Jackson
Saí da sala com sangue nos olhos, caminhando de um lado para o outro, inquieto. Alexander era o chefe e eu lhe devia obediência, mas não podia ignorar sua atitude. Interrogar Evelyn já era algo difícil, mas ignorar o aniversário da Sophia que foi tirada de nós da forma mais cruel possível, e da Jordan que merecia esse momento depois de tudo o que passou nas mãos de Brandon?!
Soquei a parede com força, senti os ossos quase cederem. Mas a dor física não era nada comparada à raiva que eu sentia de Alexander naquele momento.
Ouvi a porta se abrir, e não precisei olhar para saber que era ele. Me virei e o encarei.
— Quer me dizer alguma coisa? — perguntou com aquele ar prepotente de sempre, como se deixasse claro que não importa o que eu diga, ele fará o que quiser.
— Além de te dizer que você está sendo um babaca? Não. Não quero dizer nada. — Dei as costas e segui em direção à saída. Mas sua voz me parou no mesmo instante.
— Não ouse sair.
Ouvi seus passos se aproximando, mas não me virei. Só que ele era Alexander Sterling. Ele não se curvava a ninguém e odiava ser desafiado. Parou na minha frente. Seus olhos carregavam mais do que autoridade, carregavam a certeza de que sabia exatamente o motivo da minha fúria.
— Vou perguntar novamente, Reynolds. Quer me dizer alguma coisa?
Ele me encarava. Eu sempre me curvei a ele. Sempre foi assim, desde que éramos pequenos. Mas não hoje. Não quando ele simplesmente quer ignorar o sentimento de alguém tão importante para mim quanto a Jordan, e a memória da pessoa que eu mais amei nesse mundo: a pequena Sophia.
Mas antes que eu respondesse… ela apareceu. E meus olhos foram direto para ela.
Um sorriso tímido brincava em seus lábios, raro, mas presente. Seus olhos pareciam duas pedras de ônix, intensos, e combinavam com os cabelos lisos e castanhos que ela sempre deixava soltos, como se quisesse se esconder atrás deles. O capuz, claro, continuava em sua cabeça, como sempre.
Senti os olhos de Alexander sobre mim, enquanto os meus ainda estavam nela.
Ela correu até mim assim que viu minha mão ferida.
— O que aconteceu? — perguntou, pegando minhas mãos com delicadeza. O toque suave dela não combinava com a garota durona que ela tentava ser.
— Reflexo de um dia estressante — respondi, puxando seu capuz numa tentativa de brincar.
Ela deu um tapa na minha mão e riu.
Seus risos eram raros. Mas quando vinham... aqueciam meu coração.
— Te encontro em minha casa em uma hora. Você vai comigo para Boerne. — Disse Alexander com aqueles olhos de reprovação que eu conhecia bem.
— Achei que iria sozinho?
— Você e Evelyn vão comigo.
Assenti, mas Jordan interveio.
— Você precisa cuidar da sua mão primeiro.
Sua voz era suave, assim como foi seu toque, um contraste com a mulher que precisou se tornar por conta dos abusos e sofrimentos causados por Brandon. Jordan foi obrigada a amadurecer, mas no fundo ainda era uma menina em transformação. E eu gostava quando ela se permitia isso. Quando deixava todas essas merdas de lado e era só a garota prestes a fazer dezoito anos.
— Garanto que ele já teve machucados muito piores e pode se virar sozinho. Você vem comigo para casa.
Alexander foi duro em suas palavras, em seu olhar. Eu ia retrucar, mas Jordan foi mais rápida:
— Irei ajudá-lo primeiro. Você disse que ele vai para sua casa. — Ela enfatizou a palavra para lembrá-lo de que a casa era dele, não dela. — Em uma hora, pego carona com ele.
Ela o encarou do mesmo jeito que o olhou quando nos conhecemos. Sem abaixar a cabeça. Mostrando que não tinha medo dele. Que ele não mandava nela.
E eu sei que, no fundo, Alexander gostava disso nela. Jordan lembrava muito ele nessa idade. As histórias dos dois não eram tão diferentes. A dor os moldou, os tornou o que são agora. Os obrigou a amadurecer. Só que ele ainda era Alexander Sterling... e é claro que não ia deixar barato o desafio.
— Eu disse que você vai comigo para casa, Jordan. Jackson sabe muito bem se cuidar.
Decidi intervir. Conhecia bem o Alex, e já tinha noção suficiente de quem era Jordan.
— Tá tudo bem, marrenta. — Bati de leve com meu ombro no dela. — Vou pra casa, tomar um banho e cuidar disso aqui. — Levantei minha mão. — E depois vou pra lá. Assim você pode me mostrar o programa que está criando antes de eu partir.
Seus olhos brilharam para mim. Ela era uma verdadeira hacker e estava desenvolvendo um programa que podia revolucionar a Sterling. Diego estava encantado com ela, e não sei por que, mas lembrar do jeito dele com ela... me incomodou.
Jordan assentiu com o olhar e seguiu para fora com Alexander. A porta atrás de mim se abriu, e Morales, Thomas e Benjamin saíram de lá.
— Vocês brigaram? — Benjamin perguntou, se aproximando.
Neguei com a cabeça.
— Ainda não. Mas talvez eu precise... pra trazer ele de volta.
— Aquela com ele é a tal Jordan? — Perguntou Thomas, e a forma como ele a citou me irritou.
"Eu sempre tô de olho em você."
Foi meio sugestivo isso.
Então ela atingiu minha mente em cheio... com aquele sorriso, aquele jeito prepotente igual ao Alex. Mandona. Marrenta. E tão linda sem nem perceber. Ela se esconde atrás da cicatriz... mas mal sabe que aquilo não impede em nada a beleza natural que ela tem.
Lembrei dela com o vestido novo. Tão feminina. Tão mulher. Quem olha não diz que tem só dezoito anos.
Mas aí outro pensamento me veio.
Como o Diego, que tem quase a mesma idade que ela, a olha. Tá na cara de qualquer um o interesse dele. E como ela vai ficar linda com aquele vestido, cabelo arrumado, maquiada... escondendo a única coisa que ainda a impede de perceber o quanto é maravilhosa.
Um sentimento estranho bateu no peito. Uma raiva sem motivo. Ou talvez fosse...
— Ciúmes?! — murmurei pra mim mesmo.
Balancei a cabeça em negação.
Claro que não. Isso não pode acontecer.
Ou pode?
A imagem dela pipocou de novo na minha cabeça. E aquilo me deixou inquieto. Nervoso.
Então o celular vibrou mais uma vez:
"Não esquece, Jack. Sou boa em ler pessoas. Agora para de pensar no quanto eu ainda te deixo nervoso e sai daí."
Ela me disse exatamente isso quando nos conhecemos...
O que está acontecendo comigo?
Encostei a cabeça no banco de novo, fechei os olhos e murmurei:
— O que eu tô fazendo?

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