Jordan
O carro seguia em silêncio.
Do tipo que grita.
Do tipo que pesa.
Jackson mantinha uma das mãos no volante e a outra…
A outra segurava a minha.
A dele era firme. Quente.
Mas eu estava fria.
Por dentro e por fora.
A estrada passava rápido, mas minha mente...
Parecia parada.
Tentei contar quantas vezes fechei os olhos desde que saímos do ambulatorio.
Mas, a cada vez que piscava…
A arma voltava.
Aquela mulher.
A mira.
O medo.
Tentei lembrar da Evelyn.
Da expressão dela ao me encontrar viva.
Mas tudo estava embaralhado.
A dor física já não me incomodava tanto.
Era a outra dor…
A que não sangra,
Mas rompe tudo por dentro.
— Tá com frio? — a voz dele quebrou meus pensamentos.
Neguei com a cabeça, mas não soltei sua mão.
Jackson.
Meu Jack.
Tão silencioso hoje.
Ele sempre dizia alguma bobagem no carro.
Sempre fazia piada com placas idiotas ou dava apelidos pras árvores.
Hoje, ele só dirigia.
Me olhou de canto.
Achei que fosse dizer algo.
Mas não disse.
Porque ele sabe.
Sabe que tem algo que eu não sei.
Sabe que tem algo grande demais…
E que tá vindo em minha direção.
Chegamos em Houston.
Jackson disse que precisava passar em casa pra pegar algumas coisas.
No meio do caminho, quebrou o silêncio apenas para informar que estava se mudando para a cobertura por um tempo.
Questionei o motivo.
Ele só respondeu:
— Você.
Essa resposta me causou arrepios…
Mas não deixei ele perceber.
Liguei para o Alex, mas ele não atendeu.
Jackson tentou também. Sem sucesso.
Ele parou o carro no subsolo do prédio dele.
Soltou o cinto, virou de lado e ficou me encarando por alguns segundos.
— Qual o problema? — perguntei.
Não gostava quando as pessoas me olhavam assim.
Porque quase sempre… era por causa da marca que Brandon deixou no meu rosto.
— Não posso admirar minha namorada?
Senti meu rosto esquentar.
Nunca recebi atenção daquela forma.
— As pessoas nunca me olham por admiração.
Olham por pena, curiosidade... ou repulsa.
— murmurei, abaixando a cabeça.
— O motivo pelo qual elas olham… não me importa. — Ele levou a mão até meu queixo.
— Eu sei porque eu olho.
— Por quê? — Minha voz saiu num sussurro, enquanto meus olhos se perdiam nos azuis dos dele.
— Porque você é a mulher mais linda que eu já vi.
— Jack… — Tentei interrompê-lo, mas ele não deixou.
— Porque me perco nesses olhos que nunca sei se são de um castanho tão escuro ou negros.
Só sei que me lembram duas pedras ônix.
Ele levou a mão até a lateral do meu rosto, colocando meu cabelo atrás da orelha.
— No seu cabelo liso, castanho-escuro, que exala um perfume que parece só seu…
A mão dele desceu até meu pescoço, e ele o envolveu.
Não com força.
Mas firme.
— Me perco nessa pele dourada, nesse rosto de traços definidos, maçã do rosto saliente…
E nesses lábios cheios, delineados… convidativos.
E então, depois dessas palavras que me deixaram sem ar…
Ele me puxou pra ele.
E os lábios dele encontraram os meus.
No instante em que sua boca tocou a minha,
o mundo silenciou.
Não havia som.
Não havia medo.
Não havia passado.
Só o calor.
O arrepio na espinha.
E o descompasso insano do meu coração.
O beijo não foi apressado.
Foi firme. Intenso.
E, ao mesmo tempo, delicado…
Como se ele soubesse exatamente o que estava fazendo comigo — e estivesse decidido a fazer de propósito.
Seus lábios eram quentes, seguros, e se encaixavam nos meus como se sempre tivessem pertencido ali.
Meu corpo reagiu antes que eu pudesse pensar.
As mãos agarraram a camisa dele…
Como se meu instinto soubesse que, se eu soltasse… desmoronaria.
Senti meu ventre vibrar com uma onda que começou suave…
Mas crescia a cada segundo que aquele beijo se aprofundava.
A língua dele roçou a minha,
e foi como se o tempo explodisse dentro de mim.
Era desejo.
Era ternura.
Era caos.
Um caos que eu nunca soube que queria…
Mas que agora…
já não sabia como viver sem.
Quando ele se afastou, apenas o suficiente para me olhar…
Eu ainda estava tentando lembrar como se respirava.
Ele encostou a testa na minha e disse:
— Por isso, marrenta, se acostume. Porque se antes eu te admirava escondido... agora vou fazer questão de mostrar.
Me deu um beijo rápido e soltou meu cinto para descermos do carro.
Eu nunca tinha passado da portaria.
Já tinha vindo aqui com o Ben algumas vezes, mas nunca fomos até o apartamento.
Estávamos na garagem aguardando o elevador, quando a porta se abriu...
E uma loira linda saiu de lá.
— Jack, como vai? — ela se aproximou, o abraçando e dando um beijo em seu rosto.
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