Evelyn
Passei a noite inteira chorando depois que Alexander me trouxe de volta. Quando amanheceu, uma parte de mim insistia que nada daquilo era real. Brandon ainda estava vivo... não estava? Depois de descobrir que ele não era quem eu pensava, que me escondeu segredos que nem sequer tive tempo de desvendar, essa ideia já não parecia tão absurda.
Mas Alexander me convenceu de que era só minha mente criando uma realidade paralela para amortecer a dor. E, depois de alguns dias, fui obrigada a aceitar: Brandon estava morto. Ele não voltaria. Nunca.
As coisas em Boerne tinham se acalmado. Eu ainda não voltara, mas sabia que o pessoal do Sterling tinha resolvido tudo. Falei com os Anderson e com Abby. Sentia falta deles. Meu carrasco prometeu me deixar visitá-los em breve. Sim… carrasco. Era assim que eu chamava Alexander Sterling agora.
Estava deitada na cama, encarando o teto e perdida em meus pensamentos quando batidas na porta me tiraram dos devaneios. A porta se abriu, e um rosto familiar e cativante apareceu.
— Posso entrar?
Emily perguntou com um sorriso.
Assenti, e em segundos ela já estava ao meu lado.
— Vim te fazer um convite.
Olhei para ela com desconfiança. Emily era terrível, mas, nas últimas duas semanas, ela e Amélia tinham sido minhas melhores companhias. Havia também os meninos e, claro, Alexander, com quem eu dividia a cama todas as noites. Mas elas… elas me lembravam casa.
— Bem, você me disse que parou de trabalhar por causa do Brandon, mas que gostava do que fazia, não é?
A menção ao nome dele mexeu comigo. Ultimamente, a raiva por ter sido abandonada por ele tem me tirado o sono. Alexander disse que essa é a segunda fase do luto e que era normal passar por isso.
Tentei ignorar esse sentimento por um momento e acompanhar o raciocínio de Emily.
— Tenho um amigo que está precisando de alguém como você. Talvez trabalhar te faça bem. Não pela grana, porque Alex te dá tudo.
Revirei os olhos. Emily e seu zero filtro.
— Mas sim pela distração. Faz duas semanas que você não sai desse quarto.
Ela pegou minha mão, seu tom ficando mais sério por um instante, antes de abrir um sorriso travesso.
— Tenho medo de que você se torne chata como Alex. Isso seria uma lástima.
Ela dramatizou a última parte de forma teatral, e nós duas caímos na gargalhada.
— Deus me livre!
Brinquei, rindo.
— É sério, Evie. Logo as investigações vão acabar, e tudo voltará ao normal. Você é nova demais para deixar a vida passar assim. Sei que ultimamente não quer falar sobre Brandon...
Virei o rosto por um instante.
— Mas ele se foi! Sei que dói, porque só a ideia de não ter Benjamin já me deixa desesperada. E olha que ele me irrita.
Soltei um riso sem humor.
— Viver sem ele seria difícil. Mas de uma coisa eu tenho certeza: ele jamais iria querer me ver desistir. E essa mesma certeza eu tenho sobre Brandon em relação a você.
Senti as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Duas semanas. Faz exatamente duas semanas que disse adeus. Mas as lágrimas vinham como se tivesse sido hoje.
— Não trabalho há tanto tempo... Nem sei mais como é.
Fui sincera. Já tinha me acostumado com a ideia de ser apenas esposa e, quem sabe, um dia, mãe.
— David é um querido. Falei sobre você, e ele ficou empolgado para te conhecer.
Disse ela, animada.
— Ele tem uma galeria não muito longe daqui. Sei que sua formação é em administração, mas vi seus esboços, e eles são incríveis! Você diz que é só um hobby, mas é muito boa no que faz.
Os olhos dela brilhavam. Realmente, meus últimos desenhos eram de tirar o fôlego. No fundo, acho que a dor foi meu combustível. Nunca fui tão criativa como tenho sido ultimamente.
Meu pai sempre dizia que arte não pagava contas, então fiz administração. Sou uma excelente administradora. Mas desenhar... Isso, sim, é minha verdadeira paixão.
— Tudo bem, vamos lá conversar com seu amigo.
— Aaah!
Ela deu um gritinho, se jogando em mim.
