Alexander
Minha paciência sempre fora zero, mas hoje estava abaixo de qualquer nível aceitável. Todos ao meu redor sentiam isso, principalmente Benjamin e Jackson. Como eu imaginava, os intrusos de ontem destruíram a casa de Evelyn e, para piorar, deixaram um corpo para trás. A bagunça estava feita. Agora, todos a procuravam. A amiga dela chegou antes da minha equipe, o que atrapalhou meu plano de encontrar as pistas de que precisávamos. Mas eu sabia que estavam lá.
Brandon era um cretino, mas um cretino bom no que fazia. Eu sentia que ele havia deixado as pistas certas.
Lembrei da minha breve interação com Evelyn pela manhã, o modo como dormiu nos meus braços, sua ajuda com a gravata e, claro, sua petulância ao me enfrentar. Meus pensamentos foram interrompidos por Jackson e Benjamin entrando afobados no meu escritório. Virei-me na cadeira para encará-los.
— Temos um problema.
Jackson foi o primeiro a falar.
— Mais um?
— É a Evelyn.
Benjamin me entregou o tablet, mostrando imagens da minha casa. Evelyn apareceu no elevador e, pelas câmeras, vi que vinha direto para mim.
"Você não manda em mim, senhor Sterling."
Joguei o aparelho na mesa, sentindo a fúria tomar conta de mim. Dei uma única ordem àquela mulher. Apenas uma. E ela simplesmente ignorou.
— Que horas foi isso?
Perguntei a Benjamin.
— Há alguns minutos. Emily disse que tinha acabado de sair de lá. Evelyn não demonstrava nenhuma intenção de ir embora, pelo contrário, parecia bem dentro do possível.
Jackson, atento ao telefone, se voltou para mim.
— Falei com Amélia. Ela disse que Evie fez algumas perguntas... chegou a mencionar que iria embora hoje, mas não imaginou que sairia assim.
Levantei-me, pegando a chave do carro e o celular.
— Vou atrás dela. Continuem investigando a Snake e os motoqueiros. Coloquem uma equipe para procurá-la também.
Ambos assentiram, e Benjamin acrescentou:
— Emily está na redondeza. Disse que daria uma olhada por lá. Lucas também está à procura dela. Evelyn está sem dinheiro, documentos, celular... não irá muito longe.
Fiz um aceno com a cabeça e saí imediatamente. Eu estava irritado. Não, eu estava irado com ela. Não sabia por onde começar, mas Benjamin estava certo, sem recursos, a pé, ela não poderia ter ido longe.
Retornei para minha casa. Refazer seus passos talvez me trouxesse a clareza que eu precisava.
Meu ódio por Brandon só aumentava. Além de todos os problemas que já tinha me deixado, agora havia Evelyn, que no momento, era um problema ainda maior.
"Não sou problema seu!"
Lembrei-me das palavras dela mais cedo.
— Imagina se fosse...
Murmurei.
Chegando em casa, encontrei Emily, Lucas e Amélia. Todos se viraram para mim ao mesmo tempo, mas foi Amélia quem falou primeiro:
— Ela está de luto, senhor. Dê tempo a ela.
Ignorei e segui para o meu quarto.
Luto... Por aquele idiota? Ela devia era agradecer.
Assim que passei pela porta, a lembrança da madrugada me atingiu. Evelyn me pedindo para ficar ao seu lado, para logo depois acordar como um furacão, pronta para me destruir.
Fui até o banheiro e percebi que ela o tinha usado. Seu pijama estava dobrado sobre um dos meus travesseiros. Segui até o closet e, assim que entrei, meus olhos encontraram algo que não mexia havia tempos. No primeiro passo em direção à caixa caída, pisei em algo.
Uma foto.
Droga! Preciso encontrá-la.
Não sabia se estava agindo por impulso ou por uma necessidade desesperada de controlar a situação, mas uma coisa era certa: ela estava mexendo comigo mais do que queria admitir.
Saí do quarto feito um tufão. Quando apertei o botão do elevador, a voz de Emily chamou minha atenção:
— Alex, o dono da cafeteria aqui ao lado disse que acolheu uma moça... descalça, chorando muito...
