Evelyn
Depois que Alexander saiu do quarto, me deitei e dormi. Só percebi o quanto precisava disso depois de passar o que pareceram horas adormecida.
Quando acordei, vi Alexander sentado na poltrona ao lado da cama. Ele me encarava com aquela máscara de sempre, impassível, difícil de ler. E isso me incomodava.
Sentei-me na cama e vi uma bandeja com comida. Olhei para ela e depois para Alexander, que permanecia calado.
— Agradeço, mas estou sem fome — apontei para a comida.
— Abigail disse que você já está há horas sem comer.
A voz dele era seca, sem emoção. A mesma que ele usava quando nos conhecemos.
— Agradeço sua preocupação. E a de Abby. Mas não tenho fome...
Joguei as pernas para fora da cama e o encarei.
— O que significa que não irei comer.
Me levantei, mas sua voz fria chamou minha atenção.
— Onde pensa que vai?
Olhei para ele com a mesma expressão que ele usava comigo.
— Banheiro. Alguma objeção? — levantei as sobrancelhas em desafio.
— Seja rápida. Pousaremos em minutos.
Ele se levantou para sair do quarto.
— Já chegamos a Paris? Por quantas horas eu dormi? — perguntei, confusa.
— Estamos em Portugal. Pousaremos em Lisboa.
A confusão em mim se intensificou.
— Por quê?
Ele me olhou, e por um breve instante percebi algo brilhar em seus olhos... mas durou segundos. A máscara havia voltado, mais firme que antes.
— Vou levar você até um hospital para ser examinada.
— Alex... — me aproximei dele
— Eu disse que estava melhor. Provavelmente foi...
Mas antes que eu terminasse, ele disse:
— Isso não está em discussão, Evelyn. Já solicitei um carro e reservei um quarto em um hotel.
Seus olhos encontraram os meus.
— Sairemos daqui direto para o hospital, e de lá vamos para o hotel. Passaremos a noite e retomaremos nosso destino amanhã de manhã.
Me deu as costas e saiu porta afora.
Sentei-me na cama, tentando entender o que eu havia feito dessa vez para que ele me tratasse daquela forma.
Fui até o banheiro, como havia dito, e quando saí, ouvi as instruções do piloto. Não queria encarar Alexander, não agora. Então me acomodei em uma das poltronas do quarto, fechei os olhos e aguardei o pouso. Assim que senti que estávamos em terra, suspirei, abri os olhos e encarei a porta por alguns segundos... até que batidas me tiraram do transe.
Me levantei e, quando abri, era Abby.
— Como está se sentindo? — perguntou ela.
Por um instante, me senti mal. Não da forma que ela imaginava, mas por tê-la convidado para passar o final de semana comigo e, no fim, ela estar envolvida nessa confusão, e ainda por cima, deixei-a sozinha praticamente a viagem toda.
— Sinto muito, Abby, por ter te deixado sozinha.
Ela me puxou para um abraço.
— Ei, eu tô adorando. Jack é uma ótima companhia. E Emy também.
Nos separamos e ela concluiu:
— E onde eu teria a oportunidade de conhecer Portugal e Alemanha assim, em um único final de semana?
Bateu os ombros nos meus de forma descontraída. Rimos juntas, nos abraçando novamente.
— Estão prontas? — perguntou Jackson, e ambas assentimos.
— Onde está Alexander?
Vi quando Abby ficou tensa com a menção dele.
— Já está lá fora, te aguardando. Ele irá com você até o hospital, e o restante de nós vai direto para o hotel.
Balancei a cabeça em negação.
— Isso é extremamente desnecessário.
— Talvez não seja, Evie.
Disse Abby, mas notei algo em seu tom de voz e no gesto que fez. Era como se fosse algo óbvio... mas, na verdade, não era. Porque eu não fazia ideia do que estava acontecendo.
Saímos do avião, e Emily se aproximou.
— Melhor? — assenti, e perguntei:
— E você?
Ri da forma como ele se referiu a Alexander.
— Comentou sobre seu mal-estar, o desmaio... e também sobre o atraso no seu ciclo.
Fiquei paralisada por um instante. Como Alexander sabia da minha menstruação atrasada? Eu não comentei com ninguém, a não ser... Abby.
O médico continuou:
— Ele mencionou uma perda recente, então vocês não sabem se esse atraso pode ser por estresse... ou talvez uma gravidez. Vamos fazer alguns exames...
Antes que ele continuasse, o interrompi:
— Gravidez? Alexander acha que eu estou grávida?
O médico me olhou, um tanto confuso, mas assentiu.
E então, fiz a coisa mais improvável: eu ri. Não, eu gargalhei.
O médico e a enfermeira me olharam sem saber se eu estava brincando... ou se tinha enlouquecido de vez.
Mas, quando a crise passou, a raiva veio.
Eu sabia que Abby agia com boas intenções, mas era exatamente assim que as coisas começavam a desandar: pessoas decidindo por mim, achando que sabiam o que era melhor.
Rapidamente, expliquei ao médico os motivos pelos quais tinha certeza de que não estava grávida.
Ainda assim, ele insistiu em fazer o exame. Eu aceitei, e como já imaginava, deu negativo.
Ao perceber que havia algo entre Alexander e mim, ele também ressaltou a importância de um acompanhamento psicológico. Disse que talvez isso me ajudasse a lidar com a perda... e com todo esse estresse emocional.
Chegou a usar o termo: “relacionamento rebote”.
Prometi pensar a respeito e fiz uma anotação mental para pesquisar sobre isso.
— Obrigada, doutor.
Agradeci e segui para fora. Assim que a porta se abriu, um Alexander Sterling furioso e ansioso me aguardava.
— E aí?
Olhei direto em seus olhos, ponderando se contava ou o ignorava, como ele fez comigo até agora. Ainda estava com raiva por ele ter jogado comigo, se precipitado e tomado decisões sem nem sequer conversar comigo.
E então, decidi:
"No hotel, conversamos."
Saí sem esperá-lo, sem olhar para trás.
Você quer jogar, Alexander Sterling? Então vamos jogar. Mas, desta vez, quem dita as regras sou eu.

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