Capítulo 280 – É hora do adeus
Eloisa
O dia acordou cinza, mesmo em uma manhã de verão. Já passei por isso antes, sei como é. No primeiro momento, eu me recusei a abrir os olhos, porque sabia que, no instante em que fizesse isso, a despedida ia ser real. Eu teria mesmo que dizer adeus.
Olhei para o lado e Hugo dormia. Depois de dias complicados, ele finalmente conseguiu descansar. Já eu… mesmo mantendo os olhos fechados a noite inteira, o sono simplesmente se escondeu. Por alguns minutos, fiquei ali o admirando. Perdi minha mãe, meu pai, mas eu ainda tinha ele… só não sabia por quanto tempo. E, do fundo do meu coração, espero que seja para sempre.
— Preciosa, se continuar me olhando assim, vou esquecer o mundo lá fora e te fazer minha.
Sorri para as palavras dele.
— Você está acordado e me deixou ficar te olhando igual a uma pervertida.
Ele abriu os olhos, e me perdi no azul deles. Desci meus lábios aos seus, somente em uma carícia.
— E não precisa me fazer sua. — Passei a mão em seu rosto. — Porque eu já sou.
Hugo envolveu o braço firme em minha cintura, puxando-me para mais perto, como se quisesse me proteger de um mundo inteiro. Então me beijou devagar, com aquele cuidado que parecia dizer que sabia exatamente o quanto eu estava quebrada por dentro.
Quando nos afastamos, ele manteve sua testa colada à minha, acariciando meus cabelos.
— Sim, você é minha, Elo… e eu sou seu.
Fechei os olhos, respirando seu cheiro, sentindo o calor do corpo dele me envolver. No meio do caos que minha vida havia se tornado, em um dos dias mais dolorosos que eu já vivera, ali estava ele. Minha âncora. A certeza de que, mesmo quando o chão desaparecer sob meus pés, eu ainda tenho onde me segurar.
— Não quero levantar — confessei, num sussurro. — Se eu levantar, vai ser real.
— Então a gente fica aqui mais um pouco — respondeu, apertando-me contra ele. — Até você ter certeza de que está pronta.
— E se esse momento não chegar? — perguntei sem hesitar.
— Vai chegar, amor. Mesmo que seja difícil e que doa para caramba. Você vai conseguir se levantar, e eu vou estar aqui, vou estar com você.
As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, e Hugo foi secando uma a uma com toda a delicadeza do mundo.
— E quando chegar a hora de dizer adeus, e você perceber que tudo isso é real, preciso que perceba uma outra realidade.
— Qual? — sussurrei com a voz embargada, sem conseguir segurar as lágrimas.
— Eu te amo, Hugo, e agradeço todos os dias por ter você.
— Também te amo, mi preciosa. — E selamos esse pedido com um beijo carregado de amor, o nosso amor.
Quando nos separamos, ele deu um beijo na minha testa, se ajeitou na cama, e me deitei sobre ele. Ficamos ali, apenas sentindo um ao outro. E, por um instante, a dor pelo meu pai, o peso no meu peito, pareceu menos sufocante. Porque, mesmo na despedida mais cruel… eu sabia que não estava sozinha. Eu tinha o Hugo, e com ele a certeza de que seria para sempre.
Depois de mais alguns minutos, ele levantou e seguiu ao banheiro para começar a se arrumar. Ainda me mantive na cama, olhando para o teto, algo que sempre fazia quando estava triste. Quando ouvi a porta do banheiro abrir, olhei para o Hugo.
— Vai se trocar? — ele me perguntou, e eu somente assenti e me levantei.
Entrei no banheiro e por alguns segundos fiquei presa em meu reflexo no espelho. Eu estava feliz pelo pedido de Hugo, mas a dor do meu pai ainda estava aqui. Mas para ser sincera, seu pedido não poderia ter vindo em melhor hora. Foi a declaração de amor mais linda, porque, em meio a uma das despedidas mais dolorosas e ao medo de não conseguir seguir em frente sem meu pai, Hugo me deu um motivo para não desistir. E sei que era exatamente isso que papai iria querer.
Terminei de me arrumar, saí do banheiro e ele estava sentado na cama me esperando. Veio até mim, me envolveu pela cintura e me beijou.
— Está pronta?
Acenei com a cabeça em um “sim”. Nos separamos e ele pegou em minha mão, mas antes que chegássemos na porta, ouvimos as batidas. Assim que abri, era minha irmã, a segunda parte de mim. Enzo e Maria estavam ao seu lado, ela olhou bem fundo em meus olhos, e nossa dor se refletia uma na outra. Elena me abraçou e permanecemos assim por alguns minutos. E então ela sussurrou em meu ouvido.
— É hora do adeus, Lolo.

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