Evelyn
O silêncio ainda pairava sobre nós, mesmo depois de tudo.
Mas havia algo no olhar do Alex…
Algo que dizia que o pior ainda estava por vir.
Ele não me olhou quando retomou.
Sua voz saiu mais baixa.
Mais contida.
Como se cada palavra fosse uma faca voltando a cortar por dentro.
— Foi no aniversário de dezoito anos dela.
A Rachel estava... estranha.
Ele passou a mão no queixo, o olhar perdido em algum ponto da parede da garagem.
Mas eu sabia que ele não estava ali.
Estava revivendo.
— Eu preparei tudo.
Deixei a casa cheia de flores, fiz o bolo que ela mais gostava…
Jackson foi comigo buscar o presente que ela tanto queria.
Mas ela… não desceu.
Não apareceu.
Não respondeu.
Meu corpo enrijeceu.
Eu já conhecia esse tipo de ausência.
A que vem antes do fim.
— Fui até o quarto.
A porta estava entreaberta.
E o Brandon estava lá dentro.
Eles discutiam.
Não gritavam, não batiam porta.
Era aquela briga sussurrada... mas carregada de raiva.
Brandon falava baixo, com aquela frieza que corta.
E a Rachel…
Ele parou por um segundo. Respirou fundo.
— Ela implorava.
Pedia pra ele ficar.
Prometia que ia mudar.
Fechei os olhos, sentindo a dor subir pelo estômago.
— Eu perdi o controle.
Entrei no quarto, empurrei a porta com força.
Jackson veio atrás de mim.
“Chega, Brandon!” — gritei.
“Olha o que você tá fazendo com ela!”
E aí… — ele engoliu em seco — ...ele soltou.
Alexander não precisou nem completar.
Eu soube que era ali.
Ali que tudo mudou.
— Ele disse... que ela era um fardo.
Disse que era pegajosa, doente.
Que ela se arrastava por migalhas de amor…
E que nem isso sabia receber direito.
Eu levei a mão à boca, o impacto das palavras me atingindo como se eu fosse a própria Rachel naquele quarto.
— Ela não gritou.
Não chorou.
Ela só se levantou… e foi até a penteadeira.
Eu sabia o que vinha.
Mas meu coração, não.
— Ela pegou a arma dele.
A que ele sempre deixava ali, como se ela fosse invisível demais pra tocá-la.
— “Parem”, foi tudo o que ela disse.
Quando nos viramos... ela estava com o cano da arma encostado na cabeça.
Meu corpo inteiro congelou ao ouvi-lo.
— Brandon surtou.
Pediu perdão, chorava, implorava…
E ela só dizia que o amava.
Mas que sentia muito por não ser perfeita pra ele.
As lágrimas escorriam pelo rosto dele, e eu podia jurar que sentia as minhas também.
— Eu pedi pra ela parar.
Pedi pra ela me olhar.
Ela olhou.
— “Eu te amo mais do que a mim mesma, Alex.
Mas tá doendo demais.”
— “Tô indo... encontrar a mamãe… e a Sophia.”
Alexander abaixou a cabeça.
— Eu dei um passo.
Mas já era tarde.
Ela puxou o gatilho.
Por um momento parei de respirar.
E Alex... chorava.
Meu coração…
Já não doía.
Ele sangrava.
Ouvir tudo aquilo.
Sentir cada imagem atravessando meu peito.
Ver o Alexander…
Esse homem tão forte, tão implacável, despido da armadura.
A gente esperava… alguma mudança.
Respirei fundo.
Mas já sabia a resposta.
— Mas ele nunca mudou, né? — murmurei.
Alexander olhou pra mim.
E com a dor de quem conhece o fundo do inferno, respondeu:
— Não, Evelyn.
Ele sempre foi maldito.
Meu coração ainda batia acelerado.
Mas era diferente agora.
Não era medo.
Não era dor.
Era… reconhecimento.
Alexander me entregou tudo.
O que escondeu do mundo.
O que nem ele sabia mais carregar.
E eu ouvi.
Absorvi.
Me quebrei junto.
E mesmo assim…
Eu estava aqui.
Apoiada contra o peito dele.
Sentindo o calor da respiração dele na minha pele.
De olhos fechados, mas vendo tudo mais claro do que nunca.
Por muito tempo, achei que amar era se perder em alguém.
Hoje, entendi que…
amar é permanecer.
Mesmo quando tudo que o outro tem é escuridão.
— Alex… — sussurrei, com a voz embargada.
— Eu te amo.
Não um amor de conto de fadas.
Não um amor cheio de promessas que o tempo engole.
Mas um amor que entende.
Que aceita.
Que fica.
— Obrigada por me deixar entrar.
Por me mostrar onde dói.
Ele não respondeu.
Mas me envolveu com os braços como se eu fosse tudo que ele ainda tinha.
E talvez… naquele instante…
eu fosse mesmo.

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