Alexander
Precisei de muito autocontrole para não acabar com o Brandon ali mesmo.
A forma como ele olhava para a Evelyn…
Com amor.
Com saudade.
Como se ela ainda fosse dele.
Mas eu precisava amarrar todas as pontas soltas desse maldito quebra-cabeça.
E, infelizmente… só ele podia me dar todas as respostas.
— Estou esperando sua resposta, Anderson.
— E eu… a sua! — Ele rebateu irritado, cruzando os braços com aquela arrogância típica.
— Eu tinha minhas desconfianças. — Cruzei as pernas e dei um sorriso de canto. — O senhor Anderson sempre presente… o nosso tipo sanguíneo raro… e a sua obsessão por mim…
— Vai sonhando! — Ele bufou, se sentando na poltrona como se quisesse me provocar.
— Quando te salvei daquele carro… precisei de uma transfusão. — Continuei, ignorando o deboche dele. — O médico disse que meu tipo sanguíneo era raro… Sou um doador universal, mas não posso receber de qualquer um. Foi naquele dia que o senhor Anderson…
— Nosso pai. — Ele me interrompeu, e o tom dele… foi um soco direto no estômago.
Engoli em seco… mas continuei.
— Foi ele quem me doou sangue. Eu só tinha dez anos. Não entendia muita coisa… mas gravei aquilo. Nunca esqueci.
Na minha cabeça… ele era o pai que eu não tinha.
Meu padrasto era um lixo… E o senhor Anderson… era o herói da minha vida.
Minha voz falhou por um segundo, mas logo me recompus.
— Ele me acompanhava… me treinava… me ensinava tudo o que eu sei… Me defendeu quando matei aquele maldito… Me deu o próprio sangue.
Eu… fui burro o suficiente pra achar que era só um bom amigo da família.
Alguém que se importava.
Prendi meu olhar no dele… sem piscar.
— Pra mim, ele era só isso. Um herói.
Ele… não podia ser meu pai.
Porque o meu pai… era um monstro.
Um covarde que violentou minha mãe quando ela tinha dezesseis anos.
— Herói… — Brandon bufou com tanto desprezo que a palavra saiu quase cuspida.
— Mesmo com todas as evidências… eu nunca fui atrás da verdade. — Respirei fundo. — Não precisava de mais uma decepção na vida… Mais uma perda... Mais uma cicatriz.
Descruzei as pernas e inclienie meu corpo pra frente.
— Ninguém… — Meu tom baixou, mas foi tão cortante quanto uma faca. — Ninguém quer descobrir que o próprio herói… é o seu maior pesadelo.
Brandon ficou em silêncio. Mas eu via nos olhos dele… ele queria me dizer algo. Talvez até entendesse o que eu sentia. Mas... ainda não era hora pra isso.
— Então… — Ele quebrou o silêncio. — Como descobriu? Quando teve essa certeza?
— Em Ibiza. — Cruzei os braços, encarando-o. — Numa conversa com o Enzo… ele me disse coisas interessantes sobre você.
Sobre a menina que você protegia… sobre as armas… sobre sua ligação com a Hydra… e sobre a sua guerra contra os Blackwater.
— Só isso? — Ele ergueu uma sobrancelha. — Você desconfiou… e vozes na sua cabeça te deram a certeza?
Soltei uma risada seca.
— Pensei que você me conhecesse melhor, Brady.
O corpo dele ficou tenso. Eu percebi.
Chamei de propósito.
Brady…
Como eu fazia antes.
Levantei da poltrona e caminhei até a cama, onde estava a tal caixa com as merdas dele.
Abri, peguei o documento que eu tinha escondido ali.
— Quando cheguei em Madri… procurei a única pessoa que ainda parecia estar ao seu lado.
— Jeff… — Ele disse o nome como se estivesse mastigando vidro.
Assenti.
— Pedi ajuda a ele… precisava de um DNA. Não tinha dúvidas sobre a Jordan ser a Sophia… mas eu queria entender a sua obsessão…
Queria saber o que te fazia… me odiar… e ao mesmo tempo… me proteger.
Me aproximei dele e joguei o envelope no colo dele.
— Peguei amostras suas… e dela. Fiz o teste.
Mas… — Cruzei os braços, meu olhar frio como aço. — No fundo… eu já sabia.
Brandon abriu o envelope com as mãos trêmulas.
Eu o observei lendo o resultado…
E quando os olhos dele se ergueram pra mim… eu soube.
Agora…
Não tinha mais volta.
A verdade estava nua e crua entre nós.
Dois filhos do mesmo monstro.
Dois irmãos.
E um passado que ia destruir tudo.
— Você é um desgraçado, Alexander! — Ele gritou, se levantando num pulo e vindo pra cima de mim. — Se você desconfiava… por que nunca me contou? Por que nunca perguntou à sua mãe?!
— Porque eu não queria destruir a única coisa boa que você tinha, seu babaca!
Dei um empurrão no peito dele, o afastando com força.
— Coisa boa?! O que eu tinha de bom, Alex? Um pai? Um lar?
Vi os olhos dele… marejados.
Aquilo me travou por um segundo.
— De nós cinco… você era o único que tinha uma casa. Um pai. Uma mãe. Uma família que te amava.
Minha voz saiu mais baixa, mais amarga.
