Alexander
Medo tem sido um sentimento recorrente na minha vida. Principalmente o medo de perder. Já perdi muito... e não estou disposto, muito menos preparado, para perder de novo.
Depois de passar a noite no hospital, minha mulher estava bem. Meu filho também. E, nesse meio-tempo, Thomas chegou.
Foi difícil ligar pra ele. Contar a verdade. Convidá-lo a trabalhar comigo.
Não por causa dele, Tom é meu irmão. Assim como Jack e Ben. Da mesma forma que Brandy foi um dia.
Meu problema era o ciúmes que sentia em relação à Evelyn. O sentimento que via ele carregar, mesmo que platônico. Só que tudo isso desapareceu quando o vi com a doutora Aline.
Acho que meu irmão não era mais um problema.
O domingo chegou e segui minha rotina. Os caras também. Antes mesmo do sol terminar de nascer, já estávamos todos na academia. E foi bom estarmos juntos outra vez. Me lembrou nossa adolescência. Aos poucos, eu já não era mais o CEO Alexander Sterling.
Eu estava voltando a ser o Alex.
O irmão mais velho desses caras. Aquele que os defendia desde o jardim de infância. Que, mesmo quebrado, reuniu cada pedaço pra estar ao lado de cada um quando mais precisaram.
E, em troca… recebi amizade. Companheirismo. Lealdade. Amor de irmão.
Quando voltei pro quarto, minha garota não estava bem. Meu pequeno tem judiado dela nas manhãs. A ajudei. Cuidei dela. Amei. E tudo estava bem... até que ela disse:
— Ele a ama. De forma distorcida, doentia talvez... mas ama.
— Brandon não sabe o que é amor!
Com essas palavras, achei que tudo estava resolvido.
Então optei por não ser mais o Alex. Porque o Alex sente demais, sofre demais, ama demais… até quem prometeu odiar.
Vesti minha armadura de CEO. Achei que isso a faria recuar.
Mas estamos falando de Evelyn a futura senhora Sterling.
A única mulher que mexeu comigo de todas as formas. E ela… ela é afiada nas palavras quando quer:
— Essa sua atitude não te torna diferente dele.
Foi com essas palavras que ela conseguiu, de volta, minha total atenção.
E o pior: ela não recuou. Não voltou atrás do que disse. E ainda fez promessas:
— Nossa conversa não acabou. Você vai me ouvir. Vai saber palavra por palavra da minha conversa com o Brandon.
— Mas não agora.
E então saiu. E me deixou com o gosto amargo de cada frase.
E ainda me ameaçou. Me intimou. Me obrigou a ficar.
Fui até o closet, onde ela havia deixado minha roupa. Evelyn ampliou meu guarda-roupa. Me comprou camisetas, bermudas, e disse que isso são roupas “de usar em casa”.
Me troquei, mesmo contrariado, e segui para tomar café com a minha família.
Assim que cheguei, Evelyn ajudava Amélia a servir todos.
Quem olhava de fora jamais diria que aquilo era um café da manhã. Parecia mais uma feira livre. Um falando mais alto que o outro, torradas passando pra um lado, xícaras de café pro outro…
— Bom dia — disse no meu tom habitual.
E o silêncio reinou.
Me senti como meu professor de matemática no colegial. Bastava um "hum-hum", e a sala inteira parava.
Isso nunca me incomodou.
Até hoje.
Me dirigi à mesa e sentei na minha cadeira habitual.
— Bom dia, chefe — Mateo foi o primeiro a me cumprimentar.
— Todos pareciam empolgados antes de eu chegar. Por que se calaram?
Perguntei, recostando na cadeira.
— Por sua causa — disse Jackson, que levou um tabefe no peito da minha irmã.
— Não é isso, Alex. Você sempre interage no café — ela respondeu, fulminando Jack com o olhar.
— É que seu tom nos pegou de surpresa — Jordan concluiu.
— Peço desculpas por isso — respondi, pegando a garrafa de café e me servindo.
— Caraca… o inferno congelou agora — disse Jackson. Assim que concluiu, levou um tapa na cabeça de Thomas.
— Ow! Porra, que mania é essa que vocês têm de me bater?
— Por que será, né? — disse Ben, arqueando a sobrancelha, fazendo todos nós rirmos.
Em segundos, tudo tinha voltado ao normal. Aquela bagunça habitual que eu não entendia... mas eles pareciam gostar. Principalmente ela.
Minha linda mulher, que sorria para todos, brincava, conversava.
Notei que ela ainda desviava o olhar do meu. Evitava se aproximar de onde eu estava sentado. Mas então, sem aviso, ela se aproximou e eu a puxei para o meu colo, fazendo-a gritar:
— ALEXANDER!
Mas antes de qualquer protesto, tomei sua boca com a minha. Um beijo faminto, apaixonado, carregado de tudo o que eu sentia por ela.
— Vocês dois não estão sozinhos na mesa, só pra avisar — a voz da minha irmã nos tirou do momento. Separei nossas bocas, mas mantive minha testa colada à dela.
— Me perdoa — sussurrei, só pra ela ouvir.
— Eu te amo — respondeu. E isso foi mais do que um “te perdoo”. Foi um “te aceito”. Evelyn conhecia todos os meus defeitos, todas as minhas falhas. E mesmo assim, me amava ao ponto de estar disposta a me ajudar a melhorar. E eu... a amava ao ponto de mudar.
Não deixei que ela saísse do meu colo até o café acabar. Aos poucos, todos se retiraram, até que restamos apenas nós dois.
Enterrei o rosto na curva do pescoço dela enquanto ela acariciava minha nuca com as unhas, me causando as melhores sensações do mundo.
— Amor… — ela me chamou.
— Hum… — murmurei, sem tirar o rosto dela.
— Preciso ajudar a Amélia. E combinei com a Aline para que chegasse cedo pra aproveitar a piscina.
Levantei o rosto e encontrei os olhos dela.
— E o que eu faço enquanto isso?
A pergunta era genuína. Antes da Evelyn, minha vida era trabalho e, vez ou outra, uma noite de prazer com alguma mulher. Depois dela... passei a interagir mais com os caras. Mas, na maioria das vezes, nossos assuntos ainda eram trabalho. Era a Evie quem me situava, quem me incluía, quem fazia os temas mudarem.
— Pode ajudar o Jackson com a churrasqueira — ela respondeu, passando os dedos pelo meu rosto. — Lucas saiu pra buscar umas coisas que pedi, e pra ser sincera... não sei se o Jack sabe o que está fazendo.
Nós dois rimos.
— Existe uma grande chance de ele não saber — comentei.
Ela riu também, e dessa vez foi ela quem me puxou para um beijo. Terno. Doce. Como ela. Ao final, segurei seu lábio inferior entre os dentes, fazendo-a gemer.
— Se controle, senhora Sterling. Você ainda está de resguardo.
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