Capítulo 152 – Segundo round
Alexander
Três dias…
Se passaram três dias desde a minha conversa com Brandon.
Mandei Benjamin e Thomas lidarem com ele. Eu ainda não estava pronto.
Depois daquela conversa… eu desabei.
Minha mulher… esteve ali por mim. Por inteiro.
Na minha vida inteira, só tive três quedas desse jeito.
Na morte da Sophia.
Na morte da Rachel.
E… agora.
Não… Eu não desabei quando a minha mãe morreu.
Não porque eu não a amasse… Deus sabe o quanto eu a amava.
Minha mãe… ela era o centro das nossas vidas. Meu exemplo de força, de resiliência.
Eu chorei… chorei muito. Mas tinha minhas duas irmãs me olhando… esperando que eu fosse forte por elas.
E eu fui.
Mesmo destroçado por dentro, fui o Alexander inteiro que elas precisavam. Não metade.
Eu tinha uma promessa a cumprir.
Eu não podia desabar.
Mas eu amava a minha mãe… como eu amava.
Mesmo tendo acabado com a vida dela ao nascer… ela nunca me culpou.
Ela me tratava como se eu fosse a coisa mais preciosa do mundo.
“Meu garoto…” — ela sempre dizia.
Minha mãe era linda… Sua voz era suave… seu cheiro, doce…
Rachel… era igualzinha a ela.
Naquele dia, eu me recusei a cair.
Porque se eu caísse… tudo ia desmoronar de vez.
Foi ali… naquele mesmo período… que as coisas começaram a ficar mais claras sobre Robert.
O sangue… o tipo raro… foi o que denunciou. Mas eu não podia encarar. Não podia ser a destruição de mais ninguém.
Eu vivi um conflito interno que me consumiu por anos.
Porque… eu amava Robert como um pai. Ele era meu herói. Meu espelho.
E o homem que eu nunca conheci… meu suposto pai…
Era só… um estuprador.
Eles não podiam ser a mesma pessoa.
Não podiam.
E… também teve o medo.
Sim… medo. Eu tive medo.
Naquela época… eu ainda não era o Alexander Sterling.
Era só o Alex.
O filho amoroso.
O irmão protetor.
O garoto que protegia até os amigos que viviam se metendo em encrenca.
Então… eu me calei.
Engoli tudo.
Enterrei a verdade junto com a minha infância.
Achei que era o melhor. Que guardar aquilo… era o certo.
Mesmo depois de perder minhas irmãs… mesmo depois de ver Brandon se transformar num estranho…
Eu continuei enterrando.
Robert continuou me tratando do mesmo jeito.
Ele sabia… claro que sabia.
Sabia que eu era filho dele.
Mas ele também escolheu se calar.
Talvez porque ele lembrava…
Que eu sabia.
Que eu era fruto da violência…
Ou talvez porque…
Ele sabia de algo…
Que eu ainda não sei.
A única pessoa que poderia me explicar tudo…
Que poderia me contar…
Tirou a própria vida.
Minha mãe…
Ela não queria morrer.
Ela era a vida… nossa vida.
Mas ela só queria parar de sofrer.
E… naquele momento… aquela foi a única saída que ela enxergou.
Um sofrimento que… eu nunca soube qual era…
Porque fui desatento demais aos detalhes.
E o Brandon…
Ele tinha os detalhes.
Ele tinha os sinais.
E… mesmo assim… ele escolheu esconder.
Escolheu lutar sozinho.
E se perdeu no caminho.
Não fui eu quem surtou com a Rachel…
Não fui eu quem queimou a Sophia…
Não fui eu quem usou a Emily…
Não fui eu quem feriu a Evelyn.
Foi ele.
O Brandon.
Mas…
Fui eu quem guardou a verdade.
Quem odiou o próprio irmão.
Quem desejou a morte dele…
Sem nunca… ter tentado entender o porquê.
Por quê?
Por que você mudou, Brandon?
E agora… o que me resta… é saber que meu silêncio…
Resultou nisso.
Em dor.
Em sofrimento.
E isso… também é culpa minha.
Desde a briga com ele… uma lembrança não sai da minha cabeça.
Uma conversa que tive com a Rachel…
Foi numa noite de verão.
A última vez que estivemos juntos os três… antes da Sophia “morrer”.
Na manhã seguinte… eu partiria de volta para a Síria.
Estávamos deitados no jardim…
Os três.
Olhando o céu.
As estrelas eram o nosso cinema particular.
Eu jamais me cansaria delas.
Jamais desistiria…
Nem de mim…
Nem das minhas irmãs.
— Eu nunca vou cansar de carregar pedrinha! — Sophia disse de repente. — Vou recolher todas!
— Se recolher todas… não vai conseguir carregar… — Rachel retrucou, com aquele jeito sempre realista.
— Não sou eu quem vai carregar… — Sophia deu de ombros. — Vai ser o meu Jack!
Rachel e eu caímos na gargalhada.
Mas…
Enquanto ria… aquela promessa…
Ainda ardia dentro de mim.
— Você pretende largar esses documentos em algum momento? Quem sabe tomar um café com todo mundo lá embaixo? — a voz da Evie me arrancou das minhas lembranças… e do meu próprio julgamento.
Levantei o olhar.
Ela estava ao lado da mesa, com aquele jeito de braços cruzados, sobrancelha arqueada e um sorriso que era metade desafio, metade carinho.
Envolvi meu braço em sua cintura e a puxei pro meu colo.
— Depende… — murmurei.
— Depende do quê? — Ela arqueou a sobrancelha de novo.
— Se as coisas por aqui… ficarem mais interessantes… — Passei meu nariz pelo pescoço dela… e mordi de leve… só pra ouvir aquele gemido baixinho que eu tanto amava.
— A doutora Caroline vai adorar saber como tem sido os seus “bom dias” pra mim… — Ela respondeu rindo, mas com a voz arrastada.
— Eu sou cuidadoso… — Sussurrei contra sua pele.
— Você é um… — Ela começou, com aquele tom insinuante… mas eu não deixei terminar.
Capturei a boca dela num beijo profundo… lento no começo… mas que foi ganhando força, como tudo entre nós.
Beijei com o tipo de desejo que só ela despertava em mim… um misto de urgência, posse e carinho.
Levantei com ela no colo, a fazendo gritar e rir ao mesmo tempo.
A coloquei no chão, dei outro beijo rápido e entrelacei nossos dedos.
— Vamos? — Falei.
— Aonde? — Ela perguntou, com aquele olhar provocante.
— Primeiro… café da manhã. Depois… meu segundo round.
Evelyn parou antes de chegarmos à porta.
— Segundo round? — Repetiu, confusa.
— Sim…
Minha segunda conversa com Anderson.
— Alex… — Ela começou… mas eu segurei seu rosto com cuidado.
— Tá tudo bem, amor… — garanti, deixando um beijo na sua testa.
Ela só assentiu.
E seguimos juntos até a cozinha.
Porque o segundo round estava apenas começando.
E Brandon Anderson… agora oficialmente meu irmão… ainda tinha muita coisa pra me contar.
Principalmente… sobre Robert.
Eu ainda não o perdoei.
Ainda não esqueci.
As cicatrizes… continuam aqui.
E ainda doem.
Enquanto caminhava, a lembrança da Rachel voltou, rasgando meu peito com a mesma força de sempre:
"— Alex… promete que nunca vai cansar? Que nunca vai cansar da gente?"
Prometo, princesa…
E nunca mais vou deixar um irmão meu… cansar.
Seja ele quem for.
Porque eu sou Alexander Sterling…
E eu sempre… cumpro as minhas promessas.

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