Capítulo 319 – Fuga
Amira
Tempo.
As coisas se resumiam a isso para mim neste momento. Tinha que conseguir enrolar esse velho nojento até que Brandon conseguisse me achar.
— Ora, então parece que Enzo já descobriu a verdade? — o homem me perguntou.
— Pois é — eu disse com um certo desdém. — Se era algo que desejava levar para o túmulo, preciso te informar que você falhou.
— É uma mulher bem ousada — ele disse em um tom autoritário.
— Cretinos como você me fizeram assim — retruquei.
— Cretinos como eu?
— Ah, por favor, senhor impostor — eu disse com um sorriso nos lábios. — Vamos poupar essa tentativa de conversa amigável, ela não combina nem comigo e muito menos com você.
Ele caminhou até uma das cadeiras que tinham no quarto, a puxou e se sentou, mantendo os olhos em mim.
— Sou um homem educado, senhorita…
— Amira, Amira Khaled.
— Belo nome, significa princesa, se não me engano.
— Também.
— Também? — ele perguntou.
— Sim, ele pode significar princesa ou comandante. No meu caso… — cruzei as pernas, ajeitei a postura mesmo sentindo dor, o encarei antes de concluir. — Ele se encaixa para os dois.
— Ah, é? — perguntou com uma certa diversão.
— Claro, meu nome transmite ideias de nobreza, liderança e beleza. Assim como eu.
O homem ficou me encarando por alguns segundos, em pé atrás dele estava meu novo amigo Jhony, com um sorriso nos lábios.
— Mas vamos lá, falso Mancini, me diga o motivo da sua visita.
— Eu não sabia que a encontraria aqui, bella, achei que aqui só estaria a mia bisnipote.
— Me desculpe então por aparecer sem ser convidada, não é do meu feitio. Mas já que estou aqui, vamos colocar as cartas na mesa, assim poupamos o tempo de ambos.
— E no seu caso, você não parece ter muito — ele apontou para meu ferimento.
— Ah, isso? — puxei a blusa suja de sangue. — Não é nada, pode perguntar ao Emir, ele já me viu e me deixou em condições piores.
Notei ele ficar tenso, e Jhony também. Agora meu novo amigo saberia com quem estava trabalhando, e se entendeu o significado da palavra “Emir”, isso me diz muito sobre ele.
— Como sabe sobre ele? — O impostor me perguntou.
— Muito, vivi no reduto, em suas mãos por anos — puxei meu cabelo, expondo meu pescoço, onde havia uma cicatriz. — Está vendo isso aqui, foi do nosso último momento juntos, eu tinha apenas 17 anos ele esquentou uma faca e me marcou para que eu sempre me lembrasse do meu lugar.
Olhei para Jhony, e algo brilhava em seus olhos.
— E sabe, senhor impostor, funcionou. Porque eu nunca me esqueci qual era.
— Às vezes, fazemos o que é preciso. — ele me respondeu.
— Claro, concordo com você. Emir, me feriu, você tentou matar aqueles que um dia chamou de “netos”, sequestrou uma criança, colocou uma bomba em um avião com mulheres e bebês inocentes. Tudo em nome do que “é preciso”.
O desconforto de Jhony só aumentou, eu pude ver, e o impostor também viu.
— Melhor guardar a língua dentro da boca, senhorita Amira.
— Mas eu disse alguma mentira? Ah, claro que não. Posso ser uma cretina na maioria das vezes, mas uma cretina sincera, odeio mentiras.
Ouvimos batidas na porta, e logo em seguida um homem entrou. Sírio, ele não precisava abrir a boca para que eu soubesse, mas quando o fez, a certeza veio.
— Senhor, uma ligação importante o aguarda — o homem disse, e logo seus olhos foram até mim.
— Estou indo. Assim que eu terminar a chamada, levem a garotinha até mim. — Lorenzo disse.
Me levantei num pulo.
— Acho que isso não irá acontecer.
Ele se levantou e se aproximou de mim.
— E posso saber quem vai impedir? — me perguntou.
— Eu… — respondi em um sussurro para que somente ele ouvisse. — Já notei que nem todos aqui sabem sobre o Emir, pode ser que não tenha o apoio que precisa se eles descobrirem, seria péssimo para você uma rebelião dos seus homens.
— Devo admitir, senhorita Amira, é uma mulher que sabe jogar.
— E é sempre para ganhar, senhor impostor — retruquei.
— Veremos… — ele disse, mantendo o contato visual.
— Avalie melhor seu tabuleiro, senhor impostor, tenha os peões na casa certa, seus cavalos e torres — levantei o canto dos lábios. — E lembre-se que no xadrez, a rainha, é a peça mais forte.
— Senhor?! — o sírio o chamou. — Precisamos ir.
Lorenzo assentiu, e foi caminhando até a porta. Mas antes de sair se dirigiu a Jhony.
— Quando eu mandar, leve a menina até mim — ele virou para mim. — Sozinha!
E com essa última ordem, ele saiu. Assim que a porta se fechou, olhei para Jhony, meu corpo ia ceder, mas eu não morreria antes de tirar a criança daqui.
Eu dei um passo em sua direção, mas minha visão escureceu. Não sei o que ele viu em meu rosto, mas correu até mim.
— Você precisa deitar, vou ver se consigo algo para seu ferimento.
— Não tenho tempo para isso, Jhony, você precisa me ajudar.
— Ajudar?
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