Evelyn
A frustração ainda ardia em mim, mas não era só isso. Um turbilhão de sentimentos me consumia. Em menos de 24 horas, minha vida virou de ponta-cabeça. Enterrei meu noivo, acordei nos braços de um estranho, minha casa foi invadida, atirei em alguém e fui trazida para cá contra minha vontade. Quando tudo o que eu queria era... viver meu luto.
Ainda encostada na porta, deslizei até o chão. Abracei meus joelhos e me permiti chorar. Sim... chorar! Todas as lágrimas por Brandon ainda não haviam sido derramadas. Será que Sterling não tinha coração? Não conseguia ver que eu estava sofrendo?
Não sei quanto tempo se passou, minutos, talvez uma hora, até que batidas suaves na porta chamaram minha atenção.
— Senhorita Parker.
Uma voz feminina me chamou. Levantei-me, sequei o rosto e abri a porta. Diante de mim, havia uma mulher que aparentava ter seus cinquenta anos, talvez um pouco mais. O coque impecável e as roupas elegantes contrastavam com o sorriso acolhedor que ela me lançou.
— Bom dia. Sou Amélia, a governanta do senhor Alexander.
Respondi com um aceno. Não tinha ânimo para mais do que isso.
— Sinto muito por Brandon. Conheço todos os meninos desde o colegial.
As últimas palavras dela chamaram minha atenção por completo.
— Colegial? Meninos?
Santo Deus! Minhas perguntas não fizeram o menor sentido nem para mim mesma. Mas Amélia apenas sorriu e segurou minhas mãos com delicadeza.
— Que tal um café... e um pouco de história?
Assenti e a segui para fora do quarto. Conforme caminhava pelo corredor, notei a decoração minimalista. A imponência de Alexander se refletia em cada móvel, disposto exatamente para cumprir sua função. Mas ele era o centro de tudo.
Quando chegamos à sala, o ar escapou dos meus pulmões. A visão era deslumbrante. As enormes janelas permitiam que a luz do dia preenchesse o ambiente. Claro que ele morava na cobertura. Me aproximei do vidro e contemplei a cidade inteira lá embaixo, completamente fascinada.
— Estamos bem no centro de Houston.
A voz de Amélia me trouxe de volta do transe em que aquela paisagem me colocou. Então, me lembrei de Brandon... Ele sempre dizia que, quando nos casássemos, moraríamos em Houston.
"Em uma grande cobertura."
Um sorriso brincou nos meus lábios ao lembrar dele, mas logo os olhos se encheram de lágrimas.
— Vamos?
Amélia chamou.
Virei-me para ela.
— Me desculpe. Sim, vamos.
A acompanhei até a sala de jantar, onde uma linda mesa estava preparada. Não era um simples café da manhã, e sim um verdadeiro banquete.
— Acomode-se.
Disse Amélia docemente.
Respondi com um simples aceno e me sentei. Ela começou a perguntar o que eu gostaria, mas enchia meu prato antes mesmo de eu responder. Seu carinho e atenção mexeram comigo, trazendo à tona lembranças da minha mãe.
— Como não sabia do que você gostava, Alex me fez preparar de tudo. Temos suco, leite, café e até smoothie.
Lancei-lhe um sorriso, mas ele não durou muito. Meus olhos marejaram e, antes que eu pudesse evitar, as lágrimas voltaram em enxurradas.
— Oh, querida... Falei algo que a magoou? Se disse, sinto muito, eu...
Interrompi-a segurando sua mão. Meu gesto a fez parar de falar e se sentar ao meu lado. Com uma das mãos ainda na minha, ela afastou delicadamente uma mecha de cabelo do meu rosto.
— Eu entendo. Se quiser pular o café, podemos apenas nos sentar na sala e ficar por ali.
Balancei a cabeça em negativa.
— A mesa está linda, e tudo parece delicioso. Não me alimento há dias... Um café da manhã me parece perfeito.
Sorri para ela, mesmo sem ânimo. Amélia estava sendo gentil comigo desde o momento em que nos conhecemos. Não seria justo ignorar todo o esforço que fez ao preparar aquilo para mim.
Ela deu leves tapinhas em minha mão e disse:
— Então coma.
Tudo estava delicioso. No primeiro momento, meu estômago quis recusar, mas insisti até estar satisfeita.
— Alex pediu para a estilista trazer algumas roupas. Ela deve chegar em alguns minutos.
Assenti, mas me lembrei de suas palavras quando me buscou no quarto: "Conheço todos os meninos desde o colegial."
— Amélia...
— Sim?
Ela respondeu enquanto retirava as coisas da mesa.
— Você disse que conhece os meninos desde o colegial. Que meninos?
Um sorriso saudoso surgiu em seus lábios, e ela se sentou ao meu lado novamente.
— Isso mesmo. Todos fizeram o colegial juntos: Alex, Brady, Tom, Jack e Ben.
Franzi o cenho. Brandon nunca mencionou nada disso. Nem mesmo Tom. Não que fosse algo relevante, afinal, foram apenas colegas de escola, e isso fazia muito tempo.
— Eles faziam tudo juntos, e o exército foi uma decisão em conjunto. Mas depois do que aconteceu...
Ela suspirou, e a tristeza em seu olhar foi evidente.
— Somente Tom permaneceu, e aquilo os separou.
Nada do que ela dizia fazia sentido. O que aconteceu? Esse era o motivo de Brandon ter sido dispensado? Havia tantas perguntas, tantas lacunas... E eu sentia que Amélia era a pessoa certa para me esclarecer tudo isso.
— Sei pouco sobre a vida de Brandon no exército. Isso era algo que o machucava. E, bem... Eu odiava vê-lo ferido, então nunca insisti em saber.
Amélia viu a sinceridade em minha voz. Brandon não queria falar, e eu não queria ouvir. Acho que foi isso que fez nosso relacionamento dar certo por tanto tempo. Mas, depois do que aconteceu ontem à noite, aquela mulher, os motoqueiros... Talvez tenha sido um erro não insistir.
Nossa conversa foi interrompida quando um homem de meia-idade, talvez da mesma que Amélia, entrou na sala.
— Querida, Emy chegou.
Ele se dirigiu a Amélia.
— Evie, esse é meu marido, Lucas. Ele é motorista de Alex.
Levantei-me e estendi a mão para ele.
— Prazer conhecê-lo, senhor Lucas.
Ele segurou minha mão com um aperto firme e, com um sorriso tão acolhedor quanto o da esposa, e respondeu:
— O prazer é meu, senhorita Parker. E pode me chamar de Lucas.
— Combinado, desde que eu seja apenas Evie.
Ele assentiu e seguiu para a porta, pronto para receber a estilista.
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