Evelyn
As dúvidas de Alexander mexeram comigo, mas, ao mesmo tempo, me libertaram. Doeu, mas foi bom ver, no fim, como ele me via. Como se sentia.
Confessei coisas que jamais disse a ninguém, meus últimos momentos com Brandon e a culpa que vinha carregando nos últimos meses.
Quando ele disse:
— Só preciso que me perdoe, Evie. E que confie em mim.
Não consegui responder.
Mas não foi por não saber o que dizer. Foi por medo.
Meu coração já o havia perdoado. E confiava nele.
Mas minha mente… ah, essa me prendeu no lugar.
Me impediu de dizer o que ele queria ouvir, e o que eu ainda não tinha certeza se queria dizer.
— Evie… — ele sussurrou, depois que fiquei parada, o encarando em silêncio. — Preciso saber se me perdoa. E se confia em mim.
— Sim. — respondi no automático. — Meu coração te perdoou no instante em que se desculpou.
Abaixei a cabeça. Não queria olhar naqueles olhos que viam a minha alma.
— Mas? — perguntou ele.
Alexander deu um passo à frente, como se fosse tocar minha mão, mas parou no meio do caminho. Seus dedos tremiam. E isso partiu algo dentro de mim.
Soltei um suspiro cansado. Eu o amava. Sabia que esse amor era real.
Mas será que estou disposta a passar por tudo isso novamente?
Será que meu amor é o suficiente?
Será que o dele é?
— Não sei se estou disposta a passar por tudo de novo. — Dessa vez, fui até ele e segurei suas mãos. — Não estou te comparando ao Brandon, mas, ao mesmo tempo…
Mordi os lábios. Ainda não sabia exatamente o que podia dizer. O que Alexander estava pronto, ou preparado para ouvir.
— Me diz, Alex… o que exatamente te fez duvidar de mim?
— Eu já disse. — Sua resposta foi firme.
— Você disse muita coisa, mas não isso. Falou de medo, de insegurança… — pausei por um instante. — Ciúmes. Mas isso são coisas suas, não minhas. O que te levou a pensar que eu mentiria? Que esconderia algo assim?
Ele passou a mão no cabelo, tentando se acalmar, organizar os pensamentos. Era um gesto comum nele. Se virou, dando-me as costas. Eu podia confrontá-lo por isso, podia reclamar, mas sabia que era sua maneira de lidar com a situação.
— Minha mãe foi violentada na adolescência. Ela abriu mão de tudo pra me trazer à vida. Quando eu tinha três anos, conheceu meu padrasto. O pai das minhas irmãs.
Senti sua voz vacilar. Alex nunca havia me falado sobre o passado.
— Ele não era bom pra mim. E muito menos pra minha mãe. Mas ela se manteve ao lado dele. Um dia, voltando da casa dos Anderson com o Jack, ouvimos gritos. Rachel gritava por socorro. E a pequena Sophia chorava.
Ele abria e fechava a mão ao lado do corpo, como se aquele movimento o ancorasse de alguma forma.
— Quando entramos, minha mãe estava desmaiada, com a cabeça sangrando. A pequena Sophia estava deitada em cima dela, chorando desesperadamente. Jack correu, a pegou no colo e saiu dali.
Agora ele se virou para me olhar.
— Meu padrasto tinha batido na minha mãe. E estava abusando da minha irmã de dez anos. Da minha Rachel. A própria filha.
Levei a mão à boca. Meu coração parou por um segundo. Eu não havia sofrido nada diante de tudo o que Alex tinha passado.
Tentei me aproximar, mas ele se esquivou.
— E isso me irrita. Não porque eu não quero te amar.
Fez uma pausa.
— Mas porque eu não quero sofrer.
Eu não consegui responder. Nem precisava.
Minhas mãos foram até o rosto dele, e, mesmo que ele tenha hesitado, não recuou.
Passei os dedos pela sua mandíbula, pela barba sempre bem feita, como quem diz “eu te vejo”. E, pela primeira vez, acho que ele acreditou nisso.
Ajoelhei na sua frente, me posicionando entre suas pernas.
— Você não está mais sozinho, Alex. — sussurrei.
Me aproximei devagar, e, quando o abracei, ele desabou.
Sem som. Sem gritos. Sem lágrimas exageradas.
Só um homem cansado, finalmente permitindo que alguém o segurasse quando o mundo todo caía.
Desde que nos conhecemos, ele sempre foi meu abrigo.
Agora era minha vez de ser o dele.
E eu fiquei ali. Em silêncio. Apenas o segurando nos braços.
Como se dissesse, com cada batida do meu coração:
Vai ficar tudo bem.
Vai ficar tudo bem.

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