Enzo
Tive que deixar minha ragazza no hospital e ir com Alexander resolver toda essa situação. Fazer parte da Cosa Nostra tem suas vantagens, e para mim isso é normal, conseguir as coisas com facilidade. Nasci em meio a tudo isso. Não conheço outra vida.
A reunião aconteceu e as coisas que descobri me irritaram profundamente, mas quando Sterling me pediu um minuto, eu sabia que não era só raiva que eu sentiria. E não foi!
Saber que a maledetta da Paola estava de volta trouxe o pior que há dentro de mim. Ela não só ousou voltar, como ainda teve a audácia de se juntar ao Vito Santoro. Assim que saí da Sterling, liguei para Piccolo. Pouco nos falamos depois do que Paola me fez, porque eu queria a morte dela, lenta e dolorosa. Mas ele, como pai, achou que deserdá-la seria o suficiente. E, por ordem do meu avô, acabei aceitando… Na verdade, ele me obrigou a aceitar.
Só que, em meio a todo esse caos, problemas e traições, tudo o que eu mais queria era estar com a minha ragazza. E foi o que fiz. Assim que o dia amanheceu, resolvi algumas coisas com Alexander e segui para o hospital. Fui o ragazzo mais feliz ao saber que ela estava acordada, aparentemente bem, e ainda disse que era “louca por mim”.
Pois é. Mia ragazza me ama!
Mas, como nada entre mim e Elena é fácil, discutimos. Eu sabia que ela queria me proteger, e eu era grato por isso. Só me fazia amá-la mais. Só que eu disse que a proibiria de se arriscar por mim novamente, e sair do hospital era um risco.
Nossa briga não deu bons resultados, claro que não daria, era uma briga. Mas acabei me exaltando mais do que devia e falei do Julio, o amigo que morreu para salvá-la.
Pedi que me perdoasse, nos beijamos e achei que começaríamos a nos entender. Mas então notei que ela começou a agir estranho, piscar várias vezes. E então me chamou:
— Enzo… — dizia entre as lágrimas.
— Sim, amore mio, estou aqui. Me diz o que houve? — Me aproximei dela novamente.
— Eu… não estou te vendo…
— Como assim? — O medo tomou conta de mim.
— Enzo… eu tô cega.
O mundo parou. Não… ela não podia… não por minha culpa. Por me salvar. Eu jamais me perdoaria por fazer isso com ela.
— Amor… — eu disse com a voz trêmula. — Me diz exatamente o que está acontecendo. O que está sentindo? — Passei a mão em seu rosto, secando suas lágrimas. Os olhos dela estavam parados, ela tinha parado de piscar.
— Enzo… eu não te vejo. Eu te sinto, te ouço… mas estou na escuridão.
O desespero me tomou. Eu não sabia o que fazer. Precisava chamar o médico.
— Vou atrás de um médico.
— Enzo, você não pode andar pelo hospital assim… e não precisa sair.
— Elena, pelo amor di Dio. Para de pensar um minuto em mim! — falei, irritado.
— Atrás de mim tem um botão. Se você apertar, alguém aparece.
Olhei para a parede, achei o botão e o apertei. Notei que Elena começou a tremer. Ela não conseguia nem mesmo controlar as mãos.
— Amor, fala pra mim o que está sentindo? — segurei seu rosto entre minhas mãos.
— Estou com muita dor de cabeça. Enquanto discutíamos, senti algumas coisas… mas pensei que fosse pela pancada, por ser recente.
Encostei minha testa na dela. Ela tateou meu peito até me encontrar e me puxou. Separei nossas testas e a abracei. Ela chorava, agarrada a mim. Aquilo me quebrou por dentro. Eu não suportaria isso. Jamais me perdoaria.
— Amor… — Ela sussurrou. E eu nem pude ficar feliz pela forma carinhosa como me chamou.
— O que foi, mia bella?
— Não estou me sentindo bem… tem alguma coisa acontecendo…
Me separei dela só para alcançar a campainha novamente. Comecei a esmurrar o botão até que a porta se abriu e uma enfermeira entrou.
— Senhorita Fontana, em que posso ajudá-la?
— Ela não está enxergando — respondi de forma seca.
— Me dê licença, senhor. Vou verificar os sinais dela enquanto o médico não chega.
— Não temos tempo pra isso — o médico disse. — Só se afaste, senhor Mancini.
Recuei alguns passos até bater na parede. O choque e o medo me paralisaram. Meus olhos não saíam dela. O corpo dela tremia como se estivesse convulsionando.
— Conexões rápidas! Ela está em FV! — o médico gritou, olhando para o monitor. — Prepara o choque! 200 joules!
Agora era eu quem tremia. Eu não conseguia controlar. A arma ainda estava em minha mão.
Uma das enfermeiras fixava eletrodos no peito de Elena. Em segundos, o desfibrilador foi carregado, emitindo um zumbido elétrico agudo.
— Cargas aplicadas! Afastem-se! Todos limpo!
Ninguém precisou ser avisado duas vezes. O corpo da mia ragazza arqueou-se em um espasmo violento com o choque elétrico, depois caiu inerte de volta à cama. O monitor ainda mostrava somente uma linha.
— Compressões! Um, dois, três, quatro... Epinefrina, 1 mg IV, agora! — o médico ordenou, enquanto uma das enfermeiras iniciava as compressões no peito dela, ao mesmo tempo que outra injetava a medicação.
O som das costelas estalando levemente era abafado pelos alarmes do monitor e pelas ordens rápidas.
Eu assistia tudo com o coração na garganta. Me sentindo impotente, vendo mia ragazza, aquela que escolhi para ser minha para sempre, lutando pela vida. Cada compressão, cada injeção, cada choque era como um martelo batendo em meu peito. Uma dor. Comecei a escorregar pela parede até sentir o chão.
Me sentei, agarrado aos joelhos, sem tirar os olhos dela. Eu mataria… não, eu vou matar todos eles, se não trouxerem minha Elena de volta. Mia ragazza tão teimosa, forte, destemida… agora estava ali. Tão frágil. Tão vulnerável.
— O ritmo persiste! Segundo choque! 300 joules! Carregando!
Novamente o zumbido. Novamente um aviso. O corpo da minha mulher estremeceu com o segundo choque… mas o monitor… ainda era um caos.
Abaixei a cabeça, apoiando nos meus joelhos. Minha arma… ainda estava em minhas mãos. E o único pensamento que me tomava era:
— Eu vou matar todos eles… se não trouxerem minha Elena de volta.
— Eu vou matar... todos eles!

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