— Eu já era um fodido. Por que eu iria querer o mesmo pra você?
Dei mais um passo pra ele, mas a risada que ele soltou…
Ela me arrepiou.
Não de medo.
Brandon nunca me causou medo.
Mas sim um desespero que eu lutei a vida inteira pra não sentir por ele.
Lutei pra odiá-lo.
Quando, no fundo… eu nunca deixei de amá-lo.
— Sabe com quantos anos eu descobri que o meu pai... — Ele fez uma pausa e apontou o dedo pra mim, depois pra ele mesmo, com um gesto amargo. — Que o nosso pai… era um maldito?
Ele respirou fundo.
— Com treze anos.
Ele deu um passo, os olhos vermelhos. — E eu descobri da pior forma… Vendo ele abusar da SUA MÃE!
Dei um passo pra trás.
O quarto pareceu encolher ao meu redor.
O ar ficou pesado… sufocante.
— Eu a procurei depois daquele dia… — A voz dele ficou mais baixa, como se reviver tudo o estivesse esmagando. — E ela me fez prometer que nunca contaria a ninguém. Na época… ela não me disse que a gente era irmão. Nem que a Sophia também era minha irmã.
Ele voltou a se sentar, afundando os cotovelos nos joelhos e escondendo o rosto nas mãos.
— Eu descobri… no dia que ela se matou.
A voz dele quebrou.
— Andrea estava saindo da minha casa… Eu vinha voltando com o Thomas. A gente se encontrou no portão.
Ele respirou fundo, as lágrimas caindo.
— Ela segurou meu rosto entre as mãos… e disse: “Eu não aguento mais, querido”…
O choro dele finalmente transbordou.
— Ela me contou tudo… — Ele continuou entre soluços. — O Billy… só abusou da Rachel porque achava que ela também era filha do meu pai. Só que o maldito estava abusando da própria filha.
Minhas pernas quase falharam.
Meu corpo inteiro estava anestesiado.
Minha mãe…
Minha irmã…
Minha… Rachel…
— Rachel era filha do Billy. Só você… e a Sophia… eram meus irmãos.
Foi ele quem avançou dessa vez.
— Seu cretino!
Mas antes que pudesse sequer encostar em mim… Em um único movimento, derrubei ele na cama.
— Desiste, Brandon. Eu sou mais forte que você. Sempre fui.
Segurei o braço dele para trás com força, enquanto com a outra mão mantinha sua cabeça pressionada contra o colchão.
— Eu te disse… te mato até ferido.
Minha voz saiu baixa… uma promessa perigosa.
— Você tem culpa nisso tudo! — Ele cuspiu, entre os dentes. — Sabia que éramos irmãos… e me deixou agir sozinho!
— Cala a boca! Você fez tudo isso porque é um cretino igual ao seu pai!
— NOSSO PAI! — Ele gritou. — Você não é diferente de mim, Alexander! Abandonou as meninas… Foi brincar de Rambo no Exército enquanto eu fazia o trabalho sujo por você!
Puxei mais o braço dele… o grito que ele deu foi puro ódio e dor.
— Mede suas palavras, Brandon. Num movimento meu… não vai ser só com o nariz quebrado que você vai sair daqui.
— Tudo isso é sua culpa! — Ele continuava, sem se calar. — Fui eu que levei a Sophia embora pra ele não pegá-la! Fui eu que namorei a Rachel… pra ela não surtar!
Enquanto você… você só sabia se esconder atrás de farda!
— Maldito… — Rosnei, puxando ainda mais o braço dele. Estava prestes a quebrar.
Foi quando a porta escancarou.
Evelyn entrou correndo, com Thomas, Alessa e Benjamin logo atrás.
— Solta ele, Alexander! — Alessa disse, vindo direto pra cima de mim.
Evelyn parou ao meu lado, colocando a mão no meu peito.
— Alex… — Sua voz era um sopro preocupado, os olhos fixos no sangue que começava a brotar do meu ferimento, por causa do esforço.
Respirei fundo.
Soltei o braço dele, que caiu mole sobre a cama. Brandon ficou deitado, respirando com dificuldade, enquanto Alessa subia em cima dele para examinar os danos.
— Nós ainda não terminamos essa conversa… — Disparei, encarando ele de cima.
— Mas… eu prometi pra minha mulher… que só te daria meia hora do meu tempo hoje.
Evelyn me envolveu pela cintura, me guiando pra fora do quarto.
Antes de sair, lancei um olhar para Benjamin.
— Manda o Andrew dar uma olhada nele.
E… até segunda ordem… ele não sai desse quarto.
Ben apenas assentiu.
Quando cruzei a porta, olhei uma última vez para Brandon.
Nossos olhares se cruzaram.
Ele ainda sangrava. Ainda arfava.
Mas a maldita arrogância nos olhos dele… continuava ali.
— Nos vemos no segundo round… irmão.
Eu disse e saí.
Mas levei comigo cada uma das palavras dele.
Cada maldita acusação.
Brandon errou.
Errou feio.
Comigo.
Com as minhas irmãs.
Com todo mundo.
Mas o que me doía mais…
É que ele não errou… sozinho.
“Você tem culpa nisso.”
Essas palavras iam me assombrar por muito tempo…
Porque, no fundo…
Eu sabia.
Brandon… tinha razão.

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