— Tenho um modelito perfeito para irmos!
Ela correu para fora do quarto e, quando voltou, trazia um vestido lilás e sapatos de salto combinando. Saí da cama e fui até o banheiro. Assim que saí, já vestida e com todos os acessórios, Emily começou a piscar repetidamente. Por um instante, achei que estivesse tendo um AVC.
— Qual o problema?
Me aproximei dela.
— Onde esse mulherão estava escondido?!
Revirei os olhos, e ela me lançou uma piscadela antes de enlaçar o braço no meu e começar a me puxar para fora do quarto.
— O Alex vai me trucidar… Mas vai valer cada segundo.
Ela riu, e aquilo me deixou confusa. Como assim? O que Alexander tinha a ver com isso?
Quando chegamos à sala, Amélia nos aguardava junto a Lucas.
— Lucas vai acompanhá-las.
Ela sorriu.
Olhei para Emily, que pelo visto, já tinha tudo planejado. E, claro, envolveu Lucas para que Alexander não surtasse por eu sair de casa.
A viagem de carro não durou mais que dez minutos; realmente, o lugar era perto. Descemos e pedimos para que Lucas aguardasse. Segundo Emily, o emprego já era meu. Estávamos indo apenas para acertar os detalhes.
Assim que entramos, percebi que o ambiente era aconchegante, com obras espalhadas do chão ao teto. Um homem loiro, de olhos azuis e sorriso cativante, se aproximou de nós.
— Emy!
Disse ele, abraçando-a antes de se voltar para mim.
— E essa mulher deslumbrante deve ser Evie.
Ele estendeu a mão, e eu a aceitei de bom grado.
A conversa com David foi mais do que agradável; foi leve e divertida. Ele não era apenas um homem bonito, mas também simpático, educado, engraçado... todos os adjetivos possíveis para um elogio. Ele era ele!
Ela falou algo para Lucas, que não consegui entender. Entramos no carro e seguimos para o misterioso destino onde, supostamente, eu “ia gostar”.
Quando paramos em frente ao grande prédio, não precisei de muito esforço para entender onde estávamos.
— Emy… O que estamos fazendo aqui?
— Já está na hora de você conhecer a empresa, Evie.
Ela disse, abrindo a porta e me puxando para fora do carro. Assim que passamos pela entrada, um dos seguranças veio ao nosso encontro.
— Emy, não sabia que viria hoje.
O homem lançou um olhar para mim e, em seguida, perguntou:
— E essa deve ser Evelyn?
Assenti com um leve aceno.
— Cal, não nos anuncie. Viemos fazer uma surpresa.
Ela piscou para ele e continuou me puxando.
— Emy, Emy… O Alex não gosta de surpresas.
O homem balançou a cabeça em advertência, mas Emily o ignorou completamente.
— Dessa ele vai gostar.
Ela disse, seguindo determinada até os elevadores.
Foi então que tirou um crachá da bolsa. Reparei que já tinha visto um desses com Brandon. Bem, ele trabalhava com os meninos de vez em quando, então devia ter um.
Subimos, e comecei a sentir meu coração acelerar. Eu via Alexander todos os dias, mas não assim. Dormíamos na mesma cama, às vezes eu acordava nos braços dele, mas nunca conversávamos de verdade. Ainda éramos dois estranhos dividindo o mesmo teto. Alexander era uma incógnita para mim.
Descemos no último andar. O espaço estava praticamente vazio, com exceção de uma porta enorme e paredes que se estendiam de um lado ao outro. Após a porta, havia uma recepção, mas estava deserta. Ao lado, outra porta chamava atenção.
— Espere aqui um minuto.
Disse ela, seguindo de volta para a porta por onde havíamos entrado.
— Emily, aonde você vai?
— Procurar o Benjamin. Me espere aqui.
E, sem dar mais explicações, simplesmente sumiu.
No instante em que a porta de entrada se fechou atrás dela, a outra porta, atrás de mim, se abriu.
Quando me virei, meu coração disparou. Era Alexander. E, pelo olhar nada amigável em seu rosto, ele não parecia nem um pouco feliz em me ver ali.
A primeira coisa que me veio à cabeça escapou de meus lábios antes que eu pudesse pensar melhor:
— Boa tarde, senhor Sterling.

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