Alexander
Depois do acidente, eu apaguei. Lembro de acordar e já estar deitado. Percebia vultos ao meu redor, e as luzes no teto pareciam correr. Foi quando percebi que estava em um hospital. Tudo acontecia muito rápido; eu alternava entre momentos de sono profundo e lapsos de consciência. As vozes ao meu redor eram apenas murmúrios, difíceis de entender.
— Precisamos encaminhá-lo para a cirurgia — ouvi uma voz masculina.
— Estamos tentando contato com a família — agora era uma voz feminina.
Um pensamento me atingiu como um raio.
— Evie... — sussurrei, antes de ser engolido pela inconsciência novamente.
Não sei quanto tempo dormi, mas desejei do fundo do coração que não estivesse morto. Então, senti uma presença ao meu lado, acompanhada de vozes indistintas. Tentei abrir os olhos, mas foi em vão. Um cheiro familiar preencheu meus sentidos, seguido de uma voz doce.
— Quanto tempo até ele acordar?
Era Evie? Não podia ser. Eu não tinha certeza se estava sonhando ou se já tinha atravessado para o outro lado.
Outra voz respondeu à pergunta, depois ouvi passos se distanciando. Ainda sem conseguir abrir os olhos, apenas escutei um barulho de algo se arrastando e, logo em seguida, o silêncio. Mas então...
— Você podia ter morrido, senhor Sterling
Senti dedos tocarem minha testa. Deus, aquilo não era um sonho.
— E eu não iria perdoá-lo se fizesse isso, seu homem irritante.
Seu toque fez um arrepio percorrer meu corpo. Se isso era a morte, eu a receberia de bom grado. Mesmo ela me achando irritante, tentei sorrir, mas meu rosto parecia travado.
— Não pode entrar na minha vida assim e depois simplesmente sair.
Ela se recostou em mim e, quando finalmente consegui abrir os olhos, vi sua cabeça sobre meu peito.
— Digo o mesmo a você, Evie.
Ela se ergueu, pousando suas pequenas mãos em meu rosto. Seus olhos cor de avelã me encaravam, e lágrimas desciam livres por suas bochechas.
— Você acordou... — sua voz era um sussurro de alívio.
Dessa vez, consegui sorrir.
— Será que consigo um pouco de água? — perguntei.
Ela ainda segurava meu rosto, congelada no tempo, seus olhos fixos nos meus. Ela era um turbilhão de emoções, eu podia sentir.
Percebi que um dos meus braços estava imobilizado. Levantei o outro, ainda com pontos do meu rompante no banheiro, e toquei seu rosto de volta.
— Ei. Eu estou bem.
Ela soltou meu rosto e deitou a cabeça em meu peito com cuidado.
— Graças a Deus... Não suportaria te perder também.
Aquelas palavras tocaram o fundo da minha alma. Por mais que odiasse as comparações com Brandon, sabia que não era sobre isso. Era sobre ter perdido os pais e encontrado conforto nele, e agora, ter perdido ele e estar encontrando conforto em mim.
Fiquei preso em suas palavras e em seu toque. Ela parecia se recusar a se afastar, e eu... a perder seu toque.
Saímos daquele transe quando a porta se abriu, revelando Amélia e Jackson.
Jack pigarreou, e Amélia exibia um sorriso nos lábios.
— Achei que o encontraria resmungando, mas parece que está bem confortável.
Evie se afastou imediatamente. Vi seu rosto ganhar aquele tom rosado que, depois da cor dos seus olhos, estava se tornando minha cor favorita.
Merda. O que essa mulher está fazendo comigo?
— Ele acabou de acordar. Não deu tempo de se situar — Evie respondeu, sua voz um sussurro envergonhado.
— Não tenho motivos para reclamações. Estou contente por estar vivo — lancei um olhar duro para Jack. — E estou muito bem situado — respondi de forma mais suave a Evie. Pelo menos, tentei.
Amélia se aproximou, abaixou-se e me envolveu em um abraço.
— A cota de sustos com você já está chegando ao limite, garoto.
Sorri com suas palavras e aceitei seu carinho. Amélia tem sido como uma mãe para mim todos esses anos. Ela conhece minha dificuldade em expressar emoções, mas nunca se incomodou. No fundo, sabe exatamente o papel que desempenha na minha vida.
Eles ficaram ali por mais um tempo. Já era tarde, mas, mesmo assim, Jackson me atualizou sobre alguns assuntos que não podiam esperar. Amélia reclamou, dizendo que aquilo não era hora nem lugar. Mas o que realmente prendeu minha atenção foi Evie. Ela estava alheia, perdida em seus pensamentos, e aquilo me incomodava. Sabia que, por mais forte que parecesse, ainda era tudo muito recente. A morte de Brandon, os gatilhos que um acidente de carro poderiam despertar nela.
Despedi-me deles, e Amélia insistiu para que Evie os acompanhasse. Mas ela se recusou a ir embora. Um sentimento egoísta tomou conta de mim, e fiquei feliz por sua decisão. Sabia que aquele não era um lugar confortável para ela passar a noite. Mas eu a queria por perto. Jamais diria isso em voz alta. Mas... eu queria.
— Você tem certeza de que deseja ficar? — chamei sua atenção.
Ela ainda olhava para a porta, mas virou-se para mim e assentiu.
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