Ela me olhou nos olhos e suspirou antes de concluir:
— Acho que é a Evelyn. Melhor que vá eu ou a Amélia.
Lancei-lhe um olhar duro, e Emily deu um passo para trás. Meus olhares, muitas vezes, falavam mais do que palavras.
A porta do elevador se abriu e entrei sem dizer nada. Assim que cheguei ao térreo, caminhei até a cafeteria. O dono era um conhecido e cliente. Assim que passei pela porta, ele veio direto a mim.
— Sterling.
Me cumprimentou.
— Onde ela está?
Meu tom era firme e claro. Como sempre, autoritário.
— Em meu escritório. Um dos funcionários a encontrou nos fundos, sentada no chão e chorando muito. Quando a vi, lembrei-me de Emily perguntando sobre uma moça.
Ele me mostrou as imagens das câmeras, e um único pensamento veio à minha mente: Te achei!
Em seguida, fez sinal para que eu o seguisse. Assim que abriu a porta, lá estava ela.
Deitada em um pequeno sofá, em posição fetal.
Por algum motivo que não soube explicar, vê-la daquela maneira... mexeu comigo.
— Vou deixá-los a sós. Leve o tempo que precisar.
Agradeci ao homem. Assim que a porta se fechou, permaneci parado.
Não ousei me mexer.
Nem me aproximar.
— O que acha que está fazendo?
Havia confusão em sua voz. Queria sorrir para seu jeito, mas me mantive neutro.
— Está descalça. Pretendo carregá-la até a cobertura.
— Isso é ridículo. — Ela rebateu.
A ignorei e caminhei até a porta.
— Me coloque no chão, Alexander.
Ela me fuzilava com os olhos, que estavam vermelhos e inchados de chorar, mas ainda tinha disposição para discutir.
— Isso não irá acontecer, Evelyn.
Disse, seguindo o caminho para fora da cafeteria. Quando chegamos ao salão, o lugar estava lotado. Senti ela enrijecer em meu colo. Um tom rosado tingiu suas bochechas e seu pescoço. Algumas pessoas me reconheceram, principalmente as mulheres.
— Aquele é Alexander Sterling?
— Quem ele está carregando?
— Soube que ele nunca assumiu ninguém, quem será a sortuda?
Por instinto, recostei sua cabeça em meu ombro. Instintivamente, ela abraçou meu pescoço e colou seu rosto na curva do meu pescoço. Senti um arrepio descer pela minha espinha até as pontas do meu pé. Já tinha a carregado antes, mas dessa vez foi diferente, seu toque, de alguma maneira, fez algo comigo.
Saímos da cafeteria sem dizer uma palavra, sem dar atenção às fuxiqueiras. Dei somente alguns passos e já estava em meu prédio. Quando a porta do elevador se abriu, Emily e Amélia vieram ao nosso encontro.
— Graças a Deus. Precisam de alguma coisa?
Disse Amélia.
— De ficarmos sozinhos.
Amélia e Emily se entreolharam, mas não discutiram, apenas assentiram. Evelyn se manteve do mesmo jeito, sabia que estava acordada e atenta a tudo, mas, pelo visto, não queria conversar com ninguém.
Entramos em meu quarto e a deitei na minha cama. Ela se virou de costas para mim, puxou meu travesseiro e o abraçou.
— Posso ficar sozinha?
Eu queria dizer não, queria protestar e lembrá-la de que estava em meu quarto. Mas fui eu quem a trouxe para cá, poderia tê-la levado a um dos quartos de hóspedes, mas a trouxe mais uma vez para minha cama. Sem dizer uma palavra, segui para a porta. Assim que minhas mãos tocaram a maçaneta, ela me chamou.
— Alexander.
Olhei para trás. Ela havia se sentado na cama.
— Obrigado.
Não consegui responder. Pelo que ela estava agradecendo? E por que não consegui dizer nada? Dei um leve aceno, senti meu coração dar uma leve acelerada, abri a porta e saí. Assim que fechei a porta atrás de mim, passei a mão pelo cabelo.
— Que porra é essa, Alexander?
Perguntei para mim mesmo, e pela primeira vez, eu não tinha uma resposta. Não tinha ideia do que estava acontecendo comigo, ou talvez tivesse... Era ela. Evelyn era o que estava acontecendo.

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