Jackson
Alexander e eu nos conhecemos tão bem que, às vezes, não precisamos de palavras.
Quando ele pediu para abraçar a Jordan depois do susto que passamos e olhou bem dentro dos meus olhos…
Eu soube.
Jordan era a Sophia.
Por um momento, eu não soube como lidar com essa informação.
Seguimos nosso caminho, retornamos a Houston e eu preferi me ausentar.
Me manter calado parecia melhor do que dizer algo desnecessário naquele momento.
Estava feliz que minha pequena Sophia estava viva.
Mesmo sabendo de todo sofrimento que ela passou, era bom tê-la de volta.
Mas, ao mesmo tempo… eu estava namorando ela.
Não sei se isso intensifica meus sentimentos ou me deixa ainda mais confuso.
E o que ela vai pensar quando descobrir?
Vai desistir de mim?
Vai achar que sou culpado, que menti, que escondi dela a verdade?
Quando chegamos no meu prédio, eu não resisti a ela.
Sendo Sophia ou Jordan, ela ainda era a mulher por quem eu estava perdidamente apaixonado.
E eu não estou disposto a abrir mão dela.
A caminho do meu apartamento, encontramos minha vizinha Cassie, e a minha marrenta — com toda sua marra, claro — deixou bem claro seu ciúmes.
E eu?
Eu adorei.
Porque isso só mostra que ela gosta de mim tanto quanto eu gosto dela.
Seguimos para o meu quarto.
A deixei ali, olhando tudo ao redor.
Assim como o irmão, ela era observadora.
Gostava de se situar no ambiente.
Mas foi quando voltei ao quarto e a vi diante do meu mural, com uma foto nas mãos…
que meu mundo caiu.
Olhei para o painel e notei exatamente qual foto ela havia pegado.
A mesma que eu costumava olhar em dias difíceis.
Seu aniversário de 7 anos. O último que comemoramos juntos.
Eu tinha feito um balanço pra ela.
Sophia simplesmente o adorava.
— Jordan? — chamei suavemente.
Ela se virou para mim, encontrou meus olhos…
E depois voltou a encarar a foto nas mãos.
A forma como ela me olhou.
O jeito que segurava a foto.
O tremor no corpo.
A respiração falha.
Tudo nela dizia o que as palavras ainda não tinham coragem de dizer.
— Jordan? — chamei de novo, me aproximando com cautela.
Ela não respondeu.
A foto tremia entre seus dedos.
O olhar preso na imagem…
Como se visse a si mesma ali.
Ela não olhava pra mim.
Era como se não estivesse me vendo.
O rosto dela estava branco.
Pálido demais.
E o suor começava a escorrer pelas têmporas.
Ela começou a piscar repetidamente…
Como se houvesse algo de errado com a visão.
Ou talvez só quisesse algo que a ancorasse no presente.
— É você… — sussurrou, com os olhos perdidos no passado.
— Você… me chamou de Sophia…
Meu coração parou por um segundo.
E então disparou…
Como se tentasse compensar todos os anos que ela perdeu.
— Jordan… — toquei seu rosto, tentando trazê-la de volta.
Mas ela estava longe.
Presente, mas em pedaços.
— Me chamavam de Sophia — murmurava, como se narrasse uma lembrança antiga.
— Eu lembro do balanço… da torta de maçã… de você…
Ela levou a mão à cabeça.
A expressão se contorcendo de dor.
— Tá doendo, Jack… tá doendo muito…
Ela cambaleou.
E, no segundo seguinte…
desmaiou nos meus braços.
— Jordan! — gritei, segurando-a com força. — Amor! Fica comigo! Ei!
Deitei-a no chão com cuidado, batendo de leve em seu rosto.
Ela estava consciente… mas longe.
Tão longe…
Não pensei duas vezes.
A peguei no colo e corri com ela até a porta.
Quando saí do meu apartamento, Cassie saía do elevador.
— Jackson, o que houve? — se aproximou, preocupada.
— Por favor, Cassie, me ajuda. Ela desmaiou, não responde, tá suando, gelada… eu não sei o que fazer. — o desespero escancarado na minha voz.
— Querido, se acalma. Vou te ajudar a colocá-la no carro e você a leva ao hospital, tá bom?
Apenas assenti.
Descemos pelo elevador.
Cada segundo parecia uma eternidade.
Ela estava no meu colo, largada.
Os olhos fechados.
A respiração… quase imperceptível.
Eu a beijava na intenção de que aquilo a trouxesse de volta.
Notei que Cassie me olhava de canto.
Ela me conhecia há anos.
Sabia que eu nunca levava mulheres pra casa.
Sabia que eu não era de demonstrar afeto.
Não desse jeito.
Nunca desse jeito.
Assim que chegamos ao carro, coloquei Jordan no banco de trás.
— Jack, acho melhor eu dirigir.
— Agradeço, Cassie, mas eu posso fazer isso.
— Tem certeza?
Apenas assenti, entrei no carro e saí da garagem feito um louco.
— Eu tô aqui, marrenta.
Por favor, só acorda, amor…
Minha voz já embargada.
Peguei o celular, conectei ao carro.
— Fisicamente, ela está bem. — disse, após examiná-la. — O que pode ter ocorrido foi um colapso neurológico, de origem emocional.
— E o que seria isso? — Alex perguntou.
— Pelo que me contaram, ela não tinha memória da infância, certo? A imagem pode ter desencadeado uma lembrança intensa demais.
Não posso afirmar com certeza se o inconsciente dela bloqueou isso como forma de proteção — o que seria compreensível, dado o histórico — ou se…
Ele parou.
E eu soube que o que vinha a seguir... não seria fácil.
— ...ou se houve também um trauma físico. — completou, olhando para o Alex. — Um acidente, uma pancada forte na cabeça. Isso explicaria a perda de memória tão localizada e profunda.
— Ele bateu na cabeça dela pra conseguir levá-la. — a voz de Evelyn nos atravessou, firme e amarga.
— Não posso garantir. — Augusto respondeu. — Mas é extremamente plausível. Uma pancada, acidental ou intencional, seguida de estresse extremo... pode ter feito a memória se apagar. E o retorno dessa lembrança, agora, exigiu demais do corpo.
Alexander continuou a conversar com o médico.
Mas eu...
Eu só conseguia olhar pra ela.
Me sentei ao seu lado.
Segurei sua mão na minha.
Dei um beijo nela.
E deixei a testa cair sobre os nossos dedos entrelaçados.
— Me perdoa, marrenta…
Eu não queria que descobrisse assim.
Eu queria te preparar.
Queria contar com calma.
Suspirei, levando a outra mão ao seu rosto.
Acariciei com a ponta dos dedos.
— Por favor, amor… acorda.
Diz que me perdoa.
Eu mantinha os olhos fixos nela, esperando qualquer sinal.
E então…
os olhos dela se abriram.
As duas ônix cravadas em mim.
— Você acordou, marretinha… — sussurrei, com alívio rasgando minha voz.
— Você não sabe o susto que me deu…
Inclinei o rosto para tocar os lábios dela com os meus…
Mas ela virou o rosto.
Meu coração parou.
Por um instante…
Eu esqueci como se respirava.
Ela estava me rejeitando.
E o que eu mais temia...
aconteceu.
Ela me culpa.
Acha que eu menti.
Que escondi a verdade.
E mesmo sem dizer uma palavra...
ela acabou comigo.
O mundo desabou sobre meus ombros.
Eu já perdi a pequena Sophia uma vez.
E aquilo me destruiu.
Mas perder a Jordan…
A minha Jordan. A minha marrenta.
Eu não sei o que faço…
se ela não me perdoar.

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