Evelyn
Jackson, sempre paciente, esperou que eu me trocasse e me ajudou a arrumar minhas coisas para voltarmos para Houston. O caminho até o hospital foi torturante. Benjamin nos ligou para dizer que a cirurgia de Alexander havia terminado após horas de tensão e que logo ele seria levado para o quarto. Um alívio me tomou. Apesar do susto, ele ia ficar bem.
Jack tentou puxar assunto, tentou aliviar o clima. Ele sabia os gatilhos que esse tipo de acontecimento causava em mim, pois foi exatamente assim que perdi meus pais. A lembrança daquele dia me atingiu como uma lâmina fria.
Eu tinha acabado de me formar na Universidade do Texas, em Austin. Foram quatro anos longe dos meus pais, vendo-os apenas nos feriados ou nas visitas surpresas que faziam para mim. Austin não ficava tão longe de Boerne, e foi por isso que escolhi estudar lá.
Quando voltei para casa, meus pais prepararam uma festa para mim. Alguns dias depois, já estava empregada. Os Anderson, que sempre foram amigos da nossa família, convidaram meus pais para uma festa de boas-vindas para Brandon. Eles não se viam há anos, e meu pai se empolgou com o convite. Eu não pude ir — era nova no trabalho e não queria me ausentar. Na volta para casa, meus pais estavam na estrada quando minha mãe me ligou:
— Querida, vamos nos atrasar. Parece que tem uma obstrução logo à frente.
Ela colocou no viva-voz. Ouvi meu pai resmungar. Ele odiava ficar preso no trânsito, por isso amava Boerne.
Respondi que tudo bem, que aproveitaria para tomar banho e assistir a um filme.
— Tudo bem, te amamos, querida — disse minha mãe.
— Te amo, gatinha — meu pai completou.
E essa foi a última vez que ouvi suas vozes.
Um barulho me tirou dos pensamentos e me trouxe de volta ao presente. Ao hospital. A Alex...
Entramos no hospital e o cheiro forte de antisséptico impregnava o ar, ouvia os murmúrios de vozes pelos corredores enquanto passávamos. Cada passo que eu dava, parecia pesar toneladas. Não só pela preocupação com Alexander, mas pelas lembranças que me atingiam. Dessa vez não dos meus pais, mas de quando fui ao hospital por Brandon.
Meu coração tamborilava dentro do peito, e minhas mãos estavam frias, mesmo com o calor sufocante do hospital.
Benjamin nos encontrou na recepção, seu rosto carregava os sinais do cansaço, mas havia um leve alívio em sua expressão.
— Ele está estável. A cirurgia foi longa, mas correu bem.
Informou, e eu soltei o ar que nem percebi estar prendendo. Minhas pernas fraquejaram, e Jackson precisou segurar meu braço.
— Podemos vê-lo? — minha voz saiu fraca, quase um sussurro.
Benjamin assentiu.
— Ele ainda está sob o efeito da anestesia. Pode demorar um pouco para acordar, mas já está sendo transferido para o quarto.
Caminhamos pelo corredor até a UTI, onde Alexander havia passado as últimas horas. Quando finalmente me permitiram entrar, me preparei para o que veria, mas nada poderia realmente me preparar para aquilo.
Deitado na cama, cercado por fios e máquinas, Alexander parecia tão vulnerável quanto nunca imaginei vê-lo. Seu rosto estava pálido, um corte profundo marcava sua têmpora direita, coberto por curativos. A lateral de seu rosto estava inchada, e havia um hematoma arroxeado descendo até sua mandíbula. O braço esquerdo estava engessado, suspenso por uma tipóia, e um curativo largo cobria seu abdômen, onde provavelmente haviam feito a cirurgia.
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