Evelyn
Alexander não saiu da minha cabeça nem por um segundo.
No caminho, Thomas me contou nosso destino: ele me levaria ao Memorial Park.
Eu nunca tinha ido até lá, mas ele garantiu que eu iria gostar.
Tentava amenizar o clima, puxando assunto sobre a galeria. Contei a ele sobre o incidente, mas confirmei a história do recruta.
Não que eu não confiasse em Tom para dizer a verdade…
Mas ainda não sabia se ele conhecia Brandon como eu estava começando a conhecer.
E se conhecia...
Eu já não tinha tanta certeza se minha confiança continuaria a mesma.
Assim que chegamos, ele estacionou o carro e, antes de sairmos, chamou minha atenção.
— Assim que Alex me rastrear, ele virá para cá. Tem certeza de que não quer ligar para ele? Acalmá-lo e dizer que vocês conversam quando estiver pronta?
Olhei bem para Thomas. Não tinha como esse cara, que sempre me defendeu de Brandon, que esteve ao meu lado no hospital antes de ele morrer, e não saiu do meu lado no enterro, saber a verdade, ou pior, tê-la escondido de mim.
— Tom, posso te fazer uma pergunta?
— Claro.
— Quem era o Brandon?
Ele se ajeitou no banco, e notei que ficou inquieto. Seu jeito me disse mais do que palavras. Talvez eu estivesse enganada.
Ele sabia quem era o meu noivo.
— O que quer dizer com isso? — respondeu com outra pergunta.
O ar no carro começou a ficar denso, e o calor do verão não ajudava em nada.
— Podemos sentar em algum lugar para conversar? Estou me sentindo sufocada aqui dentro.
Ele assentiu, e saímos. No caminho, foi me contando sobre o parque. Mostrou o trajeto que levava até a trilha, o lago, o campo de golfe onde havia um restaurante com uma comida incrível. Falou brevemente da história do lugar: antes de ser um parque, aquilo foi o Camp Logan, um campo de treinamento do exército, que levava o nome do senador e general da Guerra Civil, John A. Logan.
Ele parecia fascinado com tudo, realmente gostava de combate.
Chegamos a uma área de piquenique, nos sentamos e ele me olhou novamente. Por alguns segundos, não disse uma palavra. Seus olhos ficaram presos nos meus... aquilo, de alguma forma, me causou arrepios. Mexeu comigo, e ele percebeu.
— Então... — começou. — Quer me explicar o que exatamente quis dizer com "quem era o Brandon"?
Engoli seco. Por um momento, hesitei. Será que eu realmente estava pronta para isso?
Alex sempre foge do passado, e não deixa ninguém me contar nada. Sei que é por proteção, por achar que eu não daria conta da verdade.
E, analisando minha reação depois do pouco que descobri... talvez ele esteja certo.
Mas eu já tinha começado. E estou cansada de viver no escuro em relação a Brandon.
Eu quero a verdade.
Eu quero tudo.
Mesmo que doa.
— Eu quero saber quem ele era antes de mim. E o que você sabe dele depois de mim.
Tom se ajeitou, passou a mão no cabelo, como se ponderasse o que dizer, ou se deveria dizer alguma coisa. Suas mãos estavam sobre a mesa, e eu as alcancei. Ele me olhou de novo.
— Por favor... me diz. Por que ninguém nunca quer me contar a verdade? Por que todos fogem dessa conversa? Alex, Jack, Ben, Amélia... A única que não se curva diante da memória dele é Jordan.
— Jordan?! — me perguntou, confuso.
Soltei suas mãos.
— Sim. Uma jovem de quase dezoito anos que esteve nas mãos dele. Que carrega uma marca de dor e sofrimento. E, quando digo "marca", não é uma metáfora para tristeza. É real. Visível. Gravada em seu rosto pela violência dele.
— Sabe por que ele nunca jogou a verdade na minha cara? Sabe por quê?
Dei um sorriso triste, vencida pela dor.
— Porque Alexander realmente me ama.
Suspirei, sentindo meu coração despedaçar com a constatação.
— De um jeito que o Brandon... Brandon jamais seria capaz de amar.
Olhei direto nos olhos de Thomas.
— Achei que você conhecesse o Alexander o suficiente para saber que ele nunca seria capaz de inventar algo assim. Ele não precisa disso. O que aconteceu com a Jordan é real. Eu vi. Eu senti a dor dela. — minha voz falhou, mas eu não desviei o olhar.
Sequei as lágrimas com as costas da mão, respirei fundo e endireitei os ombros.
— Então, Thomas Mitchell... — falei, com a voz mais firme do que me sentia — te pergunto de novo: quem era o Brandon?
Pausei por um instante, deixando o peso da pergunta cair sobre nós, antes de concluir, fria e dolorosamente:
— Porque se você não consegue responder... talvez nunca tenha conhecido o homem que defende com tanta certeza.
Estávamos presos naquela conversa. Eu, nessa súbita necessidade de não apenas descobrir quem era Brandon, mas de fazer Thomas enxergar também.
E ele, ponderando cada palavra minha, sem saber como responder.
Tão absorvidos que não ouvimos os passos.
Quando levantei subitamente, chamando a atenção de Thomas, senti uma presença atrás de mim. Eu não precisava olhar para saber quem era.
No segundo seguinte, uma voz rouca e ameaçadora cortou o ar:
— Evie, abaixa agora! — era Alexander.
E então o caos começou.

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