra coisa.
— Acho que sou eu mesmo quem vai te ligar — disse a ela em um sussurro rouco, sem desviar os olhos dos dela.
Alguns segundos se passaram até que ela saísse dos meus braços.
— Não me importa quem fará a ligação — respondeu, levando a mão ao cabelo e o jogando para o lado. — Meu interesse é ter meu carro consertado.
Ela passou a mão no cabelo mais uma vez. Notei que estava nervosa.
Encostei no carro, cruzei os braços e fiquei ali, aguardando enquanto ela tirava o carro. Eu poderia ser um cavalheiro e ceder a vaga pra ela. Poderia... mas ela ficava ainda mais linda irritada.
Quando passou devagar ao meu lado com o carro, coloquei a mão na testa em sinal de continência e disse:
— Até mais, Aline.
— Cretino!
E foi com esse elogio que ela se despediu. Não consegui conter o sorriso. Havia muito tempo que não tinha uma interação tão interessante, principalmente com uma mulher. E uma muito bonita, por sinal.
Balançando a cabeça, entrei no carro e estacionei. Desci e segui para o hospital. Olhei a mensagem da Sophia com as informações do quarto da Evie e, em minutos, já estava lá.
Assim que entrei, lá estavam eles. Evelyn sentada, com as pernas já para fora da cama, e Alexander ao seu lado. Sophia veio até mim.
— Você demorou.
— Tive um contratempo — respondi, abraçando-a de lado e beijando sua têmpora.
Me aproximei de Alexander, que me cumprimentou com um forte aperto de mão.
— Te agradeço por ter vindo.
— Tudo pela família — respondi, puxando-o para um abraço.
E então me virei para ela. Linda como sempre. Mas agora... havia um brilho novo no olhar.
— A maternidade te deixou ainda mais linda.
Evelyn sorriu pra mim e me puxou para um abraço apertado.
— Senti sua falta — sussurrou.
— Eu também, Evie.
Nos separamos, e fiquei preso nos olhos dela por um instante. Meu sentimento ainda estava aqui. Mas, dessa vez, ele veio com algo mais.
Veio com a decisão de deixar ir.
Não posso esperar por alguém que nunca vai ser minha. O que sinto não vai simplesmente desaparecer, ele está preso dentro de mim. Só que hoje, eu tô abrindo a porta... e permitindo que ele parta.
Estiquei a mão, coloquei em seu rosto. Depois, levei os lábios até sua testa.
— Estou muito feliz por você.
Ela colocou a mão sobre a minha, ainda em seu rosto.
— Obrigada, Tom.
Me afastei dela e olhei para o Alex.
— Estou feliz por vocês.
Ele se aproximou da Evie e me deu um aceno de agradecimento.
Foi então que ouvimos a porta se abrir, seguida de uma voz. A mesma que me “elogiou” minutos atrás.
— Com licença...
Ela disse suavemente. Assim que entrou, seus olhos encontraram os meus.
Parece que o universo está ao meu favor.
Abri a porta para uma sair… e talvez, ele esteja me apresentando a próxima história da minha vida.
E, por algum motivo, eu sentia que essa seria a certa.

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