Okan
Os dias passaram arrastados, cada um mais difícil que o outro. Joguei-me no trabalho como um náufrago se agarra a uma tábua, tentando silenciar a dor que grita dentro de mim. Em casa, mantenho um autocontrole meticuloso. Não quero que ninguém saiba o quão profundamente Emily me atingiu com seu desprezo. Não vejo o que aconteceu como um ponto final, mas como uma vírgula. Ela precisa de tempo. É isso, tempo para refletir e, talvez, punir-me pelos erros que cometi.
Conversei com meu pai sobre trabalho e trivialidades, evitando mencionar Emily. Ele também parece evitar o assunto, como se ignorá-lo pudesse apagar meus sentimentos. No fundo, sei que ele ainda espera que eu desista dela, que volte à promessa feita: encontrar uma mulher adequada, que se alinhe às expectativas da nossa cultura.
Já Kayra, minha irmã, virou a cara para mim. Sempre que nos cruzamos, ela se apressa a sair do ambiente, como se minha presença a incomodasse. Imagino que esteja fazendo o mesmo com Emily.
Hoje, sexta-feira, decidi vir para casa mais cedo. A dor de cabeça latejante é insuportável, mas é apenas uma sombra da dor maior que carrego no peito. Estou no meu quarto agora, andando de um lado para o outro como um leão enjaulado.
Emily.
Ela ocupa cada pensamento meu. Vejo-a tocando piano, cantando suavemente. Relembro nossas conversas, as risadas, e até mesmo os momentos breves, mas intensos, que compartilhamos. Essas lembranças me aquecem e me atormentam na mesma medida. Mas o que mais me persegue é aquele olhar de desprezo que ela me lançou no escritório. Allah! É essa memória que está me levando à loucura.
Os dias são um borrão. Funciono como um robô, cumprindo obrigações no automático. Não tenho comido direito, mal consigo dormir, e a saudade dela me corrói. Noites atrás, quase fui até ela — à universidade, ao banco, onde quer que estivesse. Mas me contive. Achei que dar-lhe espaço fosse a melhor estratégia.
Hoje, porém, é diferente. Algo dentro de mim quebrou. Não posso mais esperar.
Pego as chaves do carro com determinação renovada. A sensação de agir é um alívio, mesmo que misturado à incerteza. Não sei como ela irá me receber, mas isso não importa agora. Emily precisa me ouvir, e eu preciso falar.
“Allah,” faço uma prece silenciosa, “ajude-me a consertar isso. Que ela ouça meu coração.”
Caminho até o quarto de Kayra e bato na porta. Ela demora alguns segundos para abrir, e quando me vê, solta o ar como se já soubesse o motivo da visita.
— O que você quer? — pergunta, apertando os lábios em sinal de contrariedade.
— Você tem visto Emily?
Ela arqueia as sobrancelhas, surpresa.
— Não estou entendendo. Você não terminou com Sila para ficar com ela?
— Sim... e não. É complicado.
— Bem, nem adianta me pedir para intermediar nada com ela, mesmo porque, ela não está indo ao curso.
Meu coração se aperta.
— Um dia você mencionou que ela trabalha em um banco. Que banco é esse?
Kayra cruza os braços, o olhar frio.
— Por que você não a esquece? Se ela não quer nada com você, melhor! Papai anda esperançoso de que isso seja fogo de palha, que você finalmente recobre o juízo. Ele me contou sobre sua promessa.
— Uma promessa de me casar com uma turca? — pergunto, ríspido.
Ela assente.
— Sim.
— Meus sentimentos por Emily são profundos, Kayra. Demorei para entender isso.
Ela me olha com descrença, como se eu estivesse falando em outra língua.
— Você sempre criticou mulheres como ela. Sempre pegou no meu pé, e agora isso?
— Posso entrar? Acho que devo algumas explicações. Minha cabeça tem estado um caos, e evitei essa conversa porque não sabia por onde começar.
Ela reluta, mas acaba deixando a porta aberta, como manda o costume, e se senta de frente para mim.
— Kayra, nem sei como dizer isso. É difícil até para mim entender. Os costumes que sempre defendi com tanta veemência, aqueles que nos foram impostos e que eu sempre zelosamente mantive... depois de conhecer Emily, eles não perderam seu valor, mas tornaram-se secundários.
Respiro fundo, buscando palavras.
— O que menos penso agora é nisso. Allah sabe como lutei contra meus sentimentos, depreciando Emily, essa mulher incrível que tanto me atrai. Antes de seduzi-la, mostrei a ela o quanto achava que éramos incompatíveis.
Kayra balança a cabeça, incrédula.
— E mesmo assim ela te quis? Allah!
— Assim como eu, ela viu algo em mim. Sei que esperava mais de mim, uma atitude que eu não tive. Nós éramos muito bons juntos, Kayra. É nisso que aposto todas as minhas fichas.
— Ah, eu imagino no que vocês eram bons. Allah! Foi só um bom sexo, Okan. Por que você não a esquece? Emily é livre demais, faz o que quer, veste o que quer. Como você vai lidar com isso?
Minha voz sai firme, sem hesitar:
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Romance Proibido
Fiz a compra e não desbloqueia para ler , falta de respeito com o leitor!